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Brasília

Emoção dourada

Arquivo Geral

16/07/2007 0h00

Diogo Silva passou o domingo lutando. Lutou de manhã e à tarde. Mas teve um momento que o paulista de São Sebastião, de 25 anos, parou de bater e começou a chorar. Foi quando, vendo a bandeira brasileira subir ao som do Hino Nacional, se deu conta de que o esforço de vida dos últimos anos dera resultado. Diogo foi medalha de ouro na categoria até 68 kg do taekwondo, a primeira do Brasil nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Emocionado, não conteve as lágrimas no pódio. Mas, logo em seguida, voltou a ser um lutador. Aproveitou a visibilidade que sua conquista teria na imprensa para cobrar apoio à modalidade e criticar seus dirigentes.

O primeiro triunfo brasileiro nesses Jogos foi ao som de uma emocionante contagem regressiva. O público que lotou o Pavilhão 4 do Riocentro acompanhou o fim do combate de Diogo Silva contra o peruano Peter Lopez, medalha de prata, contando “cinco, quatro, três, dois, um!”. Mas o atleta brasileiro não explodiu de alegria num primeiro momento. A luta até que foi fácil, se comparada com a semifinal contra o dominicano Yacomo Garcia – bronze ao lado de Danny Miranda, da Venezuela –, quando levou um chute e caiu no chão. “Mesmo se tivesse quebrado uma costela continuaria lutando”, garantiu Diogo após receber a medalha. Antes, já no clima da torcida, deu a volta olímpica com a bandeira brasileira e subiu na arquibancada para abraçar amigos e companheiros de equipe.

A conquista do ouro Pan-Americano deu a Diogo Silva a sensação de alívio. Primeiro porque ele acredita que o taekwondo terá mais visibilidade a partir de agora – no sábado, Márcio Wenceslau ganhou prata na categoria até 58 kg. Mas a alegria do paulista é porque, segundo ele mesmo afirmou, parou de “bater na trave”. A trave, no caso, era a sina de cair nas semifinais de torneios de grande porte. Ele até hoje não se conforma com o quarto lugar na Olimpíada de Atenas, em 2004. Um ano antes, havia ficado com a medalha de bronze no Pan de Santo Domingo, com mais uma derrota no momento decisivo.

O trauma cresceu e se transformou em ansiedade. No Mundial disputado em maio, na China, Diogo não passou nem da primeira luta. “Refleti muito e cheguei à conclusão de que precisava mudar muitas coisas, mas de dentro para fora.” Era hora de fortalecer a mente, mais do que os músculos. Ele sabia que a pressão por um bom resultado no Rio de Janeiro, onde a torcida estaria toda a favor, seria enorme. Por isso, submeteu-se a um forte trabalho psicológico. Deu certo.

Esforço recompensado

A luta pela medalha de ouro no Pan começou após a decepção de Atenas de 2004. Sem patrocinador, Diogo Silva bancou os treinos com o dinheiro do Bolsa-Atleta (R$ 2.500), dinheiro que perdeu no começo do ano, pois não conseguiu a renovação do contrato. A partir daí, seu único recurso passou a ser a ajuda de custo da Confederação Brasileira de Taekwondo: R$ 600.

“E essa verba sempre atrasava. Saía de três em três meses. Só colocaram em dia por causa do Pan-Americano”, revelou, para depois criticar abertamente os dirigentes da modalidade: “No começo do ano fizemos (a equipe de taekwondo do Pan) uma pauta de reivindicações à confederação, que nos ignorou”.

Criado no Jardim Roseira, bairro pobre de Campinas (SP), Diogo treinou este ano com recursos próprios. Para disputar o Mundial, pegou o dinheiro que estava economizando para comprar um carro para mãe, Dona Telma. “Valeu o  esforço. Durante o Hino Nacional tudo isso passou pela minha cabeça”, concluiu. (M.A.)

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