Depois de duas décadas de compromisso com a seleção brasileira feminina de basquete, a ala Janeth Arcain pôs um ponto final nesta história. Na tarde desta terça-feira, na final dos Jogos Pan-americanos do Rio, ela encerrou sua carreira com a camisa da seleção. “Minha vida é um livro, simplesmente coloquei um ponto e agora continuo uma nova página”, disse a jogadora ao público no fim do confronto contra os Estados Unidos, no qual o Brasil foi superado, ficando com a medalha de prata.
Para provar sua posição, Janeth arriscou uma performance musical cantando Roberto Carlos. “Se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi”.
Olhando sua última conquista com a seleção brasileira, a ala valorizou o desempenho no Pan. “A medalha de prata é valiosa e a gente fica lisonjeada por fazer parte deste grupo”, garantiu, elogiando as companheiras. Em sua despedida da seleção, Janeth afirma ter revivido todas as boas lembranças que acumulou durante a carreira. Dona de um título mundial (Austrália-94), uma prata (Atlanta-96) e um bronze (Sydney-2000) olímpicos, ela marcou a transição entre a geração Paula e Hortência e a atual.
“Estamos entre as cinco melhores do mundo e devemos tudo a ela, Paula e Hortência”, afirmou a armadora Adrianinha, que falou em nome das companheiras na despedida da atleta. Médica nos sonhos maternos, Janeth começou no esporte praticando vôlei no Corinthians.
Depois de assistir aos jogos do Mundial de 1983, em São Paulo, veio a decisão e a mudança de modalidade. “Disse ao meu técnico que ia praticar basquete: que é um esporte de emoção grande, de desafio, com metas e que me faz querer superar meus limites”, lembra. O treinador bem que avisou: “O que tem é muita política”. Mas sem entender, a menina de 13 anos quis arriscar. O início foi sob a supervisão do técnico Edson Ferretto e de Vilma, em Catanduva (SP).
O então esporte para homens passou a dominar sua vida e ela foi construindo sua história dentro dele. “O basquete feminino evoluiu muito, conseguimos quebrar a barreira que era um esporte só para homens. Hoje, vejo uma emoção grande no basquete feminino e depois de 91 sempre estivemos entre as quatro melhores do mundo”, lembra orgulhosa e otimista. “O basquete está melhorando e hoje eu pude jogar em uma quadra que nem faz o joelho doer”.
Olhando o que vivenciou, Janeth afirma não ter arrependimentos. “Eu faria tudo de novo”, diz, querendo ser lembrada como uma atleta que sempre se dedicou, “que não é de falar muito, mas gosta de fazer, e por tudo o que fez pelo basquete brasileiro”. Para ela, parar é mais difícil do que foi o início da carreira.
A princípio, seus projetos estão definidos. Ela pretende ser dirigente, técnica e comentarista, atividade esta que já começou a exercer. “Mas isto é de momento. Não sei se vai continuar assim”.
No dia-a-dia, sua grande ambição é esquecer a ditadura do relógio e poder dormir tarde. “Ter o privilégio de assistir a ‘Sessão Coruja’”, brinca. “Tirar férias e ficar de pernas para o alto sem fazer nada”.
O compromisso com o Centro de Treinamento criado em 2005 e que leva seu nome também segue firme. “Meu programa social é um relaxamento tremendo”, diz animada com a iniciativa que atende meninos e meninas até 15 anos, em Santo André (SP).
Fora isso, Janeth só quer saber de aproveitar a vida. “Só não vou malhar mais. Não vou mais para a academia, não vou mais correr”, promete.
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