“É frustrante”, comenta Maria [nome fictício] ao Jornal de Brasília ao cair a ficha que foi vítima de um novo golpe financeiro. A mulher foi inserida em um grupo no Telegram no dia 7 de março com a proposta de ganhar uma “renda extra” ao curtir produtos em um site falso da Magalu e comprar mercadorias da loja para revenda.
Na primeira mensagem enviada à vítima, os golpistas informam que cada “tarefa”, ou seja, curtidas, trará um ganho entre R$5 e R$10. Atraída pela possibilidade de ganhar uma renda extra, Maria começou a curtir os produtos no site falso da empresa Magalu. No início, os golpistas até fizeram os repasses financeiros relacionados às curtidas. Após isso começa o golpe em si. Já conquistada a confiança da vítima, os golpistas adicionaram Maria em outro grupo, agora, com uma nova proposta.
Ao invés de ganhar somente R$10 com as curtidas dos produtos, os golpistas propõem a vítima que compre algumas mercadorias da loja, que será definida pela própria quadrilha, para que a mesma seja revendida por um vendedor da loja no próprio site. Ou seja, a vítima compra um produto escolhido pelo golpista, a mercadoria continua no site pois, segundo o grupo, será revendida, e após vendida a vítima receberá de volta o valor pago pela mercadoria e um extra pela venda do produto.
Sem perceber que se tratava de um golpe, Maria comprou vários produtos no site falso da empresa Magalu, e em um período de uma semana perdeu cerca de R$85 mil. “No início tive a devolução do valor dos produtos também, mas a partir da segunda-feira (10) parou”, contou. Na segunda-feira (10), com um dinheiro disponível para ser sacado, em torno de R$119 mil, a vítima tentou fazer o saque mas foi informada que teria que pagar um “imposto” para pegar o dinheiro, o que seria em torno de R$32 mil.
Maria pagou o “suposto imposto”, mas mesmo assim não conseguiu fazer o saque. A cada tentativa de resgatar o dinheiro, os golpistas inventaram novas formas de enganar a vítima. “Depois que paguei o imposto tentei resgatar novamente o dinheiro, eles falaram que eu tinha que seguir um passo a passo, mas quando fiz eles falaram que eu fiz algo errado e, por isso, o dinheiro ficou congelado e para resgatar eu teria que fazer um novo depósito”, explicou Maria.
Ao JBr, o advogado Iuri Silva, do escritório Walter Moura Advogados Associados (WMAA), alerta para novos golpes que têm surgido, principalmente, com propostas vantajosas de lucro sem muito esforço.
“A criatividade do golpista tem sido grande, então qualquer sinal de anormalidade tem que ligar um sinal de alerta. Retorno financeiro muito rápido e fácil ou vantagem econômica que você vai obter sem muito esforço já salta aos olhos para olhar aquilo de uma forma diferente”, ressalta.
Além disso, o advogado salienta para observar o site que está sendo disponibilizado, que muitas vezes é quase que idêntico, mas nos detalhes é possível ver a falsificação. “No caso dela [Maria], todos os pagamentos foram feitos por Pix e para pessoas físicas, o que também já é algo que chama a atenção e a pessoa pode se prevenir”, alertou Silva.
“Depois que identifica que você realmente caiu na trama golpista, a primeira coisa a ser feita é cessar qualquer tipo de pagamento. Após isso, procure um advogado e relate o que aconteceu para que seja possível identificar os passos que podem ser tomados dali para frente. É preciso fazer o registro do boletim de ocorrência também”, frisou o advogado.
No caso da Maria, o advogado explicou que como a Magalu não é a responsável pelo site, já que trata-se de um perfil falso, a melhor forma de tentar resgatar o dinheiro será acionando os bancos da vítima (Caixa Econômica e Banco PAN), já que em nenhum momento ela recebeu qualquer comunicação de nenhum dos bancos.
“A estratégia que enxergamos como mais adequada é buscar responsabilização do banco da vítima porque foram transações bancárias que fogem bastante do padrão de movimentações que eram feitas. Eram contas que guardavam a poupança deles, e que não apresentava qualquer tipo de movimentação e a partir do momento que começou a ter uma série de movimentações em um curto espaço de tempo e fora do padrão de movimentação da vítima, deveria ser identificado pelos sistemas de segurança dos bancos, haja vista a atipicidade das transações”, ressaltou o advogado.
Ao JBr, o banco PAN informou que lamenta o ocorrido e ressaltou a importância de que todos os clientes adotem medidas preventivas, como a verificação cuidadosa da identidade de qualquer interlocutor antes de realizar transferências financeiras, especialmente via Pix. “No questionamento enviado pelo veículo, o cliente não reportou qual seria a operação específica, o que impossibilitou uma avaliação mais detalhada para identificar indícios que exigissem bloqueio automático. No entanto, o PAN segue à disposição, por meio dos canais oficiais de atendimento, para prestar os esclarecimentos necessários sobre a movimentação em sua conta corrente”, diz a nota.
“O banco reafirma seu compromisso com a segurança do sistema financeiro e repudia qualquer prática ilícita que prejudique clientes e a integridade do mercado. Seguimos investindo em tecnologia e processos para garantir a máxima segurança das operações e apoiamos nossos clientes com orientações para protegê-los de tentativas de fraude”, completou o banco.

A reportagem também entrou em contato com a loja Magalu para saber se já recebeu denúncias de sites falsos e grupos no Telegram envolvendo o nome da empresa, mas até o momento não recebeu retorno. A Caixa Econômica também foi acionada, mas até a publicação da matéria não se manifestou sobre o caso.