Em dia de chuva no Rio de Janeiro, o Velódromo do Pan, inaugurado ontem na Cidade dos Esportes, no Autódromo da Barra da Tijuca, quase sucumbiu ao trocadilho e foi por água abaixo. Antes da solenidade, uma calha em volta da arquibancada se rompeu e inundou uma sala do sistema de som. Resultado: muita correria para tentar esconder o estrago. Depois, o prefeito do Rio, César Maia, procurou minimizar o incidente: “Foi só um encaixe, mas já está resolvido. Não tinha chovido ainda, então foi um teste”, garantiu.
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Mas a primeira impressão, bem ruim, permaneceu no ar até o fim da noite. A calha rompida despertou a truculência da equipe de apoio, que tentava a todo custo tirar os jornalistas e fotógrafos da área afetada. Depois de muitas informações desencontradas, coube a César Maia a missão de desviar as atenções dos repórteres e dar a explicação oficial para o ocorrido. Mas ficou a dúvida: a estrutura está mesmo pronta para ser usada?
O Velódromo, construído pela prefeitura do Rio com recurso de mais de R$ 12 milhões do governo federal, estava previsto para ser inaugurado há pelo menos uma semana. Mesmo com o prazo estendido, o local foi aberto ontem sem o acabamento final.
Dava para ver parafusos à mostra perto dos assentos, as partes de cimento estavam cobertas do pó característico de obras em andamento e o cheiro da madeira nova era sentido em todos os lugares. “Não foi o ideal, só hoje (ontem) conseguimos fazer todas as verificações. Agora temos que fazer funcionar bem”, admitiu César Maia.
Além do Velódromo, outro local preparado para os Jogos foi danificado ontem. Os ventos fortes do final da tarde arrancaram a lona de proteção e derrubaram parte da estrutura metálica da arquibancada da Cidade do Rock, que vai sediar as competições de beisebol e softbol.
Pista de primeiro mundo
Os atrasos e imprevistos acabaram ofuscando o principal: a estrutura montada para os atletas. Único coberto do País e o mais moderno da América Latina, o Velódromo foi construído com pista de pinho siberiano de 250 metros de extensão e 13 de largura, montada na Holanda pela mesma empresa que fez o circuito usado na Olimpíada de Atenas, em 2004.
O local vai sediar as competições de ciclismo e patinação de velocidade no Pan. A expectativa é de que, depois dos Jogos, o Velódromo seja usado para inserir o Brasil no circuito internacional das modalidades.
Vitória candanga na abertura
Além da cachoeira dentro do Velódromo, quem também roubou a cena foi o ciclista brasiliense Rodrigo Brito, o Morcegão. Ele ganhou a última das provas inaugurais, realizadas ontem no Velódromo. Competindo contra quatro atletas – um uruguaio, um dominicano e dois brasileiros –, Morcegão chegou em primeiro lugar e levou uma simbólica medalha de ouro.
Graças ao brasiliense, o Brasil não fez tão feio na cerimônia. Foram disputadas três provas: 500m feminino, 500m masculino e uma corrida demonstração de scratch. Os cubanos Arianna Herrera e Julio Cezar Herrera, respectivamente, venceram as duas primeiras. Mas, na última, Morcegão foi o primeiro a completar as 24 voltas, totalizando 6 km. Com isso, ele garantiu o gostinho de vitória verde-amarela à pequena torcida de convidados presente no local. “Não deu para avaliar o nível dos adversários, porque foi uma prova de demonstração. Mas a vitória foi gostosa, vou ficar na história como vencedor da primeira prova disputada aqui”, comemorou.
Alheio aos problemas com as instalações na arquibancada, Morcegão elogiou bastante o Velódromo. “Nunca tinha entrado em um Velódromo de madeira antes. É sensacional. Sem contar que fica no Rio, uma cidade que eu amo”.
No Pan, o brasiliense vai disputar a prova de Madison, marcada para o dia 19. São 50 km (ou 200 voltas) em dupla. O companheiro de Morcegão será o veterano Hernandes Quadri Júnior, de 40 anos, que conquistou o bronze nos Jogos Pan-Americanos de Mar del Plata, em 1995.