A neta do senhor Wilson Fernandes sempre teve fama de chorona. Ontem, não fugiu à tradição. Durante a prova individual feminina de ginástica, no Rio, Jade Barbosa derramou lágrimas após sofrer uma queda nas barras assimétricas.
Ali, a brasileira soube que perdera o primeiro lugar. Até o terceiro aparelho, o ouro era da estreante, de 16 anos. Com a quarta colocação e fora do pódio, o choro foi inevitável. Sorte que o avô, vítima de problemas cardíacos, achou melhor ficar em casa, exatamente para não passar mal com tanta emoção.
Situação bem diferente de uma veterana, acostumada a surpresas. Por causa de uma lesão no tornozelo esquerdo, Daiane dos Santos foi cortada do Pan. Não disputará a prova feminina por aparelhos, hoje, às 13h50. Mesmo assim, assistiu à prova de ontem com sorriso no rosto. Chegou a ajudar as companheiras de equipe a passar pó de magnézio nos aparelhos.
Com o erro de Jade, o pódio da ginástica feminina foi todo dos Estados Unidos. Shawn Johnson ficou com o ouro, ao acumular 61.725 pontos nos quatro aparelhos. Rebecca Bross, a segunda (61.050), seguida de Ivana Hong (59.375). Além do quarto lugar de Jade, com 59.375 pontos, Daniele Hypólito e Khiuani Dias ajudaram a defender a bandeira do Brasil. Daniele terminou na quinta colocação, com 57.300, e Khiuani, em nono, com 55.625.
“Foi minha competição internacional importante com a seleção e o nervosismo me atrapalhou. Eu estava uma pilha. Quando errei no ultimo aparelho, comecei a chorar mesmo porque não acreditei que tinha feito aquilo. Um erro tão primário”, lamentou.
Outra estreante da seleção brasileira, Khiuani Dias, de 15 anos, desembarcou no Rio na posição de reserva. Recebeu a chance de representar o Brasil ontem porque a comissão técnica da ginástica achou melhor poupar Laís Souza para a prova de hoje. “Cometi dois erros, mas que ficarão de lição. Claro que fiquei chateada, mas isso só significa que tenho que treinar mais. Foi muito importante essa experiência”, avaliou.
Controlar os nervos e buscar a medalha que deixou escapar são os objetivos de Jade Barbosa para hoje, na disputa das finais por aparelhos, a partir das 13h50. Ela terá três chances: na trave, no salto e no solo. No masculino, Diego Hypólito, campeão mundial em 2005 é outro candidato a medalha. Ele é favorito ao ouro no solo e no salto. Também estarão em ação Mosiah Rodrigues (solo, cavalo com alças e barra fixa), Danilo Nogueira (argolas e cavalo e barra fixa) e Luís Augusto dos Anjos (paralelas).
Daiane está fora do Pan
Há quase duas semanas, na sexta-feira, durante o treino para reconhecimento da Arena do Pan, Daiane dos Santos machucou o tornozelo direito. A partir daí, começou um verdadeiro drama por sua confirmação na equipe brasileira durante os Jogos. Quatro dias depois, o treinador da equipe, o ucraniano Oleg Ostapenko, garantiu a sua participação.
A ginasta chegou a ajudar a equipe feminina a faturar a medalha de prata, no último sábado. Um esforço que rendeu pódio, mas que tirou a gaúcha do Pan. Daiane está fora da prova de hoje, a disputa individual feminina por aparelhos. “Por causa da lesão no pé direito, forcei demais o esquerdo e acabei me machucando. Mas lesão faz parte da vida de todo atleta de alto rendimento. Significa que estou treinando e me esforçando o máximo”, opinou.
Mesmo sem exames médicos, a comissão técnica de ginástica decidiu cortar a gaúcha. Segundo ela, o inchaço no pé esquerdo e a dor para pisar falam por si. “Não fizemos exames, mas não tenho condições de competir. Não consigo correr e dói até para andar. Meu pé ta inchado e roxo. Sei dizer quando posso encarar uma lesão e competir, mas dessa vez não dá”, afirmou.
Além do respeito à dor de Daiane, a decisão dos treinadores é uma verdadeira aposta a longo prazo. Em setembro, em Estrasburgo, na Alemanha, será realizado o Mundial da modalidade. Com direito a vaga na Olimpíada de Pequim, em 2008. “Claro que estamos pensando em me poupar para o Mundial, mas a decisão foi tomada por causa da minha dor”, acrescentou.
Quem terá a responsabilidade de substituir a queridinha dos brasileiros será Daniele Hypólito. Mas ela não pareceu muito tranqüila para falar sobre o assunto. “Não vou apenas substituir Daiane. Estão todos esquecendo que consegui lugar na final de trave. Essa é minha prova. E minha responsabilidade não está em competir no lugar dela, mas em representar o Brasil. É com isso que me preocupo”, garantiu.
 |
