Menu
Brasília

GDF prioriza produção local e abre credenciamento para malharias confeccionarem uniformes da rede pública

O programa Cartão Uniforme Escolar, criado para universalizar o acesso ao vestuário escolar, garante que todos os alunos da rede pública recebam o benefício, independentemente da renda familiar

Camila Coimbra

31/10/2025 18h29

captura de tela 2025 10 21 165727

Fotos: Felipe de Noronha/SEEDF

Depois de um ano marcado por atrasos e falhas na entrega dos uniformes escolares, o Governo do Distrito Federal decidiu apostar na produção local. A partir de 2026, as roupas usadas pelos mais de 400 mil estudantes da rede pública serão confeccionadas por malharias e confecções com sede no DF, em um movimento que busca fortalecer o comércio regional, gerar empregos e evitar os problemas enfrentados em 2024. A medida foi oficializada pela Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes-DF), que publicou o Edital de Chamamento Público nº 03/2025, abrindo o credenciamento de empresas interessadas em participar do programa Cartão Uniforme Escolar. O documento estabelece as regras para que as malharias locais possam produzir e fornecer as peças, com prioridade para empresas que mantenham sede e operação dentro do Distrito Federal.

Em 2024, o fornecimento dos uniformes foi terceirizado para fábricas de outros estados, como Santa Catarina, o que provocou atrasos e falhas na distribuição. Diversas escolas receberam peças em tamanhos incorretos, e parte dos kits sequer chegou a tempo do início das aulas, deixando alunos sem uniforme e gerando críticas de pais e professores. O novo modelo corrige essas falhas e, ao mesmo tempo, estimula a cadeia produtiva local.

Com 40 anos de experiência no setor, o empresário Edmilton das Neves, de 63 anos, vê na medida uma vitória aguardada por quem trabalha com costura em Brasília. À frente da Global Malharia, com sede em Taguatinga e mais duas unidades na região, ele lembra que o setor lutava há anos para que o contrato de uniformes permanecesse dentro do DF. “Há muito tempo a gente briga para que esses uniformes fiquem em Brasília. O ano passado o governo fez fora e teve muito problema. Os uniformes vieram fora dos parâmetros, principalmente de tamanho, e muitas escolas ficaram com peças guardadas, sem uso”, relembra o empresário.

Segundo ele, a capital sempre teve estrutura e capacidade técnica para atender à demanda. As confecções locais, além de experientes, possuem infraestrutura adequada e agilidade para lidar com os prazos escolares. “Quando você fabrica aqui, você também gasta aqui. O imposto circula e todo o comércio de Brasília acaba ganhando com isso. É uma roda econômica que se fortalece”, afirma.

A Global Malharia, que atua com tecidos, aviamentos, sublimação, bordado e produção própria no segundo piso da loja, já se cadastrou para participar do processo aberto pela Sedes. O empresário destaca que a abertura do edital representa mais do que um contrato público: é uma oportunidade de reaquecer o setor e recuperar empregos perdidos nos últimos anos. “Já fizemos a inscrição. Ainda está aberto para quem quiser se cadastrar. É uma oportunidade grande, que vai gerar renda e fortalecer quem passou por dificuldade nos últimos anos”, comenta.

O programa Cartão Uniforme Escolar, criado para universalizar o acesso ao vestuário escolar, garante que todos os alunos da rede pública recebam o benefício, independentemente da renda familiar. Cada estudante terá direito a R$ 282,99, valor que poderá ser utilizado em lojas e malharias credenciadas. De acordo com a Secretaria de Educação do Distrito Federal, para 2026 está prevista a produção de 3.097.356 peças de uniformes escolares, destinadas ao atendimento de 442.479 estudantes da rede pública de ensino.

O crédito é destinado à compra de três camisetas de manga curta, duas bermudas, uma calça e um casaco, totalizando cerca de 2,8 milhões de peças confeccionadas. De acordo com a Sedes, o credenciamento permanecerá aberto durante 12 meses, período de vigência do edital. As empresas interessadas podem enviar a documentação completa em formato PDF para o e-mail credencia.malharias@sedes.df.gov.br ou entregá-la presencialmente, mediante agendamento, na sede da secretaria. O processo é contínuo, o que permite que novas malharias se inscrevam ao longo do período.

O credenciamento é considerado um passo fundamental para garantir que o processo de confecção ocorra com mais transparência e previsibilidade. Cada empresa credenciada será responsável pela produção dentro dos padrões definidos pela Secretaria de Educação (SEEDF), que supervisionará a qualidade, a padronização das modelagens e a distribuição para as escolas.

Apesar do otimismo com a retomada da produção local, o setor enfrenta um desafio crescente: a falta de mão de obra especializada. Edmilton observa que, em todo o país, há carência de costureiras qualificadas e profissionais técnicos, o que pode comprometer a capacidade de atendimento em larga escala. “Temos um problema muito grave com mão de obra, no país todo. Faltam pessoas interessadas e capacitadas para trabalhar com confecção. Mas com o aumento da demanda, teremos que investir mais na formação e contratação de profissionais”, destaca.

Atualmente, a Global Malharia mantém cerca de 50 funcionários, entre costureiras, modelistas e atendentes, mas a previsão é ampliar o quadro nos próximos meses, acompanhando o crescimento da produção. O processo de padronização das modelagens está em fase final, e a expectativa é de que as malharias iniciem a confecção em larga escala no início de 2026. “É uma produção muito grande e não pode ser feita às pressas, mas acredito que até o meio do ano a gente consiga normalizar para que todos os alunos estejam uniformizados”, conclui o empresário.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado