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Brasília

Homem que matou a ex-namorada com golpes de faca no Itapoã foi preso

A ação policial contou com o apoio das polícias Militar e Civil de Goiás e a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF)

Amanda Karolyne

26/08/2024 22h08

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Foto: PCDF

Foi preso nesta segunda-feira (26), Ian de Jesus Oliveira, 26 anos, por matar a ex-namorada Daíra dos Santos Rodrigues, 23 anos, no Itapoã. Esse foi o 13º feminicídio do ano do DF. O autor do crime, que estava acompanhado da irmã, foi preso em um hotel de Formosa. A ação policial contou com o apoio das polícias Militar e Civil de Goiás e a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

O caso está sendo investigado pela 6ª Delegacia de Polícia do Paranoá. A delegada Iris Helena, responsável pelo caso, disse que este foi mais um feminicídio na região do Itapoã e Paranoá recentemente. “Toda nossa iniciativa é no sentido de alertar as pessoas para a dinâmica desse tipo de crime”.

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Imagem: Reprodução

Depois que o crime foi cometido, o autor fugiu do local e a polícia partiu em busca de sua localização. “Estivemos, inclusive, num apartamento localizado aqui no Paranoá, onde ele ficou boa parte da manhã e o início da tarde, mas quando chegamos lá, só encontramos as vestes totalmente sujas de sangue”.

Os investigadores souberam que ele estava a caminho de Formosa, mas segundo a delegada, ocorreu a tentativa de algumas pessoas ligadas ao autor do crime, de dificultar a localização dele. Mas com o apoio da Polícia Militar e da Polícia Civil de Goiás, foi possível prendê-lo nesta segunda-feira. A irmã de Ian, que estava com ele na hora em que foi preso em flagrante, disse aos policiais que era da família e estava o protegendo. Continua sendo investigado o envolvimento da irmã de Ian no crime.

Ian confessou a prática do crime e deu detalhes do que havia cometido, afirmando que foi interrompido na prática do feminicídio. Se for condenado, Ian poderá pegar de 12 a 30 anos de prisão, inicialmente pela prática de homicídio qualificado por motivo fútil – o ciúme e a possessão. “Além dele ter matado uma mulher, o que caracteriza feminicídio, que é o fato da pessoa ceifar a vida de uma mulher, pela sua condição feminina”. Outra qualificadora da pena, segundo a delegada, é a dificuldade da vítima em se defender. “Em tese ela estaria dormindo, embora ele tenha feito uma declaração para o outro delegado que Daíra não estava dormindo, como se isso fosse minimizar o ato de violência”.

O feminicídio

O fato ocorreu no último domingo (25), por volta das 6:30 da manhã, e como descreve a delegada Iris Helena, responsável pelo caso, a polícia tomou conhecimento de uma jovem de 23 anos que teria sido vítima de tentativa de feminicídio.

De acordo com Helena, um vizinho da mãe de Daíra teria visto Ian parado na frente do portão da casa dela. “Ele estava tranquilamente parado e apenas disse que estava esperando pela vítima”. Alguns minutos depois Ian entrou na na residência, quebrou o portão, foi até o quarto da vítima e trancou a porta. A mãe de Daíra se assustou e pediu socorro.

Como descreve a delegada, o mesmo vizinho que havia visto o autor alguns instantes antes, voltou e viu a porta trancada. Ao quebrar a porta do quarto, ele se deparou com a vítima deitada no chão, com o autor sobre ela, dando golpes frenéticos com duas facas na região do peitoral. O vizinho golpeou o criminoso com um mata-leão, pegou a vítima e a levou para o Hospital Regional do Paranoá. “A vítima já estava completamente ensanguentada, ainda deu alguns passos, mas era muito sangue e infelizmente, poucas horas depois ela veio a óbito”.

Daíra e Ian tinham um relacionamento de nove meses. O que chamou a atenção da delegada, que contou que os dois tinham passado uma temporada morando juntos e era uma relação de muita briga e desentendimento. Foram registradas duas ocorrências anteriores ao fato, uma no final de maio e a outra no dia 3 de agosto. “No início de agosto, ela pediu medidas protetivas contra ele, ocorre que como eles moravam juntos anteriormente, ele não chegou a ser notificado porque mudou de endereço. Mas a partir do momento que se iniciou a investigação, nós percebemos que o relacionamento não tinha acabado ainda”. Os dois trocavam mensagens e juras de amor.

Segundo a delegada, na sexta-feira anterior ao fato, a vítima havia apanhado do autor. “Conversando com familiares de ambos, nós soubemos de várias outras brigas, vários outros desentendimentos, mas era sempre o mesmo roteiro: agora eu vou mudar, agora vai dar certo, eu te amo, eu te adoro. Vamos ficar bem”.

Em mensagens trocadas por Ian e Daíra, a delegada destacou o fato da vítima ter a absoluta certeza de que ele não cessaria com a violência, mas não ter interrompido o contato, por acreditar que aquilo não teria o destino prático que teve. “Uma grande característica das mulheres que vivem esse ciclo de violência é de não acreditar e pensar que com elas vai ser diferente”.

Problema cultural

Para Iris, o feminicídio é um problema cultural e ela reitera que as famílias, os amigos e as pessoas do convívio de mulheres que estão em relacionamentos abusivos, precisam ficar atentos aos indicativos de que aquela situação vai acabar em tragédia. “O feminicídio não acontece da noite para o dia, mas vem de um processo de briga, de idas e vindas. Até que a é o fim da vida da vítima”.

Ela salienta que na ocorrência registrada em maio, a vítima chegou até a delegacia machucada e não solicitou as medidas protendidas. Mas quando ela voltou até a delegacia no início de agosto, a situação estava mais grave. “Infelizmente era uma tragédia anunciada”.

Para ela, a cena parece sempre se repetir, já que pouco mais de três meses atrás, ocorreu um caso em que um homem matou a mulher com 52 perfurações no Paranoá. “Nós ainda não temos o laudo médico do caso de Daíra, mas com certeza são muitas perfurações muito violentas”. Iris afirma que não tem a intenção de assustar a população, mas sim de alertar as famílias que esse é mais do que um problema de falta de conhecimento sobre o feminicídio. “Isso só vai acabar, quando houver educação dentro das famílias, dentro dos grupamentos sociais, para que os homens percebam que mulher não é propriedade e sentimento não dá direito a posse, muito menos a encerrar a vida de uma pessoa”.

Segundo a delegada, todos os familiares foram omissos em salientar o fato de que o relacionamento era conturbado, que as brigas, os desentendimentos e as agressões físicas eram contínuas. Nas últimas semanas, Daíra estava dormindo na casa da mãe e Ian estava morando em outro endereço. “Eles estavam separados mas não deixavam de conversar”.

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