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Brasília

Setembro Amarelo: sempre há alguém que precisa de sua ajuda

Arquivo Geral

28/09/2018 7h00

Divulgação

Tainá Morais
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Quando você terminar de ler este parágrafo, uma pessoa terá se suicidado em algum lugar do mundo. Prevenir e conscientizar é uma atitude fundamental de solidariedade e cidadania, e os brasilienses também se engajam. No último dia 20, operários de uma obra da Brasal tiveram a oportunidade de ouvir e ser ouvidos pelo psicólogo Vitor Barros Rego, que divulga, por meio de palestras itinerantes, a campanha Setembro Amarelo, Prevenção ao Suicídio.

Segundo os dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. Entre essas, outras 20 tentam fazer o mesmo; e, todos os dias, uma média de 30 brasileiros tiram a própria vida. Diante de números tão alarmantes, Vitor Rego, que é mestre pelo programa de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília (UnB), alerta sobre a importância de abordar esse tema tão desconfortável.

“É uma campanha extremamente importante por dar a oportunidade às pessoas de não se entregarem ao problema”, destaca. “Quanto mais falarmos da problemática suicídio, mais ajudaremos as pessoas.” O objetivo da campanha foi repassar orientações de como evitar a depressão – responsável por um expressivo número de mortes autoinduzidas -, quais medidas tomar, caso aconteça, e também de como ajudar uma pessoa que, perante dificuldades, possa pensar em tirar a própria vida.

A palestra proferida pelo psicólogo também abordou os sofrimentos são comuns no ciclo de vida de uma pessoa e o que significa o fenômeno do suicídio, juntamente com suas características. “O suicídio é uma construção coletiva, de como aquela família lidou com aquela situação, por exemplo”, explica Rego. . “Nosso maior objetivo também foi fazer com que aquelas pessoas que estavam na palestra prestassem atenção em si próprias e também nas pessoas próximas”.

Matheus Albanez/ Jornal de Brasília


Números

20
pessoas tentam se matar a cada 40 segundos, segundo a OMS
30
média diária de brasileiros incluídos nessa estatística



Principais causas

A psicóloga Gláucia Flores, do Instituto de Oncologia Aliança, lembra que a depressão é uma das principais causas que leva alguém a cometer suicídio. “Não é a única. A solidão, pessoas que moram sozinhas e que apresentam problemas têm uma tendência maior em tentar o ato”.

Vitor aponta as situações que configuram problemas com dinheiro como outro fator que, desencadeando desespero, pode resultar em uma tentativa de suicídio. “A pessoa já está devendo e, além de procurar ajuda, ainda vai ter que pagar. Isso pode fazer com que alguém perca a cabeça”, diz.

Gláucia ressalta que, para ajudar, é importante tentar sondar, com as pessoas que mostram sinais de depressão, o que está ocorrendo. “Assim, aquele sujeito se sentirá mais à vontade em relatar e desabar tudo o que sente e, dependendo da conversa, pode desistir da ideia de atentar contra a própria vida”, ensina.

Matheus Albanez/ Jornal de Brasília

Mata mais que HIV

Para a OMS, já passou da hora de desvincular do conceito de “tabu” esse espinhoso assunto, pois o suicídio, de acordo com estudos recentes, mata mais que o HIV. No Brasil, para se ter uma ideia, aparece entre as maiores causas de morte em Brasília, que, segundo Vitor Rego, está em terceiro lugar nesse ranking assustador, conforme sinalizam pesquisas realizadas por profissionais da área de atendimento psicológico. Entre os fatores que podem despertar em alguém a vontade de tirar a própria vida, figuram mudanças de hábitos, ambiente familiar ou escolar e, normalmente em ambiente de trabalho, o assédio moral.

Sinais

Os sinais de iminência de cometer suicídio, atenta Vitor, são perceptíveis e exigem atenção de quem convive com alguém nessas condições. A mudança de comportamento, segundo ele, é um indicativo a ser observado. “Na verdade, só conseguimos identificar tendo uma conversa direcionada”, orienta. “Quando alguém que era ativo e colaborativo de repente muda esses modos, é recomendado ficar atento, pois pode ser uma porta que se abriu para que esse ser se torne depressivo”, enfatiza o psicólogo.

Superação, uma questão de iniciativa

Há quem desista da vida por causa de depressão. Mas também existem aqueles que desfrutam e tiram algo de bom de uma doença complicada. A história da escritora Georgiana Calimeris, 45 anos, é o exemplo de que vale a pena acreditar que nem tudo está perdido. Foi após vivenciar uma circunstância de desespero, afinal, que ela produziu um livro onde aborda, de forma franca e desprovida de qualquer preconceito, a vida de uma personagem que já tentou se matar.

Baseado em fatos reais, Georgiana conta em A biblioteca de Alexandria – A andarilha das estrelas como tudo começou e o que a fez desistir da ideia de se suicidar.

Diagnosticada com depressão desde a adolescência, Nana, como é conhecida, passou a fazer tratamentos e tomar medicações, mas, depois de um tempo, resolveu parar com os remédios – o que fez com que o quadro de depressão evoluísse.

“Quando parei, foi quando tentei me matar. Tomei vários remédios e me tranquei em um quarto. Em um certo momento minha mãe me chamou e disse que sabia que estava acontecendo alguma coisa de errado comigo. Quando ela entrou, me salvou”, relata a escritora.

A partir desse dia, Nana resolveu transformar toda a experiência em palavras para conscientizar as pessoas. “É importante falar sobre o assunto e deixar claro que a depressão é uma doença, acima de tudo”, destaca. “É o câncer da alma, e é complicado lidar com a doença.”

O maior medo de quem cai em depressão pela primeira vez é a insegurança que vem da possibilidade de pensar em “despencar” novamente. “O meu maior repúdio é voltar a ter a mesma depressão e lidar com a mesma situação de 15 anos atrás”, revela Georgiana.

Serviço

Se você se sente em situação depressiva ou conhece alguém que apresenta tendência de tirar a própria vida, vale saber que pode contar com ajuda gratuita. Com atuação em todo o território nacional, o Centro de Valorização da Vida (CVV) é um canal operado por voluntários que, logo de cara, se prontificam a ouvir. O atendimento é realizado 24 horas por dia, pelo telefone 188, sem custo de ligação. A entidade também atua com atendimento presencial, nos postos de atendimento. Informações detalhadas podem ser consultadas pelo site www.cvv.org.br, onde o usuário pode escolher em receber as instruções por chat ou por e-mail.

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