São 52 linhas de ônibus do sistema de transporte público coletivo que deixam de receber pagamento de dinheiro em espécie a partir desta segunda-feira (1). Esse número corresponde a cerca de 5,65% do total de 919 linhas. São 10 da Piracicabana, 15 da Pioneira, 7 da Urbi, 10 da Marechal e 10 da BsBus. A medida visa modernizar o sistema de transporte, segundo a Secretaria de Transporte e Mobilidade.
A população estava se preparando nos últimos dias, providenciando a solicitação dos cartões Mobilidade ou Vale-Transporte. Os passageiros que utilizam essas linhas só vão conseguir pagar suas passagens com o uso de cartões de transporte e bancários. Ou até mesmo com o método de aproximação por meio de smartphones, smartwatches ou pulseiras inteligentes.
A gestora de negócios, Leticia Batista, 20 anos, já está acostumada a pegar ônibus utilizando o Vale-Transporte. “Eu tinha o passe estudantil antes. Essa mudança não vai fazer tanta diferença para mim”, comentou. Leticia considera que esse método de pagamento é mais prático para todos, tanto para o passageiro, quanto para o cobrador. “Querendo ou, também tem a questão da economia, utilizando o Vale-Transporte”. Entretanto, ela acredita que outras pessoas vão sentir bastante a mudança.
Genice Elias do Amaral, 58 anos, do lar, estava esperando um ônibus para voltar para casa na Rodoviária do Plano Piloto. Ela não costuma usar o transporte público diariamente, mas já está utilizando o cartão. “Eu acho que quando a gente tiver uma situação de emergência, sem cartão, ou de repente, caso ocorra um problema que às vezes bloqueia, o dinheiro salvaria”. Para ela, seria melhor ter as duas opções.
A garçonete Geovana Gabrielli, 21, pega ônibus todo dia. “Eu acho o cartão bem mais rápido”. A medida não a afetou, e ela acredita que as pessoas já foram avisadas que precisavam ir atrás de um cartão do Sistema de Bilhetagem, então ninguém tem mais a desculpa de ser pego desprevenido.
A dona de casa Mercedes Lima, 55 anos, estava aguardando um ônibus para Samambaia, depois de ter tentado pegar a fila para fazer o Cartão Mobilidade para a filha. Mas como a procura pelo serviço estava muito alta, ela resolveu voltar outro dia. “Eu sempre ando de ônibus, mas eu pagava em dinheiro antes. Eu já fiz meu cartão, mas agora está muito cheio para fazer o dela, então depois eu volto”. Para Mercedes, a mudança vai complicar um pouco a vida do passageiro até normalizar a situação. “Acho que vai ter problema no início, porque tem gente que ainda não tem acesso, ou não sabe usar”, comentou.
Eliz de Fátima, 33 anos, doméstica, precisa usar o transporte público diariamente, mas sempre usou dinheiro em espécie para comprar as passagens. “Eu fico me perguntando como os cobradores vão trabalhar”, refletiu. Para Eliz, ao mesmo tempo que é uma medida boa, também é ruim.
Um cobrador de ônibus que preferiu não se identificar, afirmou que estava com um pouco de medo de perder o emprego com essa medida nova. “Se continuar com nosso emprego vai ser bom. Senão, vão ser mais de 5 mil pessoas desempregadas. Desse lado fica ruim”, desabafou. Porém, o lado bom da situação é que vai diminuir os assaltos, já que o cobrador lembra que essa profissão corre muito risco.
Segundo o Sindicato dos Rodoviários do DF, a categoria tem dois interesses em jogo que podem ser afetados pela medida. A qualidade do sistema e o emprego dos cobradores. João entende que a categoria ocupa outras funções além de cobrar a passagem. “Se houver demissão, o sindicato vai paralisar o sistema”.
Em relação à qualidade, João Ozório, representante do sindicato, explica que um quantitativo de usuários do sistema podem ser excluídos com a medida, porque parte da população só utiliza o dinheiro em espécie. “São várias as situações, desde a pessoa que tem um problema momentâneo e que precisa usar os serviços, como de parcela da sociedade que socialmente se encontra em condição de vulnerabilidade, não tendo um smartphone ou conta bancária”, apontou. Essa questão foi apresentada à Ordem dos Advogados do Brasil, e o sindicato aguarda um posicionamento do judiciário.
Para recarregar ou solicitar um cartão
Ainda de acordo com a Semob, para recarregar ou solicitar um cartão de bilhetagem, estão disponíveis para os usuários do transporte, 128 postos de atendimento que aceitam o pagamento em dinheiro em espécie, cartões de crédito e débito. Quem utiliza o aplicativo BRB Mobilidade também pode adquirir créditos de transporte com o pagamento via Pix no próprio app.
A medida tem o objetivo de modernizar o sistema de transporte e garantir mais segurança e transparência para os usuários, e também para os prestadores de serviços. Dados da pasta de mobilidade mostram que em 2023, o pagamento da passagem com dinheiro em espécie foi de R$ 278,5 milhões, o equivalente a 31% do total de acessos.