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Brasília

MPL defende que aumento das passagens não é a única saída para custear o transporte público do DF

Arquivo Geral

05/01/2017 18h56

Bianca Campos, Maria Paiva Rios e Leila Saraiva durante coletiva. Foto: Hugo Barreto

Raphaella Sconetto
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A indignação com o aumento das passagens atingiu toda a população do Distrito Federal que depende do transporte público para se locomover. Acreditando que aumentar a tarifa não é a única saída possível para custear o transporte, o Movimento Passe Livre do Distrito Federal (MPL-DF) sugeriu, nesta quinta-feira (5), uma proposta para conter o aumento de tarifas e, em um encontro na Câmara Legislativa, levou o projeto aos deputados distritais.

Reforma no sistema de transporte

  • A ideia, em vez de aumentar cada vez mais as passagens, é progressivamente chegar à tarifa zero, para toda a população. Para isso, o movimento diz ser necessária uma reforma em todo o sistema de transporte. A administração, hoje feita por concessão ou permissões a empresas privadas com subsídio do governo, passaria a ser feita por empresa pública, criada para esse fim.
  • O financiamento viria da camada mais rica da população, por meio de aumento progressivo de impostos a empresas e grandes fortunas. Com a empresa pública, os funcionários ganhariam também maior estabilidade trabalhista. O movimento defende ainda a gestão popular, por meio de comitês regionais, nos quais a população diria o que deseja do transporte e o governo executaria. “O transporte não é objeto para lucrar, e sim, direito da população”, diz Maria Paiva Rios.

De acordo com uma integrante do movimento, Leila Saraiva, de 29 anos, o projeto tem cinco pilares: empresa pública, gestão popular, tarifa zero, imposto progressivo sobre os mais ricos como forma de financiamento e garantia para os trabalhadores rodoviários. “A gente entende que a solução que o governador está propondo é imediatista. Mas são ações que estão tirando o direito das pessoas”, diz.

“Com a criação da empresa pública, a gente teria muito mais transparência com os gastos e de onde que vem essa demanda por aumento, porque, até agora, o Rollemberg não apresentou nada disso. E pelo fato de que a empresa pública não quer favorecer o lucro”, completa Bianca Campos, 21, que também integra o movimento.

Para o MPL, é necessário que se realize mais debates e que haja mais participação da população, que é quem utiliza os serviços. “Tem que ouvir a opinião e as demandas dos usuários, que é quem está em contato com esse transporte todo dia. E a partir disso, construir um sistema que os favoreça”, argumenta Bianca.

Manifestações

Após o anúncio da Secretaria de Mobilidade sobre o aumento das passagens, que passou a valer nessa segunda (2), diversos movimentos sociais geraram uma onda de protestos. A intenção é não parar enquanto o governador não voltar atrás da decisão. “A única pessoa que tem a capacidade de parar com essa revolta se chama Rodrigo Rollemberg. E só vai acabar quando ele revogar o aumento”, diz Maria Paiva Rios, 22, integrante do MPL. Para esta sexta (6), três manifestações são esperadas em Ceilândia, Planaltina e São Sebastião.

Além disso, o MPL questiona a forma em que a Polícia Militar atua nos protestos. “A ordem vem de cima, vem de um governo que não quer dialogar com a população. Está óbvio que ninguém está a favor do aumento. Aí vem a polícia com uma repressão em uma manifestação popular, querendo calar e colocar medo nas pessoas”, conta a estudante Bianca.

De acordo com as integrantes do movimento, a repressão da Polícia Militar tem causado receio nos manifestantes. “Não falta apoio popular. Acontece que a forma que a polícia está se colocando nas manifestações gera um medo nas pessoas, e faz com que cada vez menos manifestantes tenham coragem de comparecer e ir reivindicar seus direitos”, confessa Maria.

Escolas particulares

Além do aumento da passagem, a possibilidade cogitada pelo GDF de restringir o passe livre estudantil em escolas particulares de acordo com a renda aumentou a tensão. “O estudante tem direito de ir para sua escola gratuitamente, somos população, temos direito de ir e vir, e este direito está sendo cobrado. Estão nos cobrando R$ 10 para ir e vir da nossa escola”, diz Bianca Campos, que integra o movimento.

As instituições ainda têm até o dia 31 de janeiro para enviar os nomes dos alunos para o sistema do DFTrans. Caso isso não seja feito, os cartões serão bloqueados. A justificativa é que assim será evitado fraudes nos sistemas.

Aumento

O governo do Distrito Federal anunciou o aumento na virada do ano, no dia 30 de dezembro. Os preços das passagens passaram de R$ 2,25 para R$ 2,50, de R$ 3 para R$ 3,50 e de R$ 4 para R$ 5, de acordo com o trecho e o modal utilizado, a partir da última segunda-feira (2). Segundo o governo, o ajuste é necessário para manter benefícios à população. Em 2014, o governo bancava 16,7% das passagens de transporte público no DF com gratuidade. Esse número subiu para 22% em 2015 e para 27,8% em 2016. A estimativa é reduzir, em 2017, cerca de R$ 180 milhões em gastos.

O anúncio do aumento, feito por meio de decreto, causou mal-estar a deputados da Câmara Legislativa, contrários ao reajuste. A Câmara chegou a cogitar um projeto de decreto legislativo para derrubar os efeitos da medida do governador Rodrigo Rollemberg. O presidente da Câmara Legislativa do DF, deputado Joe Valle (PDT), anunciou na terça-feira (3) a convocação extraordinária dos deputados distritais para sessão no próximo dia 12 para debater o decreto que reajustou as passagens.

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