Nesta terça-feira (23), começou a valer o reajuste de 2,9% nas tarifas dos ônibus semiurbanos que ligam cidades do Entorno ao Distrito Federal. A decisão foi confirmada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) após o término do prazo — na segunda-feira (22) — para que os governos do DF e de Goiás apresentassem o protocolo assinado de criação do consórcio interfederativo que assumirá a gestão do transporte na região.
O aumento já havia sido adiado duas vezes desde fevereiro. Em nota, a ANTT afirmou que, apesar de sete meses de reuniões e negociações, não recebeu a versão final do protocolo e, portanto, não havia justificativa para novo adiamento. Segundo a agência, o reajuste é um direito das transportadoras e garante o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, além da continuidade do serviço.
Na manhã desta terça-feira (23/9), o governador Ibaneis Rocha (MDB) voltou a tratar da criação do Consórcio Interfederativo da Região Metropolitana do Entorno do Distrito Federal (CIRME). Segundo ele, tanto o GDF quanto o governo de Goiás já estão prontos para enviar os projetos de lei que autorizam a formalização do consórcio às respectivas Casas Legislativas — a Câmara Legislativa do DF e a Assembleia de Goiás. Ibaneis ressaltou, porém, que a efetivação do modelo depende do aval da União e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “As minutas do convênio já foram encaminhadas à agência, e nossa expectativa é de que, em breve, tenhamos uma solução definitiva para o transporte no Entorno, com possibilidade de reduzir o valor das passagens”, afirmou.
Ao Jornal de Brasília, o secretário do Entorno do DF, Cristian Viana, afirmou que o consórcio terá gestão paritária entre o Distrito Federal e Goiás, com alternância na presidência, e será responsável por planejar, fiscalizar e regular o transporte semiurbano. “A expectativa é que, após a assinatura pelos governadores e a aprovação em lei, o consórcio comece a se estruturar ainda neste ano. A União, por meio da ANTT, também precisará delegar a concessão das linhas”, explicou.
Segundo Viana, o processo foi impactado por uma decisão do Ministério dos Transportes, em agosto, que vetou a participação da União no financiamento do consórcio, exigindo um redesenho do modelo de governança. Ainda assim, os governos de DF e Goiás solicitaram prorrogação de 90 dias para finalizar os trâmites, mas receberam somente 30 dias da ANTT.
O secretário destacou que apenas a instalação do consórcio permitirá medidas efetivas para aliviar o bolso do usuário, como integração tarifária com o sistema do DF e subsídios. Também estão previstos corredores exclusivos, renovação de frota e bilhetagem única em médio prazo. “O objetivo é construir um sistema moderno, eficiente e socialmente justo”, disse.
Tarifas atualizadas
Com o reajuste de 2,9%, as tarifas variam de acordo com a distância percorrida e a empresa responsável pela linha. Entre os principais trajetos, a viagem de Planaltina (GO) a Brasília passou a custar R$ 11,35, enquanto o deslocamento entre Luziânia e a capital federal ficou em R$ 10,70. Para quem sai de Santo Antônio do Descoberto rumo a Brasília, a tarifa agora é de R$ 10,45. Já os passageiros de Águas Lindas pagam R$ 11,15 para chegar ao Plano Piloto. No caso de Valparaíso, uma das cidades mais populosas da região, a passagem ficou em R$ 7,80, enquanto o trajeto entre Novo Gama e Brasília custa R$ 10,10. Moradores de Cidade Ocidental desembolsam R$ 8,65 pela mesma viagem. Já quem sai do Lago Azul, em Novo Gama, encontra a tarifa mais alta entre as principais rotas: R$ 12,05 até a capital.
Para quem depende do transporte diariamente, o reajuste chega como mais um peso no orçamento. Vanieli de Oliveira Barbosa, 39 anos, moradora de Cidade Ocidental e babá em Brasília, sai de casa todos os dias às 4h20 da manhã. Ela relata ônibus sempre superlotados e falta de linhas que atendam às novas áreas residenciais. “O transporte do Goiás é péssimo, superlotado. A gente paga caro para vir em pé, espremido. Com esse aumento, meu patrão nem sabe ainda, mas pode até pensar em me mandar embora, porque muitos não querem contratar quem mora no Entorno por causa do preço da passagem”, lamenta.
A aposentada Rita de Cássia Sacramento, 50 anos, moradora de Águas Lindas -GO usa os ônibus com frequência para consultas médicas em Brasília, muitas vezes acompanhada da filha Gabriela Sacramento e do neto de 3 anos, Bernardo Sacramento. Para ela, a integração entre DF e Entorno seria o caminho. “A tarifa pesa demais. Tem patrão que não aceita pagar. Se houvesse uma bilhetagem única, ia facilitar muito para todo mundo”, defende.
Já Ednilza Francisca da Silva, 51 anos, moradora do Valparaíso-GO, auxiliar de limpeza na Câmara dos Deputados, considera o reajuste “abusivo”. “Os ônibus são velhos, quebram muito e vivem lotados. A passagem tinha que ser no máximo R$ 5, como em Brasília. Assim fica difícil até segurar o emprego”, critica. A soma entre tarifas mais caras, má qualidade do serviço e risco de desemprego preocupa moradores e trabalhadores do Entorno. O consórcio entre DF e Goiás surge como promessa de solução, mas ainda sem data concreta para sair do papel.
