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Brasília

Testado e aprovado

Arquivo Geral

11/07/2007 0h00

As seleções masculina e feminina de futebol dividiram ontem o gostinho de pisar e, melhor, treinar no grande palco do futebol dos Jogos Pan-Americanos: o Engenhão. As equipes fizeram o reconhecimento do gramado do Estádio João Havelange juntas, já que a programação precisou ser alterada. Os meninos deveriam entrar em campo às 15h30. As mulheres treinariam às 16h.

Mas justamente no horário marcado, o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa, fazia um comunicado às tropas da Força Nacional que vão trabalhar no evento. O local? O mesmo Engenhão. A solução foi esperar meia hora e depois dividir o campo em duas metades, uma para cada seleção.

O episódio mostra que a organização dos Jogos ainda precisa de ajustes, mas serviu para proporcionar um alegre encontro entre os atletas. No final dos treinos, as meninas posaram para fotos com os rapazes e não faltaram abraços e desejos mútuos de boa sorte.

O clima ficou ainda mais festivo diante da magnitude do Engenhão. Principal obra do Pan, o estádio encheu os olhos de todos e colheu elogios. “É coisa de primeiro mundo. Pensei que estava na Europa”, disse a atacante Kátia Cilene, com a segurança de quem sabe bem do que está falando: jogadora do Lyon, da França, ela atua há sete anos no exterior.

A impressão foi compartilhada pelas colegas que atuam no Brasil. A meia Grazielle, que nasceu no Gama há 26 anos, mas joga em Botucatu (SP), economizou nas palavras, mas foi direto ao ponto: “Perfeito, está tudo perfeito”. Carioca, o treinador da seleção feminina, Jorge Barcelos, foi além, e deixou transparecer a emoção de ver o Engenhão pronto para ser usado. “Fico emocionado, porque esse estádio é um benefício para toda a população do Rio de Janeiro. O treino foi excelente, o gramado está bom. Temos que bater palmas”, concluiu.

Para o técnico, o treino no estádio aumentou a expectativa para a estréia da seleção. O jogo – contra o Uruguai, amanhã, às 16h – também será no Engenhão. “A gente fica ansioso para chegar logo o dia do jogo”, revelou Barcelos.

Garotada animada

Do lado masculino, a empolgação não foi menor. Os garotos da seleção sub-17 ficaram encantados com a estrutura do estádio. “Sem torcida já está lindo, imagina quando estiver lotado”, avaliou o meia-atacante Lulinha, do Corinthians. Mais animado ainda estava o técnico Lucho Nizzo. Perguntado se o Engenhão se parecia com algum estádio brasileiro, o treinador não titubeou. “Parece os estádios da Coréia. Está maravilhoso”. A comparação é oportuna. No mês passado, a seleção comandada por Lucho venceu o Torneio Internacional Oito Nações, disputado na Coréia do Sul.

Opostos no mesmo gramado

A idéia de dividir o campo em dois, para atender às seleções masculina e feminina de futebol ao mesmo tempo, acabou explicitando as diferenças entre as duas equipes. Se entre as mulheres treinavam veteranas como a meia-atacante Pretinha, 32 anos, e atletas consagradas, como a atacante Kátia Cilene, que joga no Lyon, do lado masculino os mais velhos tinham 17 anos e as conversas giravam em torno do sonho de um dia atuar no exterior.

Com aparelho nos dentes e porte de garoto, Lulinha é o grande nome entre os garotos. Afinal, ele já faz parte do grupo de jogadores profissionais do Corinthians, enquanto os outros ainda lutam para se firmar em seus clubes. Mas todos, sem exceção, são promessas tratadas com cuidado extremo e enchem seus times com a esperança de bom futebol e cofres cheios. Na seleção feminina, a maioria das garotas já não precisa provar nada a ninguém, mas os preconceitos e dificuldades continuam.

A goleira Bárbara, por exemplo, joga no Sport Recife, mas não recebe salário e depende da família para continuar atuando. Com apenas 19 anos, ela espera que o Pan traga oportunidades a sua carreira. As mais experientes, no entanto, são descrentes. “As coisas melhoraram depois da medalha de prata nas Olimpíadas de Atenas (2004), mas não tanto quanto nós esperávamos. Espero que o ouro no Pan ajude mais”, confessou a meia-atacante Grazielle, que começou a jogar aos 12 anos, no Gama, e hoje defende o Botucatu.

Pretinha, que joga no time japonês Inac, também aguarda por dias melhores. “A gente procura fazer a nossa parte e espera que o futebol feminino possa crescer no País”, afirmou. A esperança é compartilhada pelos meninos, que, apesar da pouca idade, já mostram o bom senso que falta a muitos adultos. “Aqui no Brasil, a dificuldade no feminino é maior. A gente lamenta por isso”, resumiu Lulinha.

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