A canção do pernambucano Siba já avisa: “Flutuar suspende as dores e sonhar reacende as cores”. Sob o céu azul de Brasília, a percepção de si próprio e das ações ao redor ganham novos significados. Corpos em busca de bem-estar e equilíbrio das emoções se movimentam em sincronia nos tapetes coloridos estendidos na grama ou calçadas. O cenário nunca é o mesmo, passa por monumentos turísticos, parques, espaços culturais e lugares que contam a história da capital. Proporcionar qualidade de vida é a motivação dos encontros de yoga que se espalham pela cidade. Diversas pessoas, entre crianças, gestantes e idosos, se unem em iniciativas como o Projeto Yoga em Brasília, que chega a reunir uma média de 200 participantes em edições mensais. O 40º encontro ocorre no próximo domingo (30), às 16h. Dessa vez, o local escolhido é o Memorial dos Povos Indígenas – construção projetada por Oscar Niemeyer e inspirada em uma maloca da tribo Yanomami.
A contemplação do pôr do sol teve um sentido diferente para Aguimar Ferreira. Aos 65 anos, ele teve o primeiro contato com a yoga no encontro promovido pelo projeto no início de agosto. “Foi um momento de sintonia comigo mesmo e harmonia com os outros participantes”, conta o corretor de imóveis. Ele e a filha tiveram a oportunidade de conhecer como a prática pode aliar saúde física e mental. O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) foi o palco dessa descoberta. Animado com a possibilidade de montar o próprio “kit yoga”, ele não pretende parar. “Às vezes ficamos muito fechados na rotina e não observamos o que está ao nosso redor. Vou continuar. Agora, é prioridade”, diz.
Os encontros do Projeto Yoga em Brasília são organizados pela instrutora Andrea Amorim, que se inspirou em eventos semelhantes que conheceu em Buenos Aires e Nova York. Um deles foi a celebração do solstício de verão, em que metade da Times Square é fechada para práticas de meditação e yoga no dia mais longo no hemisfério norte.
O primeiro encontro em Brasília ocorreu em 2012, em frente ao Palácio do Itamaraty. Na ocasião, apenas 11 pessoas participaram. Em três anos, o projeto cresceu e já passou por locais como a Torre de TV, Ermida Dom Bosco, Superquadra modelo na 308 Sul, Praça dos Cristais, gramado do Congresso Nacional, Praça dos Três Poderes e tantos outros. A ideia, segundo explica Andrea, era aproveitar cenários da capital que ficam esquecidos com a correria do dia a dia. “Muita gente passa de carro e não observa a beleza desses lugares”, afirma.
Harmonia
O principal propósito dos encontros, no entanto, é apresentar os benefícios da yoga para uma rotina em que tranquilidade e calma estão inseridas. “Estimular o ‘se cuidar’, mostrar que é possível tratar o corpo de forma mais gentil”, ressalta Andrea Amorim.
A instrutora convive com a prática há mais de 14 anos. Além do Projeto Yoga em Brasília, ela também é organizadora do Coletivo Namaste, um grupo que se reúne todos os sábados, às 9h, no Parque da Cidade. Na iniciativa, vários professores orientam os participantes. “É um meio de conhecer outras formas da yoga, já que cada um tem sua experiência particular”, explica. Os dois eventos são gratuitos. Porém, os praticantes podem fazer livres contribuições para os projetos.
Foi buscando um momento livre de preocupações que a jornalista Mariana Lima, 27 anos, colocou a yoga como uma prática do cotidiano. “São alguns minutos sem pensar em trabalho, contas e responsabilidades. Preciso apenas prestar atenção no meu corpo e na minha mente”, conta. Mesmo com a rotina agitada, as mudanças foram perceptíveis com pouco tempo de atividade. “Os problemas me afetam menos. Tenho mais paciência no trânsito, minha postura melhorou. A yoga me tornou uma pessoa mais tolerante, capaz de respeitar opiniões diferentes e apenas desejar o bem ao próximo”, diz a jornalista.
Qualidade de vida
O conceito de yoga está além da sequência de posturas que trabalham corpo e mente. Em sânscrito, significa união, conexão com si mesmo e com o mundo. Através da meditação, estado de relaxamento que também é alcançado nas atividades de yoga, o autoconhecimento se torna possível. Conforme aponta estudiosos e praticantes, o ato de parar por alguns minutos e observar a movimentação de pensamentos e ideias dentro da mente pode ser benéfico tanto para a saúde física quanto psicológica.
Uma pesquisa publicada no jornal Frontiers in Psychology, por exemplo, afirma que a meditação pode retardar o envelhecimento. No mapeamento de 50 pessoas que meditaram por anos, os cientistas perceberam que houve uma desaceleração na perda de matéria cinzenta com o avanço da idade. Já outra pesquisa divulgada pelo jornal científico, em 2013, mostra que a yoga aliada com a meditação apresenta efeitos positivos em doenças psiquiátricas, como depressão, além de auxiliar na prevenção de problemas relacionados ao estresse.
“Provoca uma mudança profunda na forma de agir”, ressalta Alexandre Staerke, chefe do Núcleo de Medicina Natural da Gerência de Práticas Integrativas em Saúde (Gerpis), serviço em que 14 práticas, incluindo meditação e yoga, estão disponíveis para a população através do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Staerke, as pessoas costumam pensar que a meditação é apenas o controle da respiração e relaxamento. “É muito mais. Ajuda a pessoa a lidar melhor com a vida e perceber o que a faz feliz ou infeliz”, explica.
A ideia é reafirmada pelo professor e mestre de budismo no Tibete, Mingyur Rinpoche, no livro A Alegria de Viver: “Quando passamos a reconhecer nossa natureza, tornamo-nos livres do sofrimento. Quando passa a reconhecê-la em si mesmo, você muda, e a qualidade da sua vida também muda”.
Meditação pelo SUS
Na rede pública de saúde do Distrito Federal, diversas práticas que estimulam o bem-estar e qualidade de vida, como acupuntura, musicoterapia e automassagem, são oferecidas em vários pontos da capital. No entanto, apesar da divulgação, poucas pessoas sabem que o serviço está acessível para quem quiser. Segundo a Secretaria de Saúde, há o registro de 1.528 participações nos núcleos de meditação pela Gerpis.
A capital federal foi pioneira na incorporação do serviço, há 25 anos. A proposta das práticas integrativas é “fortalecer os mecanismos naturais de cura do organismo, valorizando o sistema multidimensional – físico, afetivo, mental e espiritual”. Ou seja, aproveitar o próprio corpo em tratamentos e possibilidades de promover uma vida mais saudável e feliz.
Sahaja Yoga
A meditação incorpora diferentes meios para alcançar os benefícios. “Todas elas proporcionam maior autoconhecimento e ponderamento para mudanças. Ao perceber melhor a vida, é possível se posicionar melhor”, explica Alexandre Staerke.
Entre as técnicas está a Sahaja Yoga – nesse contexto, equivale apenas ao significado de conexão proporcionada pela meditação. O “processo vivo de união”, como definido pela fundadora Shri Mataji Nirmala Devi, acredita que todos possuem uma fonte de energia chamada Kundalini, localizada no osso sacro, e disponível para quem quiser acessá-la. De acordo com Ângela Cavalcante, psicóloga e uma das coordenadoras do Centro de Meditação no DF, essa energia fica localizada no final da coluna e mantém uma função cuidadora. “É como um princípio materno em nós”, explica.
A Kundalini, antes adormecida, precisa ser estimulada em um processo chamado Realização do Si. “É a oportunidade de convidar essa energia a despertar e ter a experiência de percebê-la”, diz. Com isso, o praticante passa a interagir com a energia que, segundo Ângela, age como um cuidador e proporciona bem-estar, equilíbrio, confiança e discernimento.
“A maior evolução que podemos ter é se dar conta de quem você é de verdade. Às vezes nos reconhecemos pelo nosso nome, pelo que fazemos ou até pelas nossas dificuldades”, ressalta Ângela Cavalcante. E conclui: “Porém, quem somos de verdade? O que estamos fazendo aqui? Qual o nosso propósito? Eu compreendo que a Sahaja Yoga é um instrumento que nos facilita esse autoconhecimento mais profundo de quem verdadeiramente nós somos”.
A Sahaja Yoga chegou em Brasília em 1989 e todas as atividades são gratuitas. De acordo com a coordenadora, a fundadora do método acreditava que não poderia cobrar por algo que está acessível dentro de cada um. Os centros funcionam na Asa Norte, Taguatinga e Sobradinho, e chegam a reunir cerca de 120 pessoas por semana. Além dos encontros em locais fixos, ocorrem também programas e cursos de meditação em parques, bibliotecas, órgãos públicos e empresas privadas.
Orientações de Shri Mataji para a “Realização do Si”:
SERVIÇO
40º encontro do Projeto Yoga em Brasília
30 de agosto
Domingo, às 15h (início da prática às 16h)
Arena do Memorial dos Povos Indígenas – aberto ao público
Orientações: O número de pessoas é limitado pelo tamanho do local, chegue cedo para garantir o lugar. Ir com roupas confortáveis e levar o yoga mat (tapete).
Saiba mais: https://www.facebook.com/ProjetoYogaEmBrasilia
Coletivo Namaste
Todo sábado, às 9h
Parque da Cidade, estacionamento 13 – entre a Administração e Quiosque do Atleta
Levar o yoga mat (tapete)
Livre contribuição
Saiba mais: https://www.facebook.com/coletivonamaste?fref=ts
Yoga no parque Olhos D’água – Asa Norte
Sábado, às 9h
22 de agosto – 5 e 19 de setembro – 3, 17 e 31 de outubro – 14 e 28 de novembro – 12 de dezembro
No gramado em frente à entrada principal
Aulas gratuitas
Saiba mais: https://www.facebook.com/groups/1476116532704606/?fref=ts
Meditação no CEBB
CLN 309, Bloco D, loja 16 (subsolo)
Segunda
6h30 às 7h20 – Meditação silenciosa
18h30 às 19h20 – Meditação silenciosa
Terça
7h às 8h15 – Hatha Yoga
18h30 às 19h20 – Tai Chi Chuan
19h30 às 21h30 – Introdução à meditação silenciosa
Quarta
6h30 às 7h20 – Meditação silenciosa
8h30 às 10h – Introdução à meditação silenciosa
10h às 11h – Meditação silenciosa
18h30 às 19h20 – Meditação silenciosa
Não é necessária inscrição prévia. Para participar, basta chegar! Os horários são flexíveis (pode entrar e sair quando quiser).
Práticas gratuitas ou livre contribuição
Saiba mais: http://www.cebb.org.br/praticas-regulares/
Centro de Meditação Sahaja Yoga
Atividades gratuitas
Asa Norte: SCLN 211 – Bloco B – Sala 104
Segunda a quinta: 19h30 às 21h
Sábado: 9h30 às 11h
Taguatinga: CNB 3 – Lotes 5/6 Shopping Avenida – Sala 515 (Av. Comercial Norte)
Segunda: 19h30 às 21h
Terça: 19h30 às 21h
Sábado: 11h às 12h30″
Meditação online: todo domingo, às 10h
Saiba mais: http://www.sahajayoga.org.br/
Práticas Integrativas em Saúde – Gerpis
Acupuntura – Antroposofia – Arteterapia – Automassagem – Dança Senior – Fitoterapia – Hatha Yoga – Homeopatia – Lian Gong – Meditação – Musicoterpia – Reiki – Shantala – Tai Chi Chuan – Terapia Comunitária
Locais: http://www.saude.df.gov.br/programas/794-gerpis-gerencia-de-praticas-integrativas-em-saude.html
Aulas de Hatha Yoga no Adolescentro
SGAS 605 – Asa Sul
Aberto ao público geral
Atividades para os adolescentes: 15h30 às 16h30 (quarta e sexta)
Adultos: 17 às 18 horas (quarta e sexta)
Mais informações: (61) 3443-1855
