Menu
Brasília

Inspeção nas passarelas subterrâneas

MPDFT classificou passarelas como totalmente inseguras para usuários. Diversas irregularidades foram identificadas pela equipe de inspeção

Lucas Neiva

29/01/2021 6h25

Uma força-tarefa de representantes da Rede Urbanidade, iniciativa do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) para promover a mobilidade sustentável no DF, inspecionou as passarelas subterrâneas de acesso aos dois lados dos eixos na Asa Norte. Diversas irregularidades foram identificadas pela equipe de inspeção, e a vistoria será utilizada em procedimento instaurado pela 1ª Promotoria de Justiça de Defesa da Ordem Urbanística (1ª Prourb)

A inspeção contou com representantes de diversas entidades que formam a Rede Urbanidade. Foram analisadas as condições de deslocamento, acessibilidade, iluminação, condições da infraestrutura das passarelas e procurados pontos de vulnerabilidade para a segurança dos pedestres.

A equipe optou por se deslocar de bicicleta nas passarelas durante a vistoria. “Resolvemos fazer de bicicleta nas passagens justamente para verificar o que os usuários desses espaços enfrentam no dia-a-dia, e também porque um dos objetivos da Rede é promover a mobilidade ativa”, justifica o coordenador da equipe, promotor de justiça Denio Augusto.

A situação de abandono das passarelas é um problema antigo em Brasília, mas a decisão de vistoriar as passarelas nesse momento veio a partir de um procedimento instaurado pela 1ª Prourb que poderia ser complementado pela inspeção da Rede Urbanidade. Denio explica que a força-tarefa já esperava uma oportunidade para fazer essa inspeção. “O assunto foi estabelecido como prioritário pela Rede Urbanidade, justamente em razão do estado de abandono das passagens, o que foi confirmado durante a vistoria”, afirma.

Os elementos que mais chamaram a atenção da equipe foram a falta de iluminação em determinados trechos das passarelas, sujeira e buracos extensos em determinados pontos, comprometendo a segurança de ciclistas e cadeirantes. “Insegurança total para os usuários”, classifica o promotor.

Medo de assaltos

O temor de um assalto nas passarelas subterrâneas é um medo antigo para a população brasiliense. Uma das pessoas que relatam o medo constante é o estudante de ciência da computação Matheus Rodrigues, de 21 anos, que antes do início da pandemia atravessava diariamente a passarela na altura das quadras de número 6 para se deslocar até a faculdade.

“Por mais que os desenhos nas paredes ajudem a me distrair, o medo de chegar até o final e alguém simplesmente levar tudo que eu tenho persiste. É horrível”, relata. Matheus já chegou a arriscar sua integridade em função desse medo. “Teve um dia que eu vi alguém se escondendo. Ao invés de seguir até o final e ser abordado, eu saí no meio do túnel e atravessei por cima do Eixão. Eu ando todos os dias com computador na mochila, não dá para correr o risco”, narra.

De acordo com Wilde Cardoso Júnior, coordenador da Associação Andar a Pé, presente na inspeção, as décadas de abandono nas passarelas envolvem uma questão simbólica na arquitetura da cidade. “As passagens subterrâneas são emblemáticas. Elas simbolizam o que a cidade de Brasília faz com as pessoas: enfia as pessoas em um buraco sujo, escuro, inseguro e abandonado enquanto os carros passam por cima”, declara.

Wilde destaca que a manutenção de alternativas para facilitar o transporte a pé em Brasília não é uma atitude benéfica apenas para a saúde e segurança dos pedestres, mas também para a saúde da cidade como um todo. “Ao se deslocar a pé no lugar do uso do carro, você sai de uma velocidade de 60, 80 quilômetros por hora para andar a cinco por hora. Você vai ver as árvores caídas, os buracos, os desmandos. Você vai ver a cidade de forma natural e ter tempo para refletir ‘por que eu não mudo isso? Por que não ajudo a mudar isso?’”.

Olhar do governo

Consciente da situação de abandono das passarelas, a Administração Regional do Plano Piloto informa que as 16 passagens subterrâneas do Plano Piloto estão listadas dentre as obras prioritárias para 2021. O processo está na fase de elaboração de projeto executivo e orçamento. A manutenção da iluminação tem sido feita pela CEB. A limpeza tem sido feita pelo SLU. Os reparos e limpeza de bocas de lobo são realizados pela administração e Novacap. A pasta também afirma que tem buscado construir estratégia para vigilância e ocupação dos túneis, pois os maiores problemas identificados estão relacionados com vandalismo.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado