Por Camila Coimbra
O rapper brasiliense Gustavo da Hungria Neves, conhecido como Hungria, foi internado às pressas na manhã desta quinta-feira (2) no Hospital DF Star, em Brasília, levantando a suspeita de ser o primeiro caso de intoxicação por metanol no Distrito Federal. O cantor deu entrada na unidade após ingerir vodca durante a madrugada na região de Vicente Pires. A internação ocorre em um momento de alerta nacional sobre a adulteração de bebidas alcoólicas com metanol, uma substância tóxica que pode causar cegueira e morte.
O Hospital DF Star confirmou a gravidade do quadro em nota oficial: “O paciente Gustavo da Hungria Neves deu entrada em nossa unidade com sintomas suspeitos de intoxicação por metanol. No momento encontra-se internado em unidade de terapia intensiva,” informou o hospital. No entanto, o comunicado trouxe um alívio ao informar que o artista está “sem alterações visuais e com quadro clínico estável, consciente, orientado e com respiração espontânea. Iniciou tratamento específico e hemodiálise para eliminação da substância tóxica. Não há previsão de alta hospitalar.”
Manoela Hungria, irmã do paciente, detalhou os momentos de pânico e a urgência do atendimento médico. Ela descreveu como a situação evoluiu de um mal-estar para uma emergência médica. “Ele me ligou por volta de 8h20 da manhã, falando que estava passando muito mal, que ele estava precisando de ajuda. Eu pensei que ele estava brincando, eu falei: ‘Ai, para, 8h30 da manhã você está passando mal.’ Ele me mandou: ‘Eu estou passando muito mal, eu estou com muito gosto de gasolina na boca e eu estou muito fraco.’ Aí eu assustei,” narrou Manoela.
O cantor alertou que não haveria tempo para ela chegar em casa: “Ele falou: ‘Acho que não dá tempo, chama uma ambulância.’ E eu falei: ‘Nossa, agora.'” A família agiu rapidamente e levou Hungria ao hospital, onde ele iniciou um tratamento incomum para combater a intoxicação.
“Eles receberam e fizeram alguns procedimentos para quebrar o metanol à base de etanol, o que eu nem sabia. Ele teve que beber aproximadamente 200 ml de álcool, porque estavam explicando que o álcool, o etanol, não é tóxico para o corpo. Então, é melhor que tenha álcool do que o metanol, que é tóxico,” explicou a irmã. O tratamento visa inibir a metabolização do metanol em ácido fórmico, o real agente tóxico. O paciente iniciou a hemodiálise, com duração inicial de seis horas, e precisou de vigilância redobrada. “O ideal é que ele não durma, porque esse procedimento pode ter queda de pressão,” afirmou Manoela.
A suspeita de metanol é reforçada pelos sintomas de rápida evolução e o relato do paciente. “A gente acredita que realmente pode ter sido uma intoxicação por metanol, pelo fato dele nunca ter sentido todas essas reações de uma forma muito rápida e pelo fato que ele falou: ‘Eu estou com muito gosto de gasolina na boca.’… O médico foi muito claro, se ele não tivesse chegado aqui rápido, se não tivesse atendimento rápido, a gente poderia ter mais complicações ou de repente até uma notícia ruim.”
Duas Distribuidoras e Garrafas Suspeitas
Manoela Hungria também detalhou a cronologia da compra da bebida, que apontou para a investigação de duas distribuidoras em Vicente Pires. O cantor comprou uma garrafa de vodca em uma distribuidora, que foi compartilhada com amigos, sem que nenhum deles apresentasse sintomas. “Porém, durante a noite a vodca acabou e eles pediram mais em uma outra distribuidora. E só quem bebeu foi o Gustavo dessa outra garrafa,” relatou.
A família recolheu o restante da bebida para análise, buscando esclarecer a origem da possível adulteração. “O nosso departamento jurídico já foi para delegacia para abrir uma ocorrência e para pedir a avaliação e análise das bebidas para a gente saber de qual, de onde foi, porque foram duas distribuidoras no caso envolvidas (a segunda também em Vicente Pires), e investigar se realmente houve alguma adulteração, algo parecido.”
A irmã finalizou apelando pela conscientização: “Quando meu irmão estiver melhor ele deve fazer algum pronunciamento, principalmente no sentido de alertar aos jovens, porque não é uma brincadeira, isso pode realmente levar a um óbito.”
Polícia Civil apreende bebidas e interdita distribuidora
Atendendo à denúncia e ao boletim de ocorrência aberto pela família, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) iniciou uma investigação urgente. A corporação confirmou ter tomado conhecimento de dois incidentes com sintomas sugestivos de intoxicação. Em uma ação conjunta com a Vigilância Sanitária (VISA), ANVISA e MAPA, equipes da PCDF (DRCPIM/CORF) realizaram diligências na distribuidora de Vicente Pires, onde a bebida suspeita teria sido adquirida.
“Na distribuidora, foram apreendidas garrafas de vodca e uísque, que serão submetidas à perícia do Instituto de Criminalística da PCDF. O objetivo é verificar a presença de metanol ou outro tipo de álcool impróprio para consumo,” informou a PCDF.
A ação resultou na interdição da distribuidora pela VISA-DF por não possuir licença de funcionamento. Além disso, a investigação se estendeu a uma rede de supermercados, onde foram recolhidas garrafas de vodca do mesmo lote suspeito.
A PCDF emitiu um alerta à população, orientando os consumidores a estarem atentos a sinais de adulteração nas bebidas: lacres descascando, tampa violada, preço abaixo do mercado ou líquido com micropartículas. As vítimas e demais envolvidos estão sendo ouvidos, e as diligências policiais continuam em andamento enquanto a corporação aguarda os laudos periciais que confirmarão a presença da substância tóxica.