Daniel Cardozo
Especial para o Jornal de Brasília
Depois de três anos, as escolas de samba do Distrito Federal ganham uma nova oportunidade de participar do Carnaval. As agremiações farão apresentações de uma hora cada em blocos de rua brasilienses. Em 55 anos de história, em apenas sete vezes não houve desfiles e essa foi a primeira sequência de três anos seguidos sem nenhum carro alegórico na avenida. O alento virá em 2017, com a integração ao Carnaval de rua.
O cronograma de apresentações foi divulgado esta semana pela Secretaria de Cultura. As seis escolas de samba do Grupo Especial receberão ajuda do governo para tocar nos blocos de rua com, em média, 50 integrantes, entre músicos e passistas. O investimento será de R$ 300 mil e cada uma ganhará R$ 50 mil. Entretanto, os dirigentes das escolas querem reverter o cenário e cobram a volta do desfile para o ano de 2018. A partir de março, serão realizados seminários para decidir uma forma de viabilizar as próximas edições.
Presidente da União das Escolas de Samba de Brasília (Uniesbe) e da Águia Imperial de Ceilândia, Geomar Leite criticou a priorização dos blocos na liberação de verbas, mas acredita que a situação será revertida nos próximos anos. “Carnaval é a maior expressão cultural do nosso País e não é feita apenas de blocos de rua, mas, sim, de vários tipos de festa. Sei que existe esse movimento de mostrar que as escolas não são necessárias ao Carnaval, mas os homens passam e a cultura fica. Nosso desfile não vai morrer”.
Em conversas com o Governo de Brasília, as sugestões de que as agremiações recorram ao patrocínio da iniciativa privada são recorrentes. No entanto, o terceiro ano seguido sem desfiles e a falta de sedes por grande parte das escolas são fatores que, segundo os dirigentes, dificultam o interesse das empresas de participar do Carnaval. “Sugeri ao governo que criasse uma espécie de ProDF cultural, para possibilitar que as escolas tivessem terrenos. As agremiações só existem graças às comunidades. As sedes próprias seriam uma oportunidade de inserção com pessoas das comunidades”, explicou o presidente da Uniesbe.
A Aruc é a maior campeã do Carnaval do DF, com 31 títulos. Desde sua fundação, em 1961, a comunidade do Cruzeiro abraçou o projeto. Atualmente, a escola é tida como uma das poucas com atividades o ano inteiro e, portanto, com viabilidade financeira. Recentemente, a escola conseguiu a regularização do terreno que ocupa há décadas.
Rodas de samba
A fórmula encontrada pela Aruc para sobreviver aos anos difíceis consiste em eventos que movimentam a comunidade, mantêm o samba vivo e, claro, trazem receita. “Fazemos rodas de samba toda semana e uma vez por mês trazemos um nome consagrado do samba para se apresentar na sede da escola. Por mais que fique faltando o desfile, mantemos as atividades”, contou o presidente da Aruc, Moacyr de Oliveira.
Oliveira comemora o seminário que discutirá o Carnaval, mas acredita que as escolas estão sofrendo com a falta de apoio governamental. Mesmo a contratação do consultor para elaborar um estudo de viabilização de blocos de rua e desfiles não é vista com bons olhos. “Reconhecemos a crise, que não é só do DF, e estamos dispostos a contribuir para a solução. Foi uma piada de mau gosto essa contratação, uma bobagem. Nas escolas temos profissionais que mexem com Carnaval há mais de 40 anos e que poderiam ajudar bastante, voluntariamente”, criticou.
Secretaria sem previsão de verba
A Acadêmicos da Asa Norte também se utiliza da sede para garantir a sobrevivência. Hoje acontece o Baile Vermelho e Branco, que será mais um dos eventos em homenagem à escola, atual tricampeã do Carnaval do DF. O diretor executivo da agremiação, Niro Barrios, cobra a continuidade dos desfiles no ano que vem como uma forma de beneficiar a economia local.
“Além de manter viva a cultura, as escolas geram empregos. Nós empregamos 200 pessoas durante os preparativos para o Carnaval. Hoje em dia temos uma visão diferente no DF. Antigamente, as escolas recebiam dinheiro do governo e contratavam profissionais do Rio de Janeiro. Precisamos criar condições de ter mão de obra própria em todas as escolas”, opinou.
Apesar de não dar previsões sobre a volta do aporte financeiro às escolas de samba, a Secretaria de Cultura garante estar estudando formas de viabilizar os desfiles. Sobre a falta de liberação de recursos para o desfile, via Lei de Incentivo à Cultura, a Secult admite que os valores são elevados demais para que o incentivo seja viável. “Cabe às empresas incentivadoras demonstrar interesse e garantir o patrocínio”, concluiu a pasta.
Programação
Amanhã
Acadêmicos da Asa Norte
- Bloco Concentra mas Não Sai – A partir das 20h, na 404/405 Norte
Águia Imperial
- Bloco Mamãe Taguá – Às 19h30, no Taguaparque (Taguatinga Norte)
Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro
- Bloco Galinho de Brasília – Às 15h, no Setor Bancário Sul (Estacionamento da Caixa Cultural)
Império do Guará
- Bloco Pipoka Azul – Às 21h, na Praça da Moda (Guará II)
Domingo
Bola Preta de Sobradinho
- Carnaval de Brazlândia – A partir das 23h, na Rua do Lago
União da Vila Planalto e Lago Sul
- Bloco Baratona – Às 18h, no Eixo Rodoviário, altura da 108/208 Sul