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Brasília

Hoyama, o maior de todos!

Arquivo Geral

25/07/2007 0h00


Faltava apenas um ponto para vencer a partida. Mas não era qualquer partida. Valia medalha ouro por equipes, recorde de jogador brasileiro com mais medalhas pan-americanas e ajudaria a deixar o Brasil com a melhor campanha em todas as edições do torneio continental. Títulos demais para um jogador tremendo na beirada mesa. Os 21 anos de experiência com a camisa da seleção brasileira foram transformados no medo de um iniciante. Por sorte, o argentino Pablo Tabachnik errou o saque e entregou, de bandeja, todos os títulos que a vitória traria ao brasileiro Hugo Hoyama.

“Foi o jogo mais importante da minha vida. A raquete tremia na minha mão. Nunca me senti tão nervoso e ansioso. Só acho uma pena minha mãe não estar aqui para ver essa festa linda. Ficou em casa, de molho por que quebrou a perna. Nem deve ter visto pela tevê com medo de ter um ataque do coração”, comemorou emocionado, o jogador paulista.

Hugo venceu a quarta partida da série melhor de cinco da final por equipes do Pan do Rio. Thiago Monteiro e Gustavo Tsuboi foram os dois jogadores que completaram o time do Brasil. “Fazer parte de um momento como esse é um marco na minha história de vida também. No primeiro Pan do Hugo eu tinha dois anos e quando comecei a jogar tênis de mesa pedi um autógrafo para ele. Guardo até hoje. Ele sempre foi meu ídolo e agora divido a mesa com ele”, lembrou Tsuboi.

Com o ouro do trio, a delegação brasileira no Pan conquistou sua 30ª medalha na competição. Pelo menos uma a mais que na edição de Santo Domingo, em 2003. Na disputa particular, Hugo Hoyama ultrapassou o nadador Gustavo Borges e se tornou o brasileiro com mais medalhas de ouro em pan-americanos. Os dois estavam empatados com oito triunfos. Já aposentado das piscinas, Gustavo não poderá empatar.

O time brasileiro chegou à decisão da disputa por equipes contra a Argentina depois de derrotar os canadenses. No primeiro jogo, Hugo Hoyama perdeu. No segundo duelo, Thiago Monteiro empatou a disputa. Nas duplas, Thiago Monteiro e Gustavo Tsuboi venceram fácil. A definição sobrou para o astro do dia. Hugo Hoyama voltou e conquistou o resultado histórico para o esporte brasileiro. Hoje, Hoyama volta a quadra pelo torneio individual.

Abraço histórico no fim

Ao sair da quadra, o primeiro abraço de Hugo Hoyama foi no nadador Gustavo Borges. “Eu sabia que você vinha”, disse Hugo, aos prantos. Pela primeira vez, Gustavo acompanhou uma partida de tênis de mesa. Da arquibancada do Riocentro, torceu aflito a cada lance entre Hoyama e o argentino Pablo Tabachnik. Com direito a algumas levantadas durante os momentos mais tensos.

O nadador aposentado assistiu ao “japonês filho da mãe” bater sua marca de medalhas pan-americanas. Até ontem, Gustavo e Hugo dividiam a liderança com oito ouros cada. “Sempre brincamos. Em Santo Domingo, na Vila, eu disse para ele: seu japonês filho da mãe, abre o olho. Eu vou aposentar, mas você não vai me passar. Mas é tudo brincadeira”, contou. “Estou muito feliz com o que vi aqui hoje (ontem). Tinha que vir trazer minha torcida e meu abraço. O Hugo merece essa conquista. Foi lindo. Recordes existem para serem quebrados. Agora ele também vai parar de competir. Alguém vai ter que fazer melhor”, completou Borges.

O palpite é unânime. Hugo e Borges apostam que o novo recordista saíra das piscinas. Thiago Pereira está bem perto de alcançar o feito. Provavelmente em Guadalajara, no México, em 2011. No Pan do Rio de Janeiro, o nadador se despediu do torneio, no último domingo, com seis ouros na bagagem. “Isso é bom para o esporte. Quanto mais brasileiros baterem esse recorde, mais feliz eu vou ficar”, concluiu Hugo.

Casório fica para depois


Quando a partida acabou, Hugo Hoyama deitou no chão e chorou. Foi levantado pelos companheiros da seleção brasileira e correu para abraçar o pai, na arquibancada. Aos 38 anos, o paulista encerra sua participação em pan-americanos na edição do Rio. Ainda pensa nos Jogos Olímpicos de Pequim, mas já começou a se despedir do uniforme verde-e-amarelo. Até agora, são 12 anos defendendo as cores do Brasil.

Uma história digna de uma despedida inesquecível. Capaz de mudar os planos de casamento. A primeira data para entrar na igreja era 20 de outubro do ano passado. Adiada até o fim dos Jogos da China, em agosto do ano que vem. “Ela entende. Sabe que eu não estou enrolando.

Só que está na hora de pensar na carreira. Em viajar para competir e treinar. Depois, quando eu me aposentar das mesas, teremos tempo para papéis e curtir uma lua de mel em paz e realizado”.

Ícone de uma geração do tênis de mesa brasileiro, Hugo acredita ter sucessores à altura. Melhor do que em sua época, quando carregava sozinho a responsabilidade. Até 1996, dividia o peso com Cláudio Kano. Mesa-tenista e amigo pessoal, falecido  semanas antes da Olimpíada de Atlanta, vitima de acidente de moto.

Foi contra ele a vitória inesquecível na carreira de Hoyama. A primeira medalha de ouro individual na história do tênis de mesa nacional, no Pan de Havana, em 1991. Kano era o favorito do Brasil, mas acabou eliminado nas finais. “Na verdade, esse era meu melhor jogo até hoje (ontem). Agora não tem mais como comparar”.





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