Menos de um mês depois de tomar posse, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Bartolomeu Rodrigues, já sabe o que fazer. Ele quer apoiar os diversos projetos culturais existentes na cidade, sem interferir no processo criativo. Para isso, o Fundo de Apoio à Cultura (FAC) de R$ 72 milhões será “pulverizado”, nas palavras do secretário. Além disso, Bartolomeu Rodrigues quer trazer a economia criativa para os projetos culturais de Brasília. “Quem produz algum tipo de arte vai aprender a ganhar dinheiro com a arte que produz.” O secretário adiantou que além da recuperação da Sala Martins Penna e parte externa do Teatro Nacional, Bartolomeu adiantou que pode ser que o GDF consiga recursos para restaurar também a Sala Villa Lobos.
Quais são os seus projetos para a cultura de Brasília, que tem produção cultural tão diversa?
O apoio do estado é necessário, mas sem intervir no fazer cultura. É preciso definir políticas públicas que não representem intervenção na produção cultural. A cultura deve ser espontânea. O estado pode ser uma fonte de incentivo, pode abrir espaços. Agora mesmo estou fazendo um inventário dos espaços de Brasília. Estive recentemente na Sala Cássia Eller e ela está abandonada. O estado não deve ter uma visão de estado; deve ter um olhar de cultura, não chegar baixando regra. Minha missão aqui é acenar para a classe cultural de forma plural. Não quero reinventar a cultura.
Como será a gestão do Fundo de Apoio à Cultura na sua gestão?
O fundo foi uma coisa muito inteligente que se construiu usando as formas adequadas dos recursos chegarem até a ponta. O FAC passará por uma avaliação — não sobre a sua existência ou não, mas sobre o seu conteúdo. Estamos questionando se o FAC está chegando a quem deveria chegar. O FAC já é democratizado, mas, dentro do arcabouço já existente, está sendo pensado de uma forma que estenda mais seus benefícios às pontas. O Fundo atende bastante, mas existem pessoas fazendo cultura que não têm consciência de que ele existe. Precisamos pulverizar os recursos para projetos de menor porte; divulgar mais a sua existência. Ainda existem R$ 25 milhões do FAC do orçamento anterior que estamos tentando recuperar para usar este ano.
E quanto às obras do Teatro Nacional? Já há um contrato assinado para a realização da obra; o que será possível reformar?
Assinei esta semana o convênio que terá a Caixa Econômica com agente financiador para a realização das obras do Teatro Nacional. O valor do convênio é de R$ 33 milhões e será possível reformar a Sala Martins Penna e toda a parte externa do teatro. Mas precisamos considerar atrasos que podem ocorrer devido à necessidade de aprovação do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] por se tratar de restauração de um patrimônio histórico cultural mundial. Eu gostaria que ficasse pronto neste ano, mas não posso garantir isso. Já estamos tratando da possibilidade de incluir a Sala Villa Lobos nas obras de recuperação do teatro. Até há pouco tempo estávamos sem perspectiva de fazer as obras na Sala Villa Lobos. Se pudermos recuperar todo esse teatro, daremos um grande presente a Brasília.
E a Orquestra Sinfônica: continuará alojada no Cine Brasília?
Estamos trabalhando para retirar a orquestra do Cine Brasília. Ela está lá muito improvisadamente. Cinema não é palco para orquestra. Estou receptivo à ideia de trazer a orquestra para o Museu Nacional. Para isso será necessário fazer uma pequena reforma.
Está nos seus planos incrementar o Museu Nacional?
Hoje o museu é administrado por alguém fora da escala, que é Charles Cosac. Ele está reinserindo nosso museu no cenário mundial. No momento estamos com exposição de Rubens Valentim e do Mestre Didi; são duas exposições lindas. Vamos revitalizar essa praça do museu. O bistrô em breve funcionará. A orquestra aqui dará vida a essa praça. Vamos transformar isso aqui num verdadeiro corredor cultural.
E o que a economia criativa pode fazer pela cultura?
A economia criativa vai auxiliar os produtores de cultura a ganharem dinheiro. Esse é um conceito criado pelos australianos e aperfeiçoado pelos ingleses. Nós, no Brasil, ainda patinamos. Mas aqui em Brasília criamos uma espécie de Sebrae da economia criativa. São incubadoras de empresas na área cultural. Estamos tentando sediar a próxima feira nacional de economia criativa. Esse encontro é realizado a cada dois anos e reúne representantes de cerca de cem países.
E qual o projeto para o carnaval de Brasília?
O carnaval será um grande desafio. O carnaval ainda não foi discutido de forma organizada. A gente esquece que, além da alegria, carnaval também é organização. Temos que pensar o que Brasília quer do carnaval, qual a vocação da cidade. Temos que pensar também em como organizar o carnaval numa cidade tombada. Brasília é o maior sítio de tombamento do mundo, mais que o Vaticano, por exemplo. Os nossos legisladores devem pensar em como organizar o carnaval numa cidade tombada. Para evitar o roubo de celulares durante os dias de carnaval estamos pensando em criar uma campanha, para que as pessoas não levem seus aparelhos caros para o carnaval. Existem quadrilhas organizadas, especializadas no roubo de aparelhos celulares; queremos evitar isso.