A família Wenceslau, de São Paulo, não pode mais ouvir falar no nome do lutador Gabriel Mercedes, da República Dominicana. Em dois Jogos Pan-Americanos consecutivos ele venceu os irmãos Marcel e Márcio, tirando deles a chance do ouro no taekwondo. Em 2003, em Santo Domingo, Gabriel eliminou Marcel nas quartas-de-final. Ontem, Márcio sucumbiu aos golpes do dominicano na decisão da categoria até 58 kg e ficou com a medalha de prata.
A final da categoria provocou protestos dos irmãos Wenceslau. Diplomático, Márcio disse na entrevista coletiva que a arbitragem errou na marcação de um golpe. Gabriel Mercedes faturou dois pontos.
Do lado de fora do Pavilhão 4 do Riocentro, Marcel, unido à família para torcer pelo irmão, era mais enfático. “A arbitragem prejudicou o Márcio. O golpe do Gabriel não pegou e os dois pontos não deveriam ter sido computados”, insistiu Marcel, recebendo apoio de familiares e amigos trajando camisetas com nome de Márcio.
A derrota do brasileiro frustrou a expectativa pelo primeiro ouro do País. “Me senti como o Ronaldinho num estádio”, entusiasmou-se Márcio, após garantir, pela manhã, vaga nas semifinais, sendo ovacionado por centenas de pessoas, ao som de gritos de guerra e músicas. Combustível extra para as lutas da tarde.
Apoiado pela torcida, reverteu, no último minuto da luta, desvantagem de três pontos, levando o combate para um round de desempate, após sucessivas punições ao rival. Com o placar novamente empatado, os juízes deram vitória a Gabriel Mercedes.
Abatido, Márcio foi diplomático. Afirmou estar feliz com a prata, mas queria o ouro por ele e o taekwondo brasileiro. O único apoio financeiro do lutador vem do bolsa-atleta (R$ 2500), do Ministério do Esporte, e vendeu o carro para pagar as despesas de viagem para um torneio na Europa.
Chateado, ameaçou. “Em outubro termina a minha bolsa-atleta. Se não encontrar um patrocinador, não tenho condições de seguir treinando”.
Enquanto isso, Gabriel Mercedes festejava o primeiro ouro de sua nação no Pan-Americano, mais uma vez sobre um irmão Wenceslau, a quem chamou de amigo. “Este ouro significa muito para a República Dominicana”, resumiu.
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