Responsável pela primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos Pan-americanos do Rio, o paulista Diogo Silva foi às lágrimas durante a execução do hino nacional na entrega da premiação. Pensando em tudo o que enfrentou até chegar este momento, ele desabafou sua indignação contra a situação da modalidade no país.
“A Confederação não dá o que precisamos. Nosso presidente sempre nos olhava como segunda opção”, afirmou, lembrando do descaso com que os atletas são tratados.
Segundo ele, antes da realização dos Jogos, os atletas se reuniram com o responsável pelo setor financeiro da entidade oficial, Valdemir Barros, pedindo melhores condições. A solicitação foi formalizada em ata, mas simplesmente não deu resultado. “Nosso pedido foi ignorado”, disse indignado com a estratégia elaborada pela Confederação para evitar problemas futuros.
Espelho dos problemas que os praticantes da modalidade têm de enfrentar para sobreviver no esporte, Diogo tem como única renda os R$ 600,00 pagos pela entidade. A ajuda de custo exígüa, contudo, nem é 100% garantida.
“Estavam sempre atrasando três meses, nos pagavam duas parcelas e atrasavam de novo. Agora, por causa do Pan, adiantaram o pagamento para ninguém poder falar”.
Apesar da mágoa que expressa quando o assunto é apoio, Diogo revela imensa gratidão pelos esforços pessoais de Marcelino Barros, responsável técnico pela equipe. “Ele dá dinheiro do próprio bolso para nos ajudar. Na derrota e na vitória nunca nos abandonou. Se estou aqui hoje, devo a ele”, desabafa, agradecendo também aos companheiros de equipe. “Devo muito a meu grupo, que é fantástico”.
A trajetória de Diogo até o título pan-americano foi marcada por muita superação. No início do ano, sem contar com recursos da Confederação, ele e Márcio Wenceslau decidiram bancar do próprio bolso uma preparação mais decente.
Márcio vendeu o carro e Diogo gastou o dinheiro de dois anos de economia para participar do Circuito Europeu. “Tirei do meu bolso R$ 5 mil para ir à Europa. Eu e o Márcio fizemos o possível e o impossível para conseguir o ouro”.
O dinheiro estava sendo reservado para presentear a mãe Tel com um carro. “Ela é manicure e trabalha na casa dos outros. Às vezes precisa tomar duas ou três conduções para chegar ao lugar”, explica. “Pensei muito comigo e vi que esse investimento seria muito importante”.