Não foi como Janeth sonhava. Mas a medalha de prata brilhou forte no peito emocionado. O ouro, ela admite, cintilaria mais. Porém, as justas homenagens feitas por torcedores, familiares, colegas, adversárias e dirigentes fizeram Janeth sair da quadra, pela última vez, com lágrimas de alegria nos olhos e a certeza do dever cumprido não só ontem, quando a seleção brasileira feminina de basquete ficou com a medalha de prata no Pan do Rio ao perder jogo parelho para os EUA (79 x 66), mas durante os 25 anos em que dedicou-se ao esporte.
Na arquibancada, torcedores agradeceram à veterana ala com frases estampadas em cartazes. “Majestade Janeth, obrigado por tudo”, dizia um deles. Na hora de retribuir o carinho, após ter jogado a última partida com a camisa da seleção brasileira de basquete, Janeth invocou outro monarca para resumir a longeva carreira. “Se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”, cantou, com a voz trêmula, ao pegar o microfone para falar aos milhares de torcedores que a prestigiaram.
Ontem, ela chorou. Não só pela felicidade de ver a arena inteira gritando seu nome, mas pelo ouro perdido no final. “A emoção foi pela despedida, nem tanto a medalha. Fiquei um pouco chateada, sim. Mas disse para as meninas que, até pelo jeito que aconteceu, não era para ser nosso. Mesmo assim, fico contente por ter jogado com uma geração tão promissora”, agradeceu.
Bem mais novas, as colegas de seleção reuniram todas as qualidades que elas vêem na ala em camisetas feitas especialmente para homenageá-la. Na cerimônia de entrega de medalhas, cada uma vestiu camisa com uma foto diferente de Janeth e um substantivo escrito embaixo, para expressar a importância da ala não só no Pan, mas em toda a história do basquete feminino no Brasil. Garra, seriedade, superação eram algumas das palavras exibidas. Na camiseta que entregaram a Janeth, as meninas mandaram imprimir a síntese de tudo isso: “Insubstituível”.
“Temos de agradecer à Janeth por tudo que ela fez por nós. Se hoje o basquete feminino brasileiro está sempre entre os cinco melhores do mundo, é por causa dela, da Paula, da Hortência”, reverenciou a armadora Adrianinha.
Emocionada com o carinho, a ala fez questão de dizer que acredita em um futuro de sucessos para a seleção. “Elas me pegaram de surpresa com a homenagem. Mas não sou insubstituível. Elas agora terão que pegar mais experiência, vão ter que saber se virar. Mas acho que vão se sair bem. Acho que a seleção vai se tornar uma equipe mais coesa”, vislumbrou Janeth.
Com uma bolha no pé que a incomodou durante o jogo e acabou em carne viva, a jogadora admitiu: “Estava muito cansada durante o jogo, mas me motivei com os gritos da torcida e acho que consegui ajudar o time. Agora, vou começar novo capítulo na minha vida, com outros objetivos”.
Filme do Pan de 91 na cabeça
Durante o adeus à seleção brasileira de basquete, Janeth relembrou o passado para falar do futuro. “O filme que passou na minha cabeça teve tudo: o ouro no Pan de 91, a conquista do Mundial de 94, os títulos na WNBA, que abriram portas para outras brasileiras, e essa prata, nessa quadra tão boa e com essa torcida maravilhosa”, revelou. Ao se despedir, pediu: “Quero ser lembrada como atleta que sempre foi simples, clara, legal com o público, dedicada, que não é de falar muito, mas de fazer”.
As qualidades são as mesmas que ela pretende levar para fora das quadras, em um futuro ligado ao esporte. “Talvez eu trabalhe como dirigente, técnica, comentarista. Ainda não sei. Por enquanto, estou gostando de comentar”, revelou Janeth.
Vigor yankee detona o Brasil
O dia era de festa. Milhares de torcedores tomaram quase todos os lugares da Arena Multiuso, na Barra da Tijuca, para apoiar o Brasil na busca pelo ouro no basquete feminino e assistir Janeth pela última vez com a camisa da seleção.
Mas, para a tarde ser perfeita, esqueceram de combinar com as americanas. Com um time formado por universitárias, todas abaixo dos 20 anos, os EUA derrotaram o Brasil por 79 x 66 e levaram o ouro.
Não foi por falta de incentivo. A torcida fez barulho, aplaudiu, gritou o nome das jogadoras e tentou atrapalhar as norte-americanas. Com tanta ajuda, o Brasil começou bem: venceu os três primeiros quartos e deixou a impressão de que, no último, embalaria.
]Mas o que se viu foi a superação norte-americana. Meninas como Mattee Ajavon, a cestinha do jogo com 27 pontos, e Angel McCoughtry, autora de 17, chamaram a responsabilidade no último quarto e passaram à frente do marcador antes dos dois minutos. A partir daí, dominaram o jogo e ampliaram a vantagem.
Incentivada pela torcida, a seleção tentou reagir nos minutos finais, quando perdia por sete pontos. Mas arremessos que nem tocavam o aro, e fragilidade na defesa impediram.
As americanas aproveitaram o nervosismo e deram show. Penetrações no garrafão, tentativas de três pontos e arremessos de qualquer lugar da quadra resultavam em cestas.
Diante do volume de jogo yankee, as brasileiras desistiram. No minuto final, assistiram as americanas fecharem o jogo com 13 pontos de diferença. Placar que não fez jus ao equilíbrio da partida. A treinadora americana, Dawn Staley, destacou a garra de suas meninas. “Nossa equipe é jovem, mas, mesmo com a pressão, reunimos forças para conquistar o ouro no final”.
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