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Brasília

Pelúcia de polvo é usada para entreter bebês prematuros internados

Projeto começou em 2017 e distribui mensalmente cerca de 330 polvinhos feitos de crochê em hospitais públicos e privados

Redação Jornal de Brasília

09/05/2022 20h14

Acalentar e levar conforto aos recém-nascidos prematuros internados nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (Utins) do Distrito Federal. Esse é o objetivo do projeto Polvo de Amor, em que pequenos polvinhos feitos de crochê são colocados no berços dos bebês internados.

A coordenadora médica da UTI Neonatal do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib), Sandra Lins, informa que o polvinho de amor contribui para acalmar o recém-nascido prematuro. Ela ressalta que no Hmib há uma grande quantidade de bebês prematuros extremos e de recém-nascidos cirúrgicos, pois o hospital é referência nesses casos.

Todas essas crianças recebem o polvinho de amor quando estão clinicamente estáveis. A cabeça do animalzinho relembra a placenta da mãe e os tentáculos fazem referência ao cordão umbilical. Quando em contato com o polvo, a criança sente a aproximação do útero materno, ajudando a mantê-la mais calma.

“A simbologia do polvinho de amor é muito grande e tem função terapêutica, porque o recém-nascido precisa de alguma coisa para se encostar e segurar, então os tentáculos servem para ele segurar e ficar mais tranquilo, com isso puxa menos o acesso venoso e a sonda da boquinha”, explica. A médica explica que os bebês têm necessidade de se agarrar em alguma coisa. “Ao invés de puxar a sonda e o catéter, colocamos ele para pegar no tentáculo. Além do aconchego de ter o polvinho encostado nele, seja nas costas ou cabecinha, sempre se sentirá em um lugar de acolhimento, pois ainda tem o ninho que eles são colocados”, completa.

Sandra relata que para a mãe, o polvinho de amor também tem sua função, pois ela se sente lembrada, importante, compreendida no sentido em que o filho recebeu um presente da equipe que foi dado por tantas outras pessoas.


A cabeça do animalzinho relembra a placenta da mãe e os tentáculos fazem referência ao cordão umbilical. Foto: Sandro Araújo – Agência Saúde DF

“Essa mãe se sente acolhida em sua angústia e dor. Já para a equipe que trabalha na UTI neonatal o polvinho de amor tem seu valor, colore a unidade, sensibiliza e permite que aquele lugar que necessita de condutas tão difíceis, tenha na simbologia do animal a doçura da infância e da cor, isso também tem um significado para nós enquanto equipe”, avalia.

Neste mês de maio, o projeto Polvo de Amor doou 60 polvinhos para o Hmib. Todos eles são higienizados e esterilizados corretamente antes de serem doados aos bebês prematuros. Esses cuidados asseguram que os recém-nascidos não corram risco de infecções.

A coordenadora médica da UTI neonatal do Hmib diz que uma parceria com uma lavanderia do DF possibilita a esterilização dos polvinhos por um valor menor. Em contrapartida, o hospital compra e entrega os sacos plásticos para os polvos serem embalados. É assim que os animaizinhos de crochê são doados às mães dos recém-nascidos.

“A partir de então é a mãe que assume o protocolo de higiene, fizemos um manual ensinando como deve ser feita a limpeza. Quando a mãe não tem condições de levar para casa e fazer essa higienização, nós trocamos por outro polvinho e encaminhamos para a lavanderia o que precisa ser limpo. Existe a doação de amor e todo um cuidado técnico de higiene para que esse bebê tenha segurança. Após a alta hospitalar, o bebê leva seu polvinho de amor para casa como uma lembrança”, informa Sandra.


Todos os polvinhos de amor são fruto de doação, tanto dos materiais utilizados para confecção como do trabalho realizado pelas voluntárias, como Rutiene Dantas. Foto: Sandro Araújo – Agência Saúde DF

Iniciativa voluntária

O projeto Polvo de Amor começou em 2017. Márcia Elisabeth Moreira (in memorian) era artesã na Feira da Torre e foi a responsável por iniciar o grupo Polvo de Amor, em Brasília. A primeira criança beneficiada pelo projeto no Distrito Federal foi Benício. Ele teve o polvinho de amor confeccionado por Márcia em abril de 2017. Depois do primeiro polvo e a história do bebê ela viu que deveria nascer ali um projeto para beneficiar muito mais bebês prematuros do DF.

Ao longo deste cinco anos já foram doados mais de 10 mil unidades de polvinhos de amor. “Entregamos cerca de 320 ou 330 unidades por mês nas UTIs neonatais de hospitais públicos e privados do Distrito Federal. Na rede pública, também distribuímos toucas e sapatinhos. É um projeto repleto de muito amor por todos os envolvidos”, explica Celeste Sousa, voluntária.

Hoje, o projeto Polvo de Amor possui cerca de 70 voluntárias de todo o DF e entorno. As doações são entregues nos hospitais regionais de Sobradinho (HRS), Santa Maria (HRSM), Ceilândia (HRC), Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) e nos hospitais privados Santa Marta, Santa Lúcia, Santa Helena, São Francisco, Santa Luzia e Maternidade Brasília. Quando tem algum bebê prematuro na Utin do Hospital Anchieta a equipe de lá entra em contato para solicitar o artesanato.

“Procuramos atender todas as UTIs neonatais do DF. As de maior rotatividade e demanda são a Maternidade Brasília e o Hmib. Quem vê este polvinho simples não imagina a dimensão do projeto. São muitas pessoas e muitas histórias. Nestes cinco anos, só deixamos de entregá-los durante o pico da pandemia. Ficamos nove meses paradas”, explica a voluntária Rutiene Dantas. Ela se apaixonou pelo projeto em 2018 e apesar de não saber fazer crochê, ajuda com a logística, compra de materiais, enchimento dos polvinhos, divulgação e entrega dos itens de confecção para as voluntárias.

Todos os polvinhos de amor são fruto de doação, tanto dos materiais utilizados para confecção como do trabalho realizado pelas voluntárias. Heloisa Queiroz começou como voluntária do projeto em 2017, quando estava em depressão juntamente com a filha após a morte do marido. “Eu e minha filha estávamos muito tristes. Ela soube do projeto e me chamou para entrar com ela, pois sabemos fazer crochê. É uma terapia, nos preenche de amor, ao saber que ajudamos tantos bebês e, de alguma forma, acolhemos as mães”, relata.

Quem quiser participar do projeto, seja doando material, dinheiro ou mão de obra, basta entrar em contato pelo telefone (61) 98210-5949.

Da Dinamarca

O Projeto Octo começou na Dinamarca, em 2013. Foi criado por uma blogueira com o propósito de ajudar na recuperação dos bebês prematuros nascidos em UTIs neonatais do país. A ação se expandiu após observada a recuperação mais rápida dos recém-nascidos e os benefícios para eles.

Ana Marily Soriano, médica pediatra neonatologista que atua em hospitais públicos e privados do DF conheceu o projeto nos Estados Unidos. Ela trouxe a iniciativa para as maternidades daqui e de outros locais do Brasil.

*Com informações de Jurana Lopes, da Agência Saúde DF

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