Menu
Brasília

Foco na importância da vida

Setembro Amarelo refletirá sobre o tema. No DF, suicídios reduziram até agosto deste ano

Redação Jornal de Brasília

01/09/2021 7h22

Atualizada 02/09/2021 12h13

Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

Vítor Mendonça e Elisa Costa
[email protected]

“O Setembro Amarelo é mais do que um mês de prevenção ao suicídio – se trata da valorização da vida de cada indivíduo.” Assim define Artur Mamed, que faz parte do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP/DF). Na data de hoje, tem início mais uma campanha de valorização da vida com o Setembro Amarelo. A ação tem como objetivo a promoção de iniciativas que incentivam o bem-estar da população.

Diante da pandemia, período no qual os índices de quadros depressivos aumentaram no mundo, no DF, houve uma queda de casos de suicídios em 2020 e em 2021. No ano passado, foi registrada uma redução de 17,7% – são 158 mortes em 2019 e 130 em 2020, segundo dados da Secretaria de Saúde da capital. Até setembro deste ano, a diminuição é ainda maior. Atualmente, 2021 registra 70% menos casos de suicídio que em 2020, 39.

Dos casos registrados neste ano, 2,5% foram acidentais. E, ainda com base no número geral, 80,74% das vítimas são do sexo masculino, segundo a pasta. “A faixa etária entre os 20 e 34 anos é a que mais registrou óbitos em função de lesões, mutilações ou intoxicações autoprovocadas”, completou em nota à reportagem.

Entretanto, há o problema da subnotificação dos casos, quando os números não são registrados por motivos diversos. Em boa parte das vezes, isso ocorre devido a pedidos de familiares de vítimas pelo momento difícil, mas é uma questão que compromete a construção de estatísticas confiáveis, conforme explicou o psicólogo. Justamente para minimizar a omissão dos casos, foi criada a Lei nº 13.819, de 16 de abril de 2019, que torna compulsória a notificação por parte dos estabelecimentos de saúde públicos e privados às autoridades sanitárias, além também dos estabelecimentos de ensino públicos e privados ao conselho tutelar, especificado no artigo 6º.

O especialista defende, porém, que não se tratam de números. Cada pessoa que tira sua própria vida era um indivíduo de valor, com importância, por mais que, porventura, a ela não parecesse de tal forma. “Não somos números. Uma pessoa que está em crise precisa se concentrar que a vida dela tem importância”, disse.

Associado à saúde mental como política pública, de acordo com Artur, deve-se haver prioridade na maneira como são estabelecidos os modelos de gestão nas instituições, empresas e organismos, a fim de oferecer práticas de valorização entre pessoas. “Os índices alarmantes de suicídio são importantes porque falam diretamente sobre um lapso nas políticas de saúde mental. As mortes estão associadas a quadros que podem ser tratados”, afirmou o especialista.

Para ele, questões emocionais que enriquecem e fortalecem a saúde mental podem e precisam ser tratadas desde a infância, começando dentro das escolas, “automaticamente estaremos prevenindo o suicídio”, defendeu. “Na pandemia vemos que as pessoas perderam um sentido coletivo sobre o valor da vida do próximo. Estamos nos habituando com a ideia de que a vida não tem muito valor. E isso passa uma mensagem errada. Precisamos construir e retomar valores dizendo às pessoas que a vida delas é importante. Apesar do sofrimento, a vida importa”, argumentou o psicólogo. A prática que deve ser feita por cada cidadão, portanto, para combater os índices de suicídio é o ouvir. Se preocupar, perguntar como as pessoas estão, com sinceridade, dá abertura para o diálogo, de acordo com Artur. “As pessoas têm medo de perguntar se as pessoas têm passado por um problema. Mas com cuidado, existe a possibilidade de tratar do problema”.

Preocupe-se com o próximo

“Uma atitude de preocupação legítima de quem está perto. Esta é uma cultura que deve ser espalhada nas empresas, instituições religiosas e diversos outros setores”, disse Artur Mamed, que faz parte do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP/DF).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a “saúde se caracteriza pelo completo estado de bem-estar físico, mental e social, não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade”.

Segundo os dados da OMS, o suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens com idades entre 15 e 29 anos. Em 2019, 700 mil pessoas no mundo tiraram a própria vida – cerca de uma em cada 100 mortes. Segundo dados da Secretaria de Saúde, Brazlândia é a Região Administrativa (RA) com os maiores índices de suicídio e automutilação do DF.

Abordar a temática se faz urgente, uma vez que a própria OMS aponta que pelo menos nove em cada dez mortes por suicídio podem ser evitadas com campanhas de prevenção. Entre homens, os índices de suicídio são consideravelmente maiores, ultrapassando até a maior causa de morte das mulheres no mundo, a tuberculose. “Precisamos falar de uma cultura de valorização da vida. O suicídio, por muito tempo, foi um tabu. Era um tema sobre o qual se entendia que não poderíamos falar. Com o Setembro Amarelo ficou clara a importância”, afirmou Artur.

Saiba mais

A proposta da campanha é associar a cor ao mês que marca o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, em 10 de setembro, conforme é explicado no site da organização. Segundo as instituições parceiras, mais de 12 mil suicídios são registrados no Brasil a cada ano, sendo a maior parte dos casos decorrente de transtornos mentais, como depressão, bipolaridade e abuso de substâncias.

No Brasil, o movimento do Setembro Amarelo foi criado em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Juntos, os órgãos criaram uma cartilha sobre a prevenção ao suicídio, com diversas informações para conscientizar a população. Ela pode ser acessada pelo site.

O CVV, um dos braços da campanha, é uma organização que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária e gratuita aqueles que necessitam de apoio e precisam conversar. Todas as conversas acontecem sob total sigilo, podendo ser feita por telefone, e-mail, chat e voip, 24 horas por dia, todos os dias. A instituição tem parceria com o SUS e a ligação é gratuita por meio do número 188.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado