Menu
Brasília

Risco ignorado, tragédia anunciada em Corumbá III

Arquivo Geral

25/02/2014 7h08

O naufrágio em Corumbá III, que resultou na morte de sete pessoas de uma mesma família, foi apenas um dos exemplos de como a imprudência ao entrar na água, seja nadando ou em um barco, pode ser fatal. Segundo o 5º Batalhão Bombeiro Militar de Luziânia (GO), no lago Corumbá III e IV  foram registradas 11 ocorrências de acidentes em 2013,   seis delas fatais. Na região atendida pelo grupamento, que também engloba a Cidade Ocidental (GO), apenas nos dois primeiros meses deste ano já foram atendidos quatro chamados, todos com mortes.

No trecho do Corumbá III, onde houve os sete afogamentos, outras duas pessoas já morreram em 2014. Ambas eram banhistas e desapareceram da vista de amigos e familiares antes de serem encontradas, horas depois, sem vida. O rio, que tem mais de 500 km de extensão, foi represado há cerca de dez anos e dividido em setores. Desde então, é utilizado como área de lazer por diversas famílias.

“A região é excelente para entretenimento. O problema é que o pessoal não está seguindo as regras de segurança”, aponta o capitão Juliano Borges, do 5º Batalhão de Luziânia (GO). “A tendência é que eventos como esse aconteçam com mais frequência. A margem do rio tem sido loteada e condomínios são  feitos. Muitas vezes, essas pessoas não estão preparadas para lidar com ambiente aquático”, avaliou.

Para o Carnaval, na próxima semana, a Marinha vai intensificar ações de fiscalização e patrulhamento nessa região, com objetivo, principalmente, de conscientizar os usuários quanto a uso de equipamentos de segurança e tomada de ações preventivas de acidentes. Os bombeiros de Luziânia (GO) devem reforçar essa ação.

Bebida alcoólica

O tenente da companhia de Salvamento Aquático dos Bombeiros do DF, Pércio Moreira, alertou a população para o  risco ao se aventurar em qualquer tipo de bacia d’água. “A melhor forma de prevenir afogamento é atenção e não ingerir bebida alcoólica antes de nadar”, advertiu Moreira. Segundo ele, dois casos de afogamento já foram registrados devido a essa imprudência em 2014, ambos na prainha do Lago Norte.

Saiba Mais
Em Brasília, os casos de afogamentos aumentaram   de 2012 para 2013. Segundo o Corpo de Bombeiros, as ocorrências subiram de 53 para 62. Ainda não há registro para esse ano.
As Forças Armadas fazem patrulhamento no Rio Corumbá de dois em dois meses. O último aconteceu em janeiro, quando foram feitas rondas por cerca de uma semana.
 
Embarcação irregular
Com o avanço das investigações, surgem mais indícios de irregularidades no caso do naufrágio em Corumbá III: a embarcação   estava com o registro junto à Capitania Fluvial vencido. Além disso, conforme  o Jornal de Brasília mostrou ontem, superlotação e falta de coletes salva-vidas e de habilitação do condutor resultaram na tragédia. O piloto do barco, Januário Silva dos Santos,  de 53 anos, não tinha arrais, obrigatório para conduzir o barco.
 
A Marinha informou que uma equipe de Inspeção Naval da Capitania Fluvial de Brasília foi ao local do acidente ontem para recolher material de investigação sobre o caso. Um Inquérito Sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) deve ser instaurado e o resultado será divulgado em até 90 dias.  
 
Colete
 
O capitão Juliano Borges, de Luziânia (GO), destacou a importância – e obrigatoriedade – do uso de colete salva-vidas, especialmente ao embarcar em uma canoa. “O uso do colete poderia ter salvado a vida de todos os membros dessa família vitimada”, lamentou.
 
Dicas de segurança 
Para o banhista
 
Para tripulantes de barco

1 Identificar a área de banho e não entrar em qualquer local. Essa área tem que ser delimitada por boias, para não haver mistura de banhistas com embarcações. 
 
2 Verificar se o leito não é escorregadio.
 
3 Não nadar após ingerir bebida alcoólica. Os movimentos da pessoa podem ficar debilitados com o consumo de álcool e favorecer que ela engula água e sofra uma parada cardiorrespiratória.
 
 Para tripulantes de barco
 
1 Certificar-se de que a embarcação está apta a ser usada e saber se o condutor possui, ao menos, arrais (documento que o habilita a conduzir embarcações).
 
2 Vestir colete salva-vidas, independentemente de saber nadar ou não, e de qual idade a pessoa tenha. Em canoas, o uso é obrigatório, regulamentado por lei.
 
3 Caso alguém caia da embarcação ou seja encontrada em situação de afogamento, procurar um objeto flutuante para que ela se agarre. Resgates corpo a corpo devem ser evitados, pois o desespero da pessoa se afogando pode vitimar inclusive a outra que tenta salvá-la.
 
Velório comovente
Muito sofrimento e comoção marcaram o enterro das sete vítimas do naufrágio da canoa. Todos os envolvidos na tragédia eram da mesma família e moravam em Santa Maria. Outros quatro tripulantes que também estavam na embarcação conseguiram sobreviver, entre eles, o condutor da embarcação. 
Os corpos das vítimas foram enterrados na tarde de ontem, às 17h30, no cemitério Parque Memorial, em Novo Gama (GO), na Região Metropolitana do Distrito Federal. Aproximadamente 400 pessoas entre familiares e amigos acompanharam o sepultamento. Ônibus fretados e vans chegavam a todo momento ao local para dar apoio e confortar os familiares. O clima, porém, era de muita tristeza e angústia por parte dos familiares. 
Prantos
A avó da família vitimada, conhecida carinhosamente como Dona Peta, estava aos prantos durante todo o velório. Tremendo e com a pressão baixa, ela precisou ser levada à enfermaria do cemitério para receber atendimento.
Dona Peta perdeu os quatro netos, dois filhos e o sobrinho, que moravam com ela em Santa Maria. “Não é possível que isso tenha acontecido comigo. É muita tragédia para uma pessoa só. Meus Deus, não vou aguentar”.
 
Familiares passam mal em enterro
Além de Dona Peta, outra avó das crianças também estava bastante abatida durante o enterro dos familiares. Ela precisou ser medicada com calmantes. Um amigo da família disse que uma das avós teria falado em tirar a própria vida após o incidete. Já a mãe de três crianças que morreram na tragédia teve que ser levada embora carregada por parentes.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, a embarcação teria virado depois que uma das vítimas mortas, Rúbio Ribeiro da Silva, 27 anos, jogou água na sobrinha Sara dos Santos, 16 anos, também morta no acidente. Ela não teria gostado da brincadeira e impulsivamente se levantou do barco, que balançou e virou com os onze. Só duas das 11 pessoas envolvidas na tragédia sabiam nadar. O condutor da embarcação e Sandro Vieira dos Santos, 31 anos, conseguiram chegar às margens do lago para pedir ajuda.
Pedro Henrique Ribeiro da Silva, de apenas seis anos, era o único que vestia colete salva-vidas. A mãe dele, Joseane Rodrigues da Silva, de 24 anos, conseguiu se agarrar ao menino e flutuou com ele até uma das margens. Os dois sobreviveram, mas o marido e uma filha de Josena não conseguiram se salvar.
Sem álcool
Diversas irregularidades foram encontradas. Homens do Corpo de Bombeiros afirmaram que a embarcação suportaria até cinco pessoas. No barco, eles também encontraram vestígios de bebida alcoólica. Ainda assim, os exames do bafômetro não constataram teor acima do permitido de álcool no sangue do condutor da canoa.
 
 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado