Jéssica Antunes
Brasília já foi uma das cidades mais caras para casamentos: chegou a movimentar aproximadamente R$ 20 milhões por ano, nas contas dos empresários. Mas a indústria dos casamentos perdeu força pela retração da economia e redução do orçamento doméstico. Agora, o luxo e o glamour são substituídos pelas as cerimônias intimistas, minimalistas e mais “pé no chão”.
“As pessoas continuam casando muito, mas gastando menos”, revela a cerimonialista Janete Torres. Ela teve de mudar a abordagem diante da insegurança financeira. Enquanto antigamente o sonho do casamento perfeito regia a organização do evento, agora é o planejamento orçamentário.
“Toda noiva tem um sonho e referências, mas não tem noção de custo. Perdia muitas por colocar os lustres, espelhos, tapete persa que ela viu na internet. Hoje, não posso trabalhar assim. Já começo perguntando quanto foi reservado à decoração e mostrar o que posso oferecer dentro do limite”, explica.
Por isso, o chamado “mini wedding ” (casamento em inglês), com até cem convidados, e a decoração minimalista são tendência, enquanto os luxuosos estão em baixa. “É possível fazer um casamento simples e bonito”, garante a cerimonialista, que é formada em artes. Enquanto isso, “só faz algo glamoroso quem tem muito dinheiro”.
Retração
Há dez anos na área, a produtora de eventos Inara Ramos reconhece uma retração no número de cerimônias. “Em 2014 a gente teve uma demanda de aproximadamente 50 cerimônias. Em 2015, cresceu e fizemos mais de 70. Agora temos apenas 40”, conta. No entanto, o que mais teria mudado foi o perfil dos eventos.
“Os noivos estão optando por reduzir custos, como abrir mão da recepção. Também estão mais seletivos em relação ao preço dos fornecedores”, exemplifica. Além disso, a contratação de cerimoniais com mais antecedência para conseguir descontos também tem se tornado comum, e até parcelar mais.
Apesar disso, Inara não crê que a crise já tenha acertado em cheio o setor: “Não impactou tanto quanto em outras áreas. Para nós, ficou mais estável”. Mesmo com o máximo de redução, a empreendedora estima que a cerimônia mais em conta com pacote completo custa pelo menos R$ 28 mil.
Adaptações para conseguir realizar sonho
“Tudo ficou muito caro. Com a economia instável, os fornecedores que têm custo maior, como bufê e decoração, não têm preço fixo: variam conforme a economia”, destaca a produtora de eventos Inara Ramos. De acordo com ela, para frear os gastos, os noivos optam por um coffee break em vez de grandes recepções e por casamentos diurnos, em locais abertos e que não dependem de aluguel. Há igrejas com taxas acima de R$ 3 mil.
É o caso da nutricionista Andressa Nascimento, 31 anos. Ela já está com quase tudo pronto para a cerimônia: “A gente não tinha dinheiro para fazer festa. É tudo muito caro e estamos todos em crise, além de eu ter mudado de emprego recentemente. Decidimos de última hora”.
Os orçamentos foram adaptados ao sonho e ao bolso do casal. “Será em uma residência que não é alugada. Vai ser uma cerimônia supercurta para cem pessoas e durante o dia”, revela Andressa. Por isso, haverá apenas um lanche.
A decoração, por pouco, não foi feita pela própria família. Ela ainda mandou fazer o vestido e economizou pelo menos R$ 1 mil.
A nutricionista Niere Braz, 24, subiu ao altar há dois meses. “Fiz algo simples, mas bonito como manda o figurino”, conta. Ela dispensou as lembranças para os convidados e apostou em uma cabine de fotos. “Economizei R$ 600, metade do que gastaria”, compara.
Além disso, foram R$ 3 mil a menos pela escolha do destino da lua de mel. “Optei por Gramado, um lugar que nem todo mundo procura nos dias de hoje”, explica. Ainda assim, tudo custou R$ 27 mil.
Ponto de vista
Diretora de eventos sociais da Associação Brasileira de Empresas de Eventos (ABEOC), Maria da Graça Kurylo, confirma que o cenário nacional é semelhante ao retratado pelas cerimonialistas do DF. “A crise existe. No mercado de casamento, o que aconteceu é a diminuição das cerimônias”, afirma.
Se antes o evento era imaginado para 300 pessoas, agora passa-se para 150. “Casamentos imensos existem, mas para um público limitado. A classe média, que vinha fazendo festas grandes, continua celebrando o matrimônio, só que mais enxuto”, explica. Agora, diz ela, os casais enxugam itens menos necessários.
Saiba mais
Em 2014, o Distrito Federal gastava 174% a mais com festas do que todas as outras unidades da Federação, segundo o último levantamento da Associação dos Profissionais, Serviços para Casamento e Eventos Sociais (Abrafesta).
Dados da pesquisa “O Mercado de Eventos Sociais: indicadores sobre a oferta e a demanda”, elaborada pela Data Popular, aponta que os casamentos já ultrapassaram a marca de um milhão por ano em todo o País.