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Brasília

Meio ambiente: reversão do quadro crítico depende dos setores público e privado e do cidadão

Arquivo Geral

24/11/2017 7h00

Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Raphaella Sconetto
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“Se não tiver para um, não vai ter para ninguém”. A reflexão é de Renato Felipe, 41 anos, sócio de uma cervejaria brasiliense engajada com a preservação do Cerrado. Nesta última reportagem da série sobre as mudanças climáticas e a crise hídrica, o Jornal de Brasília aponta medidas que podem ser tomadas pelos setores público e privado, mas também por toda a população, para reverter esse quadro crítico.

A Cerrado Beer nasceu há dois anos como marca e se consolidou como uma empresa que produz e vende cervejas. “Como o próprio nome já diz, buscamos utilizar nomes da fauna e da flora do Cerrado nos produtos”, explica Renato.

O primeiro rótulo da Cerrado Beer leva impresso o mesmo símbolo do Instituto Jurumi: um tamanduá-bandeira. Embora seja coincidência, a cervejaria fechou uma parceria com a organização, que atua pela vida silvestre e promove a vivência de estudantes com o bioma. “Repassamos um percentual das vendas ao instituto. Assim, atuamos na preservação do Cerrado”, afirma.

Foto: John Stangherlin

Foto: John Stangherlin

Além dessa preocupação, a van da Cerrado Beer, que fica estacionada em determinados pontos da capital, ainda aposta na prática de reutilização. “Se a pessoa toma um chope e quer outro, nós vamos lavar, resfriar o copo e servir uma nova cerveja”, explica Renato.

Para ele, os jovens são as principais pessoas a se preocupar com o meio ambiente. “Eles têm essa cultura de cuidado e também sabem que, se não mudar, eles vão ser os primeiros a sentir os efeitos”, diz.

“Estamos vivendo a cada ano situações climáticas extremas. Se não preservar a água, os mananciais, a fauna, a flora do Cerrado, um dia podemos passar por falta de água total. Então, cada um tem que fazer sua parte de cuidar”, completa.

Produção da água

O homem ainda não inventou nenhuma fábrica capaz de criar água. Então, a produção depende de atitudes de cada um da sociedade. Segundo Nazaré Lima Soares, subsecretária de Serviços Ecossistêmicos da Secretaria de Meio Ambiente, é preciso que a população mude hábitos para evitar extremos climáticos e mais crise hídrica.

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“Mas sabemos que essa mudança, na maioria das vezes, não acontece de forma voluntária. Depende de políticas públicas de incentivo e indução. Daí a importância do Estado. Por outro lado, mesmo com incentivo, a população não muda os hábitos. Aí a política fica linda no papel, e na prática não se vê nada, não vai surtir efeito”, pondera.

A produção de água depende de uma atitude simples: plantar árvores, principalmente as nativas do Cerrado. “Temos de recompor a vegetação em áreas de recarga de mananciais e de nascentes. Se as medidas de produção de água não forem adotadas de maneira massiva no DF, não teremos os reservatórios abastecidos”, alerta.

Medidas do governo para captação

Medidas emergenciais para tentar solucionar a crise hídrica do Distrito Federal já foram tomadas pelo governo. Obras de captação de água se espalham pela capital e Região Metropolitana: Sistema Produtor do Lago Norte (Lago Paranoá), subsistema do Bananal, Corumbá IV e pequenas captações em regiões como São Sebastião e Gama.

De acordo com a Caesb, a capacidade de produção de água aumentou 16,5%, em um ano – o que representa acréscimo de 1,5 mil litros por segundo.

Inaugurado no dia 2 de outubro, o Sistema Produtor de Água do Lago Norte consiste em captar água por meio de balsas flutuantes e tratamento no próprio local, com capacidade para captar até 700 l/s.

“Trata-se de uma estação de tratamento de água compacta, com membranas de ultrafiltração, uma das mais modernas tecnologias para tratar e oferecer uma água de excelente qualidade. O local também foi escolhido pela boa qualidade da água apresentada no braço do Torto, que já foi testada durante os estudos para implantação do sistema definitivo de captação no Lago Paranoá”, informa a Caesb. A água captada irá abastecer Lago Norte, Paranoá, Itapoã e Taquari.

Água desperdiçada faz falta para outros

Nazaré Lima, da Secretaria de Meio Ambiente, elenca algumas atitudes que podem ser tomadas a curto prazo pela população: “É muito importante que a população continue com as medidas de economia, mas não só a de baixa renda. Os mais ricos precisam reduzir drasticamente o consumo. Evitar lavar carro, garagem, regar jardins. Pessoas podem estar sentindo falta dessa água para beber em outro lugar”, critica.

As medidas emergenciais tomadas pelo Estado são importantes, mas não suficientes para solucionar o problema. Por isso, a subsecretária de Serviços Ecossistêmicos elenca o que pode ser feito a longo prazo pelo governo: “Rever o papel das instituições, repactuar os sistemas hídricos e criar um sistema de monitoramento mais eficaz”.

Falta transparência

Em soma a esses investimentos, é preciso também mais transparência em todo sistema. “Não é possível que, na situação que chegamos, a população só teve conhecimento quando começou a faltar água nas torneiras. Não é para ser assim. Monitoramento existe na gestão pública para ter condições de fazer previsões. As projeções foram feitas, mas não foram divulgadas de forma eficiente, de modo que a população pudesse se preparar para a crise hídrica”, destaca Nazaré.

Apesar do momento de dificuldade, ela acredita que os brasilienses têm se saído bem na economia de água. “Não queríamos estar enfrentando a escassez de água, mas a História nos mostra que toda sociedade só passou por mudanças depois que enfrentou problemas graves. Crises dessa natureza se tornam grandes oportunidades de aprendizado e soluções”, conclui.

Obras

O subsistema de captação de água do Ribeirão Bananal entrou em operação no dia 30 de outubro e tem capacidade para uma vazão média de 726 l/s. Ele vai beneficiar cerca de 200 mil habitantes, moradores da Asa Norte, Sudoeste, Cruzeiro e Noroeste.
Já a captação do Corumbá ainda está em construção, mas sem data concreta para término. De acordo com a Caesb, 50% da água será repassada a Goiás. O GDF está investindo R$ 275 milhões e a obra está 70% concluída, na parte que cabe ao DF. “O sistema envolve a captação de água no Lago de Corumbá (sob responsabilidade da Saneago), sendo encaminhada para tratamento na cidade de Valparaíso (GO). Após tratamento, a água é bombeada para o Distrito Federal e cidades do Entorno”, conclui a companhia, em nota.

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