O projeto RAP (Ressocialização, Autonomia e Protagonismo) – que ajuda jovens que cumprem ou já cumpriram penas por atos infracionais na Unidade de Internação de Santa Maria, no Distrito Federal – é um dos finalistas do Prêmio Espírito Público, maior premiação concedida a servidores públicos no país.
O projeto usa a música e a poesia do rap como ferramentas pedagógicas para promover os valores da cultura de paz e dos direitos humanos. Em 2015, o servidor público Francisco Celso Leitão começou a desenvolver o projeto, com a convicção de que a cultura e a educação poderiam transformar vidas.
O programa hoje contribui para a redução da reincidência juvenil e para a inclusão dos jovens no mercado musical. Segundo Francisco, que é professor de História e especialista em Educação Inclusiva da Secretaria de Educação do DF, cerca de 1.500 jovens foram acompanhados após o cumprimento de suas sentenças.
Na Unidade de Santa Maria, 80% dos internos se autodeclaram negros e 100% são moradores de regiões periféricas do DF e entorno. Francisco afirma que os jovens se identificam com o rap por ser um ritmo negro surgido nas periferias da Jamaica, que denuncia mazelas sociais semelhantes às enfrentadas no Brasil.
Segundo o servidor, ao perceber que os socioeducandos não se identificavam com as histórias dos livros didáticos, mas sim com as letras de rap, o projeto adotou o gênero como meio educativo. Ele conta também que cada professor aborda direitos humanos, diversidade e sustentabilidade em suas disciplinas, o que ajuda os jovens a produzirem suas próprias letras.
Do crime à cultura
Dentro da unidade de internação, os jovens participam de diversas atividades, como o sarau “Dá a Voz”, a roda de conversa “Abre a Roda”, o cine-debate “RacioCine”, o festival musical “No Ritmo da Socioeducação” e a batalha de poesia falada “SlaMais Direitos”.
O projeto também conta com um estúdio, o Quartn dos Beatz, onde ocorrem as gravações.
“O projeto tem o objetivo de fazer com que os jovens saiam do círculo vicioso da vida infracional e sejam inseridos no círculo virtuoso, deixando a cultura do crime para atuar na música, gerando renda e afastando-se do que o levou à vulnerabilidade”, diz Francisco.
Quando terminam de cumprir a pena por atos infracionais, o perigo aumenta. Muitos relatam que, ao voltarem para a casa, têm de enfrentar a realidade da vida que levavam antes da internação.
“Todos são de extrema vulnerabilidade. Vivem em locais onde a criminalidade é alta. Muitas vezes, a família inteira é envolvida com o crime. São pessoas que sofreram várias formas de violência, desde os primeiros anos de vida. Reproduzem violência, porque foi a pedagogia ensinada a eles”, analisa o servidor.
Renda e ressocialização
Para romper o ciclo de violência, o programa mantém o acompanhamento dos egressos, alguns desde 2018. Os educadores oferecem ferramentas para que os jovens se profissionalizem por meio da cultura criativa.
Francisco afirma que não há ressocialização sem renda. O projeto oferece emancipação aos jovens, aumentando a autoestima, melhorando a escrita, a oralidade, o poder de argumentação, a expressão corporal e, acima de tudo, gerando renda.
“Temos ampliado as nossas parcerias com órgãos governamentais e não governamentais para oferecer oportunidades. Agora, temos também o Sebrae. A ideia é que o projeto vire política pública e que seja levado para outras seis unidades do Distrito Federal”, conclui o servidor público.
O Prêmio Espírito Público, que está na 6a. edição, reconhece e valoriza profissionais públicos e é realizado pela parceria Vamos.