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Brasília

Endividamento com cartão de crédito atinge 71,5% das famílias no DF

Pesquisa mostra que mulheres e jovens concentram maior parte das dívidas; especialista aponta caminhos para reorganizar as finanças

Daniel Xavier

03/10/2025 20h40

endividamento com cartão de crédito atinge 71,5% das famílias no df créditos arquivo agência brasil

endividamento com cartão de crédito atinge 71,5% das famílias no df créditos arquivo agência brasil

daniel.xavier@grupojbr.com 

O cartão de crédito, visto por muitos como um aliado no orçamento doméstico, tem se transformado em um dos principais vilões do endividamento no Distrito Federal. Dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelam que, em 2025, 71,5% das famílias brasilienses estão comprometidas com dívidas no cartão, incluindo o rotativo.

Apesar do número elevado, o DF aparece em posição menos crítica que a média nacional, que é 13 pontos percentuais mais alta. Ainda assim, os especialistas alertam: a capital federal, marcada pelo alto custo de vida, concentra um perfil de endividamento preocupante, sobretudo entre mulheres e jovens de baixa renda.

Na divisão por faixas de rendimento, o problema se agrava. Entre famílias com até dez salários mínimos, 76,6% das dívidas são com cartão de crédito. Esse recorte abrange tanto trabalhadores de baixa renda quanto parte da classe média, que têm recorrido cada vez mais ao crédito como forma de sustentar despesas básicas.

As estatísticas também apontam que 73,9% das mulheres inadimplentes no DF têm no cartão sua principal dívida. O recorte etário chama atenção: 76,2% dos endividados têm até 35 anos, o que reforça a tendência de que os mais jovens, muitas vezes sem experiência em planejamento financeiro, estão entre os mais expostos aos juros abusivos do mercado.

“Uma armadilha silenciosa”

Para o economista e sociólogo César Bergo, professor de Mercado Financeiro da Universidade de Brasília (UnB) e conselheiro do Conselho de Economia do DF, o cartão de crédito representa uma “armadilha silenciosa”.

“A dívida ruim é aquela feita por impulso, para comprar algo que não precisa, e geralmente financiada pelo cartão de crédito ou cheque especial, que têm as maiores taxas de juros do mercado. Esse é o caminho mais rápido para a inadimplência”, explicou.

Segundo ele, a diferença entre a chamada “dívida boa” e a “dívida ruim” está justamente no retorno que ela proporciona. Enquanto financiamentos voltados à aquisição de bens duráveis, como imóveis ou veículos, podem gerar patrimônio, o endividamento por consumo imediato não deixa nenhum ativo e ainda compromete o orçamento por anos.

O retrato de uma geração endividada

A trajetória da estudante de jornalismo Anna Júlia Gomes, 21 anos, moradora de Ceilândia Sul, sintetiza bem a realidade que atinge milhares de jovens no DF. Aos 18 anos, recém-chegada à maioridade, ela recebeu um limite de crédito generoso de um banco e, sem noção clara dos riscos, começou a gastar em viagens, roupas e aplicativos de comida.

No início, o cartão parecia uma facilidade. Anna também o emprestava para amigas, que prometiam devolver o dinheiro em datas diferentes da cobrança da fatura. O descompasso entre entradas e saídas logo se transformou em descontrole. Quando a fatura chegou acima do valor de seu salário de estagiária, ela recorreu ao pagamento parcial — decisão que a empurrou para o rotativo e os juros altos. “Eu acho que a ficha caiu quando a fatura deu mais que o meu salário. Paguei parcial, foi para o mês seguinte e os juros correram. Foi aí que percebi que estava enrolada”, conta.

Consumismo, falta de planejamento e facilidade de acesso ao crédito formaram a combinação explosiva. Em poucos meses, Anna acumulou dívidas em dois bancos e passou a viver sob pressão. Hoje, admite que a experiência serviu de lição. “Aprendi que o cartão não é salário extra. Se não tiver controle, ele acaba controlando a gente”, reflete.

O caso dela não é isolado. Segundo a Peic, os jovens representam a maior fatia dos endividados no cartão. Para os especialistas, o problema está relacionado tanto ao apelo do consumo imediato quanto à ausência de uma cultura sólida de educação financeira no país.

Saiba mais:

Soluções para sair do vermelho

De acordo com César Bergo, reorganizar as finanças exige método, disciplina e, muitas vezes, ajuda externa. O economista destaca algumas orientações práticas que podem evitar que dívidas no cartão se tornem impagáveis:

  • Plano de ação familiar: envolver parentes e discutir as finanças em conjunto, listando receitas e despesas reais.
  • Definir prioridades: não atrasar contas essenciais, como água e energia, enquanto busca renegociar prestações e empréstimos.
  • Negociar com estratégia: acumular algum recurso antes de procurar o credor aumenta o poder de barganha.
  • Trocar dívidas caras por baratas: em alguns casos, um empréstimo consignado pode substituir o rotativo e reduzir a taxa de juros.
  • Evitar compras por impulso: disciplina no consumo é fundamental.
  • Formar reserva de emergência: guardar pelo menos 10% da renda em poupança ou investimento para imprevistos.

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