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Brasília

Secretaria de Saúde do DF investiga venda de cirurgias no HRT

Áudios obtidos com exclusividade pelo Jornal de Brasília mostram negociação realizada pela supervisora de emergências do HRT, Ruby Lopes

Arquivo Geral

27/05/2019 8h00

Atualizada 28/05/2019 18h47

Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Foto: João Stangherlin/Jornal de Brasília

Ana Karolline Rodrigues
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Um esquema de vendas de cirurgia dentro do Hospital Regional de Taguatinga é alvo de um processo administrativo instaurado pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, por meio da Superintendência da Região de Saúde Sudoeste. A negociação irregular envolve a supervisora de emergências do HRT, Ruby Lopes. Áudios obtidos com exclusividade pelo Jornal de Brasília mostram a profissional negociando materiais para um procedimento cirúrgico por R$ 350,00.

Nas gravações, a supervisora pressiona o paciente dizendo que valor cobrado seria apenas para pagar os instrumentos cirúrgicos, e que um suposto representante destes materiais estaria com ela naquele momento aguardando pelo valor. Procurada, Ruby assumiu intermediar cirurgias em hospitais particulares, mas nega negociações no HRT. No Brasil, onde existe o Sistema Único de Saúde (SUS) desde a Constituição de 1988, a saúde pública é totalmente gratuita, sendo proibido cobrar por qualquer procedimento.

Segundo fonte sigilosa do JBr. que tem acesso ao Hospital de Taguatinga, a servidora realiza os esquemas de venda afirmando a pacientes que o procedimento cirúrgico seria realizado no Hospital Santa Marta. De acordo com esta fonte, porém, no dia da cirurgia, ela relata que o médico irá atender no HRT. Questionada pela reportagem sobre estas vendas, Ruby inicialmente negou qualquer negociação. No decorrer da entrevista realizada por telefone – e gravada -, porém, a mesma confirmou que os áudios “podem existir”, mas que a ação intermediada por ela “com certeza é para rede particular”.

Ouça, a seguir, os áudios obtidos pela reportagem que apontam a servidora realizando uma negociação de cirurgia:

Áudio obtido com exclusividade pelo Jornal de Brasília
Áudio obtido com exclusividade pelo Jornal de Brasília
Áudio obtido com exclusividade pelo Jornal de Brasília
Áudio obtido com exclusividade pelo Jornal de Brasília
Áudio obtido com exclusividade pelo Jornal de Brasília

Além do cargo que ocupa no Hospital de Taguatinga, Ruby também é conhecida por ter sido a primeira mulher trans a trabalhar na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Lotada no gabinete da deputada Telma Rufino (PROS), a servidora trabalhou como assessora parlamentar fazendo consultoria em pautas das áreas LGBT e da saúde. Segundo ela, a mesma permaneceu no cargo político por dois anos, mas já não trabalha mais na área.

CLDF

Procurado, o gabinete da deputada Telma Rufino informou que a ex-servidora Ruby, foi lotada no gabinete da distrital no período de 20/03/18 a 01/01/19. Sobre as acusações, a parlamentar disse não caber a ela se manifestar a respeito, tendo em vista não ser de sua competência qualquer tipo de investigação nesse sentido, tal como não tratar-se de sua esfera administrativa. Contudo destaca que durante os oito meses em que esteve lotada em seu gabinete a ex-servidora desempenhou suas funções de forma que não houvesse nada que desabonasse sua conduta.

Exonerações

Como Ruby é uma mulher trans, sua nomeação para o cargo que ocupa no HRT, publicada no dia 6 de fevereiro de 2019, aparece no Diário Oficial do DF como Edson dos Santos, seu nome de registro. De acordo com a fonte que preferiu não se identificar, ela já foi exonerada do hospital pelo menos três vezes. Questionada quanto a estas exonerações, ela inicialmente negou, mas, durante a entrevista, disse que trabalha como servidora pública no local há dez anos e que “sempre que muda de deputado, ele exonera todo mundo do cargo, porque é cargo comissionado”.

Ainda segundo a supervisora de emergências do HRT, os motivos das exonerações decorrem de “fofoca” e da tentativa de alguns servidores que estariam querendo derrubá-la. “Fui exonerada, mas não foi sobre isso [vendas de cirurgias], foi fofoca, o povo com inveja fica fazendo fofoca”, afirmou. “Eu conheço muita gente que quer me derrubar”, completou.

Ruby Lopes, supervisora de emergências do HRT. Foto: Arquivo Pessoal.

Negociações em hospitais particulares

Em relação aos áudios obtidos pelo JBr., Ruby inicialmente negou que poderiam existir. Ao final da entrevista, porém, a servidora admitiu que estes se tratariam de uma venda para a rede particular. “Até eu to sem saída, porque não sei nem como esse áudio foi parar aí com a minha voz”, disse, primeiramente. No decorrer da conversa, ela afirmou, porém, que “pode ser para particular, pode existir”.

“Conheço tanta gente, eu sou bem conhecida. Vai que eu tenha mandado para um amigo meu no hospital para ser atendido e depois fazer a cirurgia? Mas eu não estou lembrada do dia”, se defendeu.

Novamente, então, a reportagem perguntou se a servidora já havia realizado alguma negociação de venda de cirurgia para hospital particular e a mesma respondeu que sim. Segundo ela, as “indicações” que faz são destinadas aos hospitais Santa Marta, Anchieta e Santa Lúcia. Questionada se nega todo tipo de venda, então, ela respondeu que “para hospital público, eu nego”.

Sobre as citadas “indicações”, ela detalhou que indica pessoas que a procuram. “Quando alguém precisa: eu falo procura tal pessoa”. “Já indiquei muita gente, agora se é para particular ou para público? Sim é para particular, tudo é para rede particular, porque público não existe isso”, disse, negando esquemas no HRT.

Santa Marta

Ainda que a venda fosse realizada apenas no Santa Marta, o hospital ressaltou ao JBr. que esse tipo de negociação no local só pode ocorrer diretamente entre paciente e instituição e que a mulher não possui nenhum vínculo com a entidade. Em nota, a instituição informou que “todo processo de orçamento e negociação de serviços hospitalares de cirurgias e internações particulares é realizado diretamente entre paciente e Hospital, sem a participação de intermediários”.

Veja, a seguir, a nota completa do hospital:

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