Os Eixos Norte e Sul do Plano Piloto são o ponto de encontro da cultura, da gastronomia e do esporte para o lazer da população nos domingos e feriados. Neste último domingo (27) os produtores culturais e comerciantes ocuparam a via rodoviária do Eixão pela primeira vez depois da publicação do novo Plano de Uso e Ocupação do Eixão do Lazer no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF). O projeto tem muitas regras e proibições a serem seguidas para o funcionamento correto do evento gratuito.
As duas leis que autorizam a comercialização de bebidas alcoólicas e Food trucks foram aprovadas pela Câmara Legislativa. Mas para a atividade estar devidamente legalizada, ainda falta a sanção do governador Ibaneis Rocha. Mas como apontou o comerciante Glauber Carvalho Cruz, nesse domingo foram realizadas panfletagens com orientações sobre o plano de ocupação. “Por enquanto foi só isso, não teve nenhum impedimento e nenhuma orientação mais formal”.
Glauber é representante da choperia artesanal local Bracitorium que atua no Rock no Eixão. Para ele, tem muitas coisas no plano de ocupação que precisam ser melhor esclarecidas para os comerciantes e agentes culturais. “Por exemplo, não pode ter banner comercial ao longo da área verde ou da via”. O empresário acredita que o plano tem pontos positivos, apesar disso, como a regra de que todo o espaço utilizado tem que estar limpo e ser entregue até as 18h, para abrir o Eixão novamente. “Tem que funcionar dessa forma mesmo. E esse cadastramento que precisa ser feito agora, também é importante para ter um controle de quem está realizando o comércio e quem está por trás da estrutura da manifestação cultural”.
A produtora cultural Hosana Coelho tem esperança que o governo vai entender a necessidade e obrigação que o poder público tem de disponibilizar os banheiros químicos. “Independente de ser ambulante, de ser da cultura ou de qualquer coisa, no Eixão existem pessoas que precisam de estrutura. Além disso, tem a questão da segurança e da limpeza do espaço”.
Ajustes necessários no plano

O proprietário da cervejaria Cruls, Thiago Padilha Peixoto, que atua há três anos no Choro no Eixo, contou que as agendas culturais que ocuparam as vias rodoviárias neste último domingo estavam operando de forma normal. Mas segundo ele, nas próximas semanas os produtores culturais e os comerciantes, junto com o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-DF), vão participar de várias reuniões para discutir o plano de uso e ocupação.
Thiago acredita que na semana que vem, as fiscalização já devem começar, mas o proprietário da choperia aponta um exemplo que precisa de ajustes: “Nós não podemos colocar o carro em cima do gramado, por exemplo. E eu tenho alguns equipamentos que ao total devem pesar mais ou menos uns 700 quilos. Eu tenho que deixar o meu carro lá na tesourinha e trazer esses equipamentos na mão”. Thiago acredita que isso precisa ser ajustado de uma forma que atenda a todos, porque é muito bom poder trabalhar com regras bem definidas. “Tem pessoas aqui que trabalham e precisam dos equipamentos, mas também precisam de algum apoio para poder conseguir carregar essas coisas”.
Passo importante
Márcio Marinho, músico e produtor cultural do Choro no Eixo que está sendo realizado aos domingos na 207 Norte, apontou que o plano de ocupação tem um trecho que proíbe fincar ou furar o chão para colocar tendas. Entretanto, a tenda utilizada pelo Choro é 10×10, caso não seja fincada no chão e bata um vento forte, pode causar um acidente. “Tem coisas nesse plano que não se aplicam ao Eixão, que não está de acordo com a nossa realidade, entre outras coisas que a gente tem que debater”.
Porém, Márcio frisa que a publicação do plano de ocupação já é um passo muito importante para todos os envolvidos. “Porque liberou a bebida alcoólica, liberou coisas para que a população possa se divertir, já que não se trata mais rodovia quando fecha, e é injusto deixar os postos de gasolina venderem bebidas e cigarro, mas não deixar os pequenos comerciantes venderem”. E com isso, ele apontou que veio uma proibição benéfica: “Acho que proibir a venda de garrafas é importante para a segurança”.
Márcio espera que a conversa entre o poder público, os produtores e comerciantes continue, porque a ideia do Eixão é aperfeiçoar e replicar o modelo de lazer democrático para as outras regiões administrativas. “O Eixão é esse presente cultural que nós estamos construindo em Brasília.
No domingo, o Choro estava disponibilizando junto com o Rotary Club, um projeto de saúde pública, com uma barraca de vacinação completa. “Eu mesmo já tomei três vacinas nesse domingo”, comentou Márcio.
O bartender Barry Freitas, 28 anos, trabalha em uma stand de drinks no Choro no Eixo. Para o comerciante, agora que está aprovado vender bebidas por lá, as coisas estão mais tranquilas. “Porque antes, fomos tratados igual a um animal quando teve a fiscalização em setembro”. Ele está receoso quanto à proibição de venda de materiais perfurocortantes como as garrafas de vidro. “A dúvida é se vão proibir ter a garrafa exposta ou se vão proibir só a long neck. De todo modo, vamos ter que nos adaptar”.
Lazer democrático

Erika Ribeiro, 42 anos (D), sempre vem correr nas vias do Eixão, em seguida ela gosta de curtir uma música enquanto toma chopp. Neste domingo, a bancária trouxe a amiga Indiara Flores , 38 anos, que também é bancária, para conhecer a programação cultural pela primeira vez. “Achei tudo muito de família, um evento bem eclético que tem de tudo um pouquinho”, comentou Indiara.
Para Indiara é essencial que o Eixão sempre reúna várias tribos, famílias e programações de lazer. “E Brasília é carente de coisa gratuita, então isso daqui é válido”. Erika complementa que poder comer, beber e se divertir nesse espaço democrático é muito válido.
Direto do Belém do Pará, a engenheira de telecomunicações Jhessica Rosendo está morando em Brasília desde maio e está sempre no Eixão do Lazer aos domingos. Jhessica conheceu o evento junto de Fhair Rodrigo, 31 anos, engenheiro civil, que sempre quando vem a visitar, faz questão de comparecer ao Choro no Eixo.

“Eu me apaixonei na hora que botei o pé no Eixão pela primeira vez, porque de onde eu vim, não tem muito isso e quando me deparei com várias coisas turísticas e comida boa, não teve jeito”, contou Jhessica.
A engenheira acredita que esse evento seja o sustento de muita gente que ali estava com os stands de alimentos e bebidas. “E de uma firma geral, considero que o governo deve olhar para a população que aproveita um dia da semana, tem gente que trabalha seis dias e tira um para vir com os filhos e tudo mais”. A paraense destaca que esse lugar é muito importante para a cultura Brasiliense.
Fhair acrescentou que o eixão é uma das coisas favoritas dele na capital. “Quem dera se tivesse isso em Belém”. Os dois sempre tiram o dia para andar de bicicleta e depois aproveitam um chopp enquanto curtem o chorinho.