Menu
Brasília

Morador do DF, Ricardo Corbucci disputará campeonato de comer cachorro-quente nos EUA

Thiago Henrique de Morais

01/07/2024 4h00

Ricardo Corbucci, durante preparação para o Nathan’s. Crédito: Arquivo Pessoal/ Reprodução/ YouTube

Desde 1972, em todo o dia 4 de julho nos Estados Unidos, data em que se comemora a Independência do país, um evento em especial, em Nova Iorque, chama a atenção do estadunidense: o Nathan’s Hot Dog Eating Contest. Ou, simplesmente, o campeonato de comer cachorros-quentes, que distribui uma premiação de 10 mil dólares ao vencedor. E neste ano, pela primeira vez, um brasileiro irá disputar a competição: Ricardo Corbucci, vulgo Corbucci Eats, morador de Brasília desde sua infância e que representará o país no evento de comilança.

“Sempre me perguntam: ‘como eu não engordo?’ ‘Como é depois dos desafios?’ ‘Como eu como tanto?’. E digo que como tanto porque eu tenho toda a rotina encaixada para isso. Academia, uma dieta toda estruturada para eu poder fazer essas extravagâncias de caloria”, explicou o Corbucci, em entrevista de quase uma hora ao Jornal de Brasília. “E claro, tenho toda uma pré-disposição genética para poder realmente processar muita coisa”, complementou.

Confira a entrevista completa com o comedor profissional.

Jornal de Brasília: Seu primeiro vídeo do canal, com comida, foi há sete anos, devorando os 3 litros de açai. Mas quando foi que você percebeu que tinha esse potencial para ter a coragem de postar os vídeos no YouTube?

Ricardo Corbucci: Eu já sabia que eu comia bastante porque eu passei por um processo de emagrecimento que não foi muito bem estruturado na época. Então, eu restringia muito. Eu ficava vários dias em restrição, a fim de diminuir o peso, comendo poucas calorias. Depois de vários dias, quando a leptina estava lá embaixo e o apetite estava alto, eu começava a comer.  E eu notava que eu comia muito.

Fui emagrecendo, apesar dessa dessa escorregadas, mas sempre, eventualmente, tinha esses furos, porque a dieta era muito restrita. Então acabava que o corpo entrava em um estado de emergência e em algum momento ele descarregava, como acontece com a maioria das pessoas, na questão do efeito sanfona. É claro que sempre depois que acontecia isso eu voltava para rotina. Eu engordava um pouco e me motivava [a treinar] de novo e continuava emagrecendo. Então foi um processo que tinha alguns altos e baixos.

No final das contas eu realmente comecei a entender o melhor um pouco sobre nutrição, comecei a emagrecer e acabei desenvolvendo uma relação mais saudável com a comida.

Depois de aprender isso, eu começar a ver que eu tinha esse potencial [de comer muito]. Foi quando apareceu o primeiro desafio lá em Brasília, que foi esse do Açaí que você citou. Eu fiz, consegui e o pessoal ficou impressionado.

Aí eu comecei a pesquisar e comecei a achar outros vídeos de outros países. Não tinha muita coisa aqui no Brasil ainda [sobre o conteúdo de comida]. Então aí eu pensei: “pô legal”. Sabe, eu não me imaginava fazendo isso, mas fui gravando um vídeo, outro vídeo, foi dando certo e foi um trabalho constante desde então nunca parei.

Mas o primeiro gatilho que você teve para postar um vídeo na internet foi esse foi o primeiro desafio que você viu e fez. Ou você já tinha visto outros desafios, tentado outros desafios?

RC: Na verdade não tinha visto nenhum outro desafio, não sabia nada. Eu nem que existia isso. Eu fiz duas vezes esse desafio do açaí. O primeiro eu fiz em oito minutos. E o pessoal ficou impressionado. Eu não tinha certeza se eu ia conseguir. Esse eu não filmei, só fiz umas fotos, uns stories. Aí eu falei com o meu cunhado: “cara eu quero tentar de novo e gravar, porque ainda acho que dá para fazer um pouquinho mais rápido”. E aí, quando eu fui lá de novo, eu fiz em quatro minutos e meio. Foi o primeiro vídeo que eu postei. Achei legal e fui começando a tentar incrementar os vídeos.

Qual o tipo de desafio o pessoal mais pede pra você fazer?

RC: É comida de rua. É “podrão”, comida popular. São os que dão mais certo. Coxinha, qualquer coisa que as pessoas tenham um apego emocional.

É bem comida do dia a dia, porque, por exemplo, se eu venho para os Estados Unidos e pegar um noodle, umas comidas que o pessoal nunca viu no Brasil, não dá muito bom. Porque as pessoas ficam com vontade de comer. Querem coisas que elas entendem o que é e o que elas gostam. Então, tudo isso [comida de rua] dá sempre muito certo.

É claro que tem outras outras coisas que atraem as pessoas. Não só a comida. A questão do desafio em si. É a superação, é a dificuldade de tentar e chegar onde você não chegou antes. É que nem em outros esportes. Você quer ver a outra pessoa performarmar, você quer ver o cara os caras fazendo coisas que você nunca viu fazer antes.

E também tem a questão da reação das pessoas. Às vezes eu pego um vídeo que não é muito bom, seja porque não tem tanta quantidade de comida, mas de repente uma pessoa ficou muito surpresa com alguma coisa, fica engraçado, e aquilo ele torna aquele vídeo que teoricamente não era tão bom pela performance, pelo desafio em si, vai para uma pegada de entretenimento que as pessoas gostam bastante.

Desafio de comidas de rua, como coxinha, é um dos mais pedidos pelos usuários do canal.

Existe algum desafio que você se nega a realizar?

RC: Então, eu já fiz uma de pimenta. Eu até sou bem tolerante. Só que acontece o único vídeo de pimenta que eu fiz do canal, só de pimenta, que foi com chocolate apimentado, ele perdeu a monetização, pois o YouTube considerou que poderia ser um comportamento perigoso.

Então, não sei se valeria a pena investir nesses de pimenta, até porque tem toda uma preparação especial. Você não pode fazer de estomago vazio. As pimentas fortes não são brincadeira. Você pode desenvolver alguma gastrite, alguma perigosa. Então, eu acabo que não faço. A não ser que fosse assim, por exemplo, um torneio de pimenta. Porque se é um vídeo só de pimenta, eu posso simplesmente começar a fazer várias caras várias reações, que são totalmente genuínas, com o olho ficando vermelho, você começa a suar e não tem como disfarçar algumas coisas.

Mas é legal quando tem mais pessoas para você poder comparar o que que tá acontecendo. “Será que ele é tolerante mesmo?” Tem alguns campeonatos que eles vão fazendo com uns rounds e cada vez a pimenta vai ficando mais ardida. E você não pode beber nada. Poderia ser legal, porque se chega num determinado limite que você fala: “Não beleza, não dá mais”. É diferente do que você pegar a pimenta mais ardida do mundo mandar para dentro.

Eu tomo muito cuidado com essas coisas de pimenta normalmente, eu não gosto. Os desafios de pimenta não são em grande quantidade. Na verdade são poucas coisas, mas você tem que aguentar. Eu já fiz alguns que tinham sem saber, e no finalzinho, queimava. Queima, sua mão fica quente, você se sente queimando. Se aquilo pega no olho, cara, já era. Se você pega uma Gold Pepper, uma Carolina Reaper, não parece pimenta, parece veneno.

E tem os de doce também, não é uma coisa que dá muito engajamento. Até vale pela pegada da comédia e tal, mas o pós-doce é muito ruim. Se eu fizer eu sei que eu vou ter que no dia seguinte eu vou ter que estar em casa. Não vou poder sair, pois eu vou ficar ruim. Então eu evito bastante.

E teve algum desafio que você se arrependeu de fazer?

RC: Cara, não. Todos os vídeos são bem planejados. Sempre dou uma pesquisada antes. Eu já gravo vídeos há muito tempo. Então, eu sei que que pode dar bom aqui que não pode, entendeu? A gente acaba que tenta não fugir muito da regra dos vídeos que dão bons. A gente tenta algumas coisas de vez em quando, mas é aquela receita de bolo que funciona e a gente tenta incrementar no entretenimento.

Você tem planejado a disputar o Nathan’s há uns quatro, cinco anos. Quando foi que você viu que teria condições de participar desse evento?

RC: A ideia começou a se formar em 2018. Foram as primeiras vezes que eu ouvi falar do Nathan’s. Foi quando eu fui no Danilo Gentili, a gente comentou sobre o campeonato. Mas era um negócio muito distante para mim. Eu nem sabia direito quem eram os competidores, como eram as regras. Eu só sabia que era uma salsicha diferente daqui do Brasil, que é aquela Frankfurt.

Daí, quando chegou em 2019, o canal completou um milhão [de inscritos] e o Bob [Shoudt], um americano super gente boa, que virou meu amigo pessoal, me ensinou muita coisa. Foi aí que eu comecei a entender mais esse mundo de competição de comida, saber quem eram as pessoas melhores, os competidores e tudo mais. E ele notou que eu tinha um talento e tinha um potencial. E ele me falou: “vou tentar fazer você ir para os Estados Unidos e quem sabe competir”. Mas tudo era uma grande dificuldade, porque isso é a minha renda, era o que eu tava trabalhando no YouTube. Então ia ser tudo por minha conta.

Aí veio a pandemia, em 2020. Fechou tudo, não deu para ir. Em 2021 a gente foi assistir de novo. Foi até em um estádio de beisebol, em no local diferente. Mas eu não consegui competir de novo, porque, como tava tudo fechado, não teve as classificatórias e eu não tinha assinado o contrato do MLE. E eu tinha que participar de algum campeonato antes para poder assinar. E para esse evento, eles chamaram os mesmos competidores do ano anterior, sem aquela classificatória, entendeu. De novo eu tava lá e não consegui participar.

Corbucci e Notorius Bob, no fim do ano passado, em visita do americano no Brasil

Por que essa será a primeira vez de um brasileiro nesse tipo de competição

RC: Se realmente quiser participar, ele tem que estar nos Estados Unidos antes, participar de uma classificatória, ganhar o classificatório para meses depois participar do 4 de julho. Então tem que estar aqui durante meses e não é simples. No mínimo uns três meses. E esse é um dos motivos do porquê é difícil ter um brasileiro no Nathan’s.

Só que depois de um tempo, eles (MLE) começaram a perceber esse boom de influenciadores de comida. O Matt Stone sempre foi no YouTube. E em 2019, foi o último ano que ele competiu por motivos de contrato. E ele já tinha 10 milhões de inscritos no YouTube. Já ra gigantesco. Então eles começaram a perceber esse poder de dos influenciadores.

E a ideia da Liga aqui da MLE é divulgar todos os campeonatos, ser o mais popular possível. E por que não trazer grandes influenciadores de outros países, bons competidores para deixar a competição mais disputada, mais divulgada em outros lugares. É um um ótimo negócio para eles, entendeu?

Além da pandemia, o que impediu você de participar nos anos anteriores?

RC: Em 2022 e 2023 eu já tinha um convite para eu ir direto para as finais sem precisar passar pelos classificatórios, o que fica muito mais simples. É só você estar em Nova York, no dia 4 de julho, que você vai participar. Eu não precisei ter todo o processo da classificatória. Mas eu não consegui ir pros Estados Unidos por causa do meu visto. Então eu entrei num outro processo para tirar um visto especial para poder competir. E assim, a gente está nesse processo desde que a gente estava nos Estados Unidos naquela época.

E aí veio 2024. A gente já tinha basicamente desistido desse ano. Eu já tinha pago o visto, mas estava demorando muito. Tanto que eu já estava numa outra linha, já tava fazendo vídeo no Brasil, pensando em diminuir o ritmo, me preservar mais.

Daí o visto foi aprovado. E aí, tudo mudou.

E como é um visto que expira muito rápido, em três meses, viemos no dia 14 de maio, pois o visto já iria expirar no dia 20. Só que se você estiver dentro dos Estados Unidos, você pode ficar por dois anos com ele. Então, a ideia era vir para cá e ficar até depois do Nathan’s. Porque se eu tivesse que renovar na embaixada, poderia demorar. Por isso estou a mais tempo aqui. Não vou arriscar é perder a oportunidade de participar do Nathan’s.

Quais têm sido as dificuldades pessoais durante esse período que vocês estão nos Estados Unidos?

RC: Temos empresas no Brasil e estamos tocando daqui. Tivemos que contratar funcionários pra ajudar a gente a tocar as empresas. E tá dando certo.

E como tem sido essa preparação nesses meses?

RC: Durante esse período está sendo incrível. Nosso inglês melhorou muito. Então, tá dando para interagir com as pessoas. E assim, as pessoas daqui não esperam quando tem um desafio chega um cara tão bom assim. Eles ficam loucos! Porque já tem essa cultura aqui, então é tá sendo muito legal. Eu tô conseguindo interagir com eles pegar uma reação deixar ele surpresos e o pessoal tá gostando bastante.

Tudo a partir de agora já está sendo treinamento para o campeonato. Porque os desafios estão cada vez maiores, o corpo está se acostumando, o estômago está se acostumando. Eu consegui fazer várias práticas já com o hot dog da competição.

Eu já fiz alguns treinos e, cara é muita técnica. É muito memória muscular do que você tá fazendo. Você tem que entender o que você tá sentindo o desconforto que você vai passar. Tudo você tem que repetir, tem que ter experiência. Por que o Joye [Chestnut] é tão bom? Porque ele já ele fez aquilo de olho fechado, ele já não precisa pensar no que tá fazendo. Ele só precisa tolerar o que ele tá fazendo, entendeu?

No seu último vídeo sobre o Nathan’s, você falou que para pegar um Top3 você teria que chegar aos 45 hot dogs. E nesse mesmo vídeo, você mostrou que chegou a 42. Dá pra dar um spoiler: Conseguiu chegar a essa marca em seus últimos treinos?

RC: Eu vou fazer mais quatro teste até o Nathan’s. Dia sim, dia não. No dia 1º de julho é o último. Eu sinto que ainda tem margem para melhorar. O último, dos quatro treinos que eu fiz, que eu consigui comer 42, eu comecei a beber mais água, melhorando mais a técnica. Consegui acelerar um pouquinho. E no fim, eu notei que ainda tem uma gordurinha ali fácil de melhorar.  Então, posso chegar nos 45 tranquilo. A partir disso, entre 45 a 50 vai ser difícil.

E o que que notei nessas últimas práticas? A minha calma. No primeiro eu estava com o Nick e eu estava nervoso, não sabia como era técnica. E aí eu colocava muita comida na boca e ficava mastigando. E aí travava tudo, porque eu tinha que fazer muita força, porque tinha muita comida. Aí eu entendi: vou diminuir a velocidade e vou começar a prestar mais atenção no que eu tô fazendo focar em manter um fluxo constante. E aí as coisas começaram a evoluir. Assim a minha ideia é fazer essas práticas para eu poder ter essa tranquilidade respirar e fazer o que nem é para fazer.

Nesse ano não vai ter o Joey Chestnut e é bem provável que ele não esteja nos próximos eventos. Chega a ser frustrante para você, já que ele é um ícone deste esporte?

RC: É sensação de dualidade na verdade. Você quer estar competindo com o melhor. Mas assim, infelizmente ele não vai estar lá. Mas daí você começa a pensar: “pô, ele não vai estar lá, então o que que vai acontecer?”. Daí eu comecei a ver os competidores. E dos melhores, eu notei que são quatro entre os melhores. Eles comem todos em torno de 48 a 50. Então está em aberto, ninguém sabe quem vai ganhar.

Então, apesar do Joey não tá lá, é a oportunidade de ouro para alguém. É chegar lá e gravar o nome na história, entendeu? É claro que não vai ter o mesmo glamour, não vai mas vai estar todo mundo falando dessa pessoa. Mas, imagina eu ganhar? E a exposição na mídia nacional que eu vou ter? Não sei o que pode acontecer. Pode ser que minha carreira decole mais ainda. Então, querendo ou não a gente fica mais animado, porque a gente tem mais chance de ganhar.



Último vídeo de preparação publicado por Corbucci para o Nathan’s Hot Dog Eating Contest

Quais são esses principais concorrentes?

RC: Jeff Butler, que é um cara que ele é um pouco mais velho, mas ele tem uma capacidade absurda. Só que ele tem uma barreira com hot dog. Ele não consegue ir bem. Ele ganha do Joey em vários outros tipos de campeonato, mas o de hot dog ele tem alguma trava que ele não consegue passar dos 50. Ele consegue comer muito mais que isso, mas ele não consegue subir. Então ele deve ficar em torno desse número 49-50.

Tem o Pat Bertoletti que é um cara que competia há muito tempo, parou e voltou no ano passado. E ele comeu 48.25 na classificatória. Então você já sabe que ele vai estar ali entre os 48 e 50.

Também tem o Nick Wehry, que participou na mesma classificatória do Pat, que só vai conseguir participar porque comeu 48 e vai entrar pelo Wild Card, entre os melhores segundos colocados de todas as classificatórias.

E por último tem o James Webb, que eu acho que é o favorito, porque ele é um cara que apareceu há pouco tempo. Ele come muito. E ele come muito rápido. O primeiro campeonato que ele participou foi ano passado, ele comeu 47, então assim, a gente não sabe como ele está, porque ele não tá mostrando os números dele. A gente não sabe o quanto que ele tá comendo.

O Nick falou que ele pode ter evoluído muito. Mas pode ser que não tenha evoluído tanto, vai comer a mesma quantidade de 48 a 50. Ou de repente 55-60. Não dá para saber entendeu? Ele é realmente uma incógnita, mas a tendência é que ele seja  um dos melhores ali.

E eu né? E aí eu tô ali nos 42. E a minha ideia é justamente nessa semana maximizar isso chegar próximo dos 50 para poder brigar com os caras.

Vai ser extremamente disputado. Eu acho que esse vai ser o mais emocionante, apesar de não ter o Joey. Porque a gente já sabia que ele ia ganhar, né?

Você vê esse como o único Nathan’s que você vai participar ou se imagina em outras edições?

RC: Tudo depende desse campeonato. Assim, seu eu for o campeão, com certeza eu vou voltar. Mas o mais importante agora é focar nesse campeonato. E aí a gente vê o que acontece.

Mas é uma rotina muito desgastante, muito agressiva. Eu quero que termine logo, quero fazer o meu melhor para ver o que que eu vou fazer depois. Masse eu for participar de novo, aí já vai ser alguma coisa mais estruturada para eu poder chegar aqui um tempo antes, poder praticar, não precisar gravar vídeos, me dedicar exclusivo para isso.

Ricardo Corbucci, durante preparação para o Nathan's, ainda no Brasil, em meados de 2022. Crédito: Arquivo Pessoal
Ricardo Corbucci, durante preparação para o Nathan’s, ainda no Brasil, em meados de 2022. Crédito: Arquivo Pessoal

Agora, a técnica utilizada por vocês na competição é algo que não é tão agradável de se ver. Algumas pessoas até tem nojo. Como foi a sensação de ter que mergulhar o pão pela primeira vez e colocá-lo na boca?

RC: O Kobayashy fala em seu documentário (Hack Your Health: The Secrets of Your Gut, da Netflix): “um bom competidor de comida ele não presta atenção no gosto. Ele presta atenção no que ele precisa fazer, no objetivo dele, ele tem que colocar aquela comida para dentro do estômago. Não importa o gosto da comida, quanto mais você prestar atenção no gosto da comida, menos você vai conseguir comer, porque vai ficar desagradável. A comida pode até ser muito gostosa, mas vai ficar desagradável. Pode ser muito ruim. E vai ficar mais desagradável.

Então, quanto menos você prestar atenção nisso melhor, você vai ser você vai ter que fazer o que precisa ser feito. E eu comecei a incorporar isso. Sempre que eu vou gravar um vídeo, o meu objetivo não é matar minha fome, não é satisfazer os meus desejos pela comida. Eu adoro comer, amo comer, Mas nos vídeos de competição, é comer. Realmente eu me desligo. Eu quero que tenha um vídeo bom, um vídeo com um bom entretenimento, que as pessoas fiquem impressionadas. Eu não tô prestando atenção no gosto da comida.

Quando você começa a fazer isso muitas, e muitas, e muitas vezes, você começa a entender o processo. Você começa a prestar atenção na sua performance e não no seu prazer.

Quando eu fiz uma prática de hot dog nesse sentido já era 2019. Eu já tinha conhecido o Bob. E eu busquei muito uma evolução. É que nem academia. No seu primeiro ano, se você treinar certinho, pesado, você evolui muito quando está treinado. Você consegue progredir muito no começo porque o seu corpo está se adaptando. Mas depois você chega em determinado nível que fica mais difícil é muito mais difícil evoluir.

Como é essa rotina de treinamentos, além da comida, mas nos treino de respiração, treinamento de mandíbula, que não é uma coisa muito comum de se fazer…

RC: E não é nem recomendado, porque você pode desenvolver problema de ATM. Eu tenho que fazer liberação, não pode ser algo excessivo. Tem que ser na medida certa, entendeu? E eu não posso treinar todos os dias. Eu tenho que dar um descanso, fazer compressa, fazer massagem.

O outro fator é fazendo esses grandes desafios. Por que o corpo já vai se adaptando, vai se acostumando. Até porque você precisa mergulhar o pão na água, então você acaba ingerindo não só um grande número de calorias, mas de volume por conta da água que você tem que usar bebendo usar ali no pão.

Então, você precisa ter essa capacidade do estômago, fazer os grandes desafios ajuda demais nisso. Se eu fico uma semana sem gravar, duas semanas, e eu vou fazer um desafio, ele tá muito mais difícil, porque eu estômago ele já encolhe, entendeu?

E também para você entender a sensação que é. Por que você começa a ficar ruim, começa a ficar desconfortável, começa a doer. E você tem que tolerar aquilo. Ali é a única maneira de você tolerar aquilo. É progredindo, entendendo aquela sensação entendendo se você vai conseguir colocar mais um pouco ou não vai passar mal. É uma construção.

Por isso que é muito difícil. Pô, eu vou chegar aqui no primeiro campeonato ser campeão, vou ganhar do Joe. O cara tá ali uns 18 anos competindo. Ele já ganhou 15-16 competições. Não vou chegar aqui e já vou ser o melhor. É difícil cara.

É uma pressão absurda. Você comer com tanta gente gritando e o negócio era gigante. Uma pressão psicológica muito grande. Se você não tiver preparado para aquilo ali, cara, você não consegue.

Para quem nessa jornada de competições de comida, você recomendaria?

RC: Eu nunca respondo essa pergunta. Para mim, não comece. Sabe por quê? Porque a única maneira que eu tô ganhando renda é por conta das redes sociais, não é por conta da competição de comida. Deu certo pra mim porque não tinha ninguém que estava fazendo.

Pode surgir outras pessoas? Pode. Mas a pessoa teria que ser muito boa tanto como competidor, comendo muito, tanto como influenciadora. Tem que saber se comunicar, tem que tem que ter vários aspectos, tem que ter equipamentos, tem que ter alguém pra editar. E é uma coisa que vai custar muito para a saúde da pessoa. E pode ser que não dê certo ou pode ser que ela demore dois, três anos para dar certo. Então assim você vai ficar ali batendo até dar certo. E se não der certo? Aí você vai engordar.

A pessoa que normalmente pergunta “como eu começo?”, eu respondo: você entende de nutrição? Você sabe emagrecer? Você é sedentário? Você faz atividade física? Você tem plano de saúde para fazer é exame? Você tem médicos que conseguem te apoiar e te dar suporte? É tanta coisa.

Se a pessoa já chega e fala: olha gravei isso aqui. Aí eu falo, pô legal. Tenta beber mais água, dar alguma dica pra pessoa não se machucar. Comer rápido é perigoso. A pessoa pode se engasgar.

Eu não recomendo, por que para dar certo provavelmente a pessoa vai ter que passar por um processo muito sofrido que pode sacar o pra saúde dela.

O quão empolgado e ansioso você está para o 4 de julho?

RC: Cara, bate esse nervosismo as vezes, porque existe uma chance real [de vencer]. Mas eu tô focado justamente nessa paz de espírito que eu preciso, entendeu? É fazer o que eu tô treinando para fazer, fazer o planejado, então é chegar lá, esquecer, desligar.

É que nem alguns desafios. Teve um do balde de macarrão que tinha cinco mil pessoas, mas eu eu não via ninguém. O pessoal falou que o pessoal estava narrando, falando algumas coisas, mas eu não ouvi nada. Era eu, o balde e o macarrão. E é isso que eu pretendo fazer lá no campeonato, cara. Não vai ser ninguém. Sou eu eu e os hot dogs. Eu não vou contar [quantos já comeu]. Não vou fazer nada. É só a memória muscular. É calma, fazer precisa fazer manter o ritmo e não ficar nervoso.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado