Rosana Jesus
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A comunidade carente do Distrito Federal, que depende do programa DF Sem Miséria para sobreviver, está há quatro meses sem receber o benefício. A falta de pagamento afeta diretamente as 58 mil famílias em situação de extrema pobreza. A Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (Sedestmidh) repete a mesma resposta desde maio deste ano: “as parcelas serão quitadas assim que houver disponibilidade financeira do governo”. O auxílio, que varia de R$ 20 a R$ 800, atende principalmente a Cidade Estrutural.
Saiba mais
- Os moradores da Estrutural recorreram ao Centro de Referência da Assistência Social (Cras) para tentar sanar o problema. No entanto, segundo eles, a unidade permanece fechada desde o mês de outubro.
- O DF Sem Miséria é um programa local de suplementação financeira
que atua no âmbito do Plano pela Superação da Extrema Pobreza.- O recurso é destinado a 73,8% das famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família no Distrito Federal, o que totaliza as 58,6 mil pessoas. Elas deveriam receber uma renda fixa mensal que depende da estrutura familiar.
“Eles nunca pagaram o nosso dinheiro em dia. Antes desse problema eles já atrasavam, e, quando decidem pagar, não liberam o retroativo”, diz Leia Alves Jesus. A dona de casa de 40 anos acrescenta que o benefício é a única fonte de renda da família de seis pessoas. “Sobrevivemos apenas com os bicos de ajudante de obras que meu marido faz. Isso quando encontra, porque às vezes nem isso conseguimos”.
Saúde
A dor de cabeça é parecida para Ane Caroline Mendes. “Temos sete pessoas aqui em casa, e o meu pai tem problema de saúde. Além de não poder trabalhar, temos que comprar os remédios”, relata a jovem de 20 anos. “Quando podemos, fazemos bico como catador, mas é um dinheiro que não dura muito por causa da quantidade de pessoas que precisam se alimentar”, completa.
Genesina Evangelista Cruz, 61, mora com o marido e mais cinco netos, e também reclama. “A única coisa que temos como garantia é esse benefício e o governo não mora aqui para ver nosso sofrimento. Por isso que ele corta”, acredita a catadora. “Meu marido é mais velho do que eu. Ele também não consegue trabalho e muito menos a aposentadoria. Estamos esquecidos, essa é a verdade”, conclui.
“Todo mês temos que comprar um remédio para um dos meus filhos, que tem problema de baixa estatura. Esse dinheiro é a única garantia que eu tenho para isso. Meu marido e eu não temos estudo e fica difícil conseguir emprego assim. E, para falar a verdade, esse benefício é liberado de qualquer jeito, eles não vêm aqui para saber onde moro e como eu vivo, apenas decidem se vai liberar ou não. Conheço muitas famílias que necessitam de verdade do dinheiro, que é pouco mas ajuda, e que até hoje não foram contempladas”, completa.
Requisito
Os beneficiários deve possuir renda mensal de menos de R$ 100. Esse grupo está sem receber, também, as parcelas referentes a fevereiro, março e maio de 2016. De acordo com Sedestmidh, no mês de outubro havia 88.528 famílias cadastradas no Bolsa Família, e 73% delas recebem o complemento.
O Jornal de Brasília revela os problemas do programa desde maio deste ano.