Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2021, mostra que 8,4% da população brasileira acima de dois anos possui algum tipo de deficiência. A marca representa 17,3 milhões de pessoas. O estudo também aponta que 7,8 milhões, ou 3,8% da população acima de dois anos, apresentam deficiência física nos membros inferiores, enquanto 2,7% das pessoas têm nos membros superiores. Já 3,4% possuem deficiência visual; e 1,1%, deficiência auditiva. Outros 1,2%, o que corresponde a 2,5 milhões de brasileiros, possuem deficiência intelectual.
Diante disso, uma pesquisa realizada por estudantes de Fisioterapia do Centro Universitário de Brasília (CEUB) Bruna Ferreira e Gabriel Ulysses, constatou que a equoterapia pode auxiliar na evolução motora e intelectual de crianças com autismo. A mostra aponta diversos benefícios da prática terapêutica na rotina destes praticantes. O universo dos tratamentos terapêuticos se expande a cada dia. Aliados à ciência, os métodos incluem tradições milenares, contatos com a natureza, entre outros fatores que estimulam o bem-estar na mente e no corpo humano. No DF, até o ano passado, de acordo com o chefe de gabinete da Secretaria da Pessoa com Deficiência, Alisson Dias, a estimativa é de que tenha, pelo menos, 15 mil pessoas com o transtorno.
A equoterapia
“Tivemos a ideia de comparar, principalmente, o estresse parental e a qualidade de vida familiar. A melhora do filho repercute na qualidade de vida e no estresse da família de uma pessoa com deficiência? Investigamos também a melhora na vida do cuidador”, explica Alessandra Vidal Pietro, que está à frente da orientação do projeto acadêmico, e é professora de Fisioterapia do CEUB. A equoterapia é um método terapêutico que utiliza o cavalo como facilitador, de modo interdisciplinar, visando o desenvolvimento biopsicossocial de seus praticantes.
A professora, que acabou de se aposentar na equoterapia, conta ter uma relação muito íntima com o tema. “Trabalhei 14 anos na Associação Nacional de Equoterapia. Então este é um tema que representa minha vida. Foi minha prática durante longos anos e é algo que amo muito”, comenta. Ainda como conta Alessandra, quando entrou no UniCEUB, em 2019, vários alunos, sabendo dessa paixão, a procuraram para fazer trabalhos de iniciação científica. “A gente tinha ideia de comparar, principalmente, o estresse parental e a qualidade de vida familiar, pois sabemos da efetividade da equoterapia na força, no equilíbrio, na coordenação motora, e isso já está documentado”, pontua. “Mas eu sempre tive uma vontade de entender porque e o que que essas mudanças nas crianças poderiam ajudar na qualidade de fica e no estresse que uma família de alguém com alguma deficiência passa”, compartilha a docente.
Em 2019, como ela conta, a ideia era comparar um grupo de crianças e seus pais/cuidadores que faziam a equoterapia, com um grupo de crianças que faziam fisioterapia tradicional. Infelizmente não foi possível conseguir esse comparativo pois, em março de 2020, a pandemia tomou de conta do país e do mundo “e isso atrapalhou nossa pesquisa. No entanto, foi possível observar que do início da coleta dos alunos para o final houveram melhorias em todos os âmbitos”, acrescentou.
O processo engloba fatores físicos, comportamentais, funcionais e sociais através do movimento natural do cavalo. Nesse sentido, o estudo foi desenvolvido para verificar a efetividade do tratamento de estresse parental, força muscular e mobilidade de crianças com deficiências. A mostra analisou uma série de casos de crianças do sexo masculino, na faixa etária de 3 a 13 anos de idade, portadoras de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Para realizar o estudo, foram aplicados questionários por meio das metodologias Pediatric Quality of Life Inventory (PedsQL), qualidade de vida relacionada à saúde infantil, e Parenting Stress Index (PSI), que identifica e prevê possíveis problemas de comportamento dos pais e dificuldades de adaptação que podem levar a problemas de comportamento da criança. Em ambos os índices, houve uma melhora na avaliação após a equoterapia. No PedsQL, a média caiu de 35 para 28, o que indica progresso. Já o PSI passou de 125 para 116. Nos dois casos, a média é considerada positiva do maior para o menor número.
Já para avaliar a mobilidade dos atendidos, os pesquisadores utilizaram a Escala de Avaliação de Mobilidade para Equoterapia (EAMEQ), em relação à forma de montar, conduzir, manter e mudar sua posição sobre o cavalo. O método foi aplicado por voluntários nos Centros de Equoterapia Pietra César, em Brasília, no início da pesquisa e ao longo dos meses, para observar o progresso durante o tratamento. O resultado foi considerado positivo em todos os praticantes avaliados na mostra. A média de progresso saltou de 55,37 para 62,33. Para esta escala, as notas positivas são dadas de modo crescente.
Ainda segundo a docente, durante e após o período da pesquisa, foram observados melhorias, tanto no ponto de vista do bem-estar da família, até a mobilidade. “A expectativa é partir para a Associação Nacional de Equoterapia de Brasília para darmos continuidade aos estudos de redução de estresse parental e qualidade de vida familiar e popularizar os benefícios da prática, para que mais famílias e crianças possam ter acesso”.
Um dos autores da pesquisa “Efetividade da Equoterapia na qualidade de vida, estresse parental, força muscular e mobilidade de crianças com deficiências”, o estudante de Fisioterapia Gabriel Ulysses, de 22 anos, comemora. “A mostra foi o pontapé para comprovar os benefícios de mobilidade, aumento da qualidade de vida e diminuição do estresse parental dessas crianças”, salientou.