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Brasília

Direito a acompanhante em procedimentos de mastectomia

Publicada no Diário Oficial na terça-feira (12), a nova lei é válida para hospitais da capital

Redação Jornal de Brasília

14/01/2021 5h50

Mayra Dias
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A humanização do cuidado com as mulheres tem se mostrado em pauta nas últimas decisões do Governo do Distrito Federal (GDF). Na última terça-feira (12), foi divulgada a aprovação de uma lei que garante o direito a um acompanhante para as pacientes que passarem por cirurgia de retirada da mama nos hospitais da região.

“Quando falamos em acompanhantes, principalmente em procedimentos como a mastectomia, estamos falando de rede de apoio”, afirma Thamiris Castilho, psicóloga especialista em saúde da mulher.

A norma, originada de um projeto de autoria do deputado distrital Rafael Prudente (MDB), foi aprovada em segundo turno pela Câmara Legislativa do DF (CLDF) no dia 21 de outubro de 2020, e assegura, em todos os hospitais ou estabelecimentos de atendimento à saúde, seja privada ou pública, o direito das pacientes submetidas ao procedimento estarem acompanhadas durante todo o período de internação e no pós-operatório. “Para que essa mulher consiga enfrentar essa etapa decisiva do tratamento, um acompanhante é muito necessário”, destaca a profissional de psicologia.

Sobre a decisão, Rafael Prudente argumentou que, nos primeiros dias após a realização do processo de retirada da mama, os efeitos colaterais são ainda maiores. Ele diz que qualquer movimentação se torna inviável ou feita com muita dificuldade. “Atividades mínimas, como movimentar os braços para se alimentar ou trocar de roupa, são praticamente impossíveis de serem realizadas. Garantir que alguém possa estar ao lado da paciente operada, que enfrentou todos esses desafios, num momento de extrema delicadeza, é direito básico à dignidade humana dessas mulheres”, disse o deputado.

No entanto, além das limitações físicas, Thamiris Carvalho salienta a importância da presença de um acompanhante, também, para garantir o suporte psicológico à paciente. De acordo com a especialista, a retirada da mama, muitas vezes, carrega um peso simbólico muito forte para essas mulheres, tornando a presença de uma rede de apoio, algo essencial. “Nós sabemos o tanto que isso pode abalar a autoestima, pois estamos falando de um corpo que não será mais o mesmo. O seio representa uma performance da feminilidade, da sexualidade, e nós sabemos como o meio social valoriza esse marcador do feminino”, explica a psicóloga.

Na hora de escolher quem dará esse suporte, Thamiris chama atenção para alguns pontos importantes a serem observados pela paciente. “Sua rede de apoio deve ser pessoas da família, amigos… alguém que a paciente enxerga um cuidado e uma confiança, sabendo que pode contar com ela. É um momento de crise, então é importantíssimo ter ao lado alguém que não irá julgá-la, mas estará disposto a escutar e estar ali apoiando”, esclarece. A profissional ainda acentua outro agravante emocional decorrente da situação, o câncer. “Ela estará passando por essa cirurgia por causa de um câncer, algo que já é muito doloroso de enfrentar”, completou.

A nova lei foi sancionada pelo governador em exercício, Paco Britto (Avante), e começa a valer em 13 de março. De acordo com o texto, em caso de descumprimento da medida, serão adotadas penalidades administrativas para os servidores públicos e, na rede privada, multa no valor de 15 salários mínimos (R$ 1,1 mil) ou cassação da inscrição estadual do estabelecimento. Em nota, a Secretaria de Saúde do DF informou que sempre houve a permissão para acompanhantes após os procedimentos, e apenas não era uma obrigatoriedade, que, após a publicação, vincula as redes hospitalares. A pasta ainda esclarece que, devido à pandemia, cada unidade de saúde adotou seu próprio protocolo para acompanhantes, seguindo a orientação geral de evitar aglomerações.

Retirada da mama afeta emocionalmente

A mastectomia é a retirada completa da glândula mamária, e a sua principal utilização é no tratamento do câncer de mama. Conforme explica o mastologista Gustavo Gouveia, a cirurgia é indicada em casos da doença onde a relação entre o tamanho da mama e o tamanho do tumor seja desfavorável para retirada somente tumor, ou nos casos em que existem vários focos distribuídos por todo o órgão. “Também pode ser feita quando a paciente não aceita a preservação da mama, ou seja, quando ela prefere realizar a mastectomia”, completou o doutor.

Gustavo acrescenta que a internação para este tipo de procedimento cirúrgico é rápida, e, normalmente, a paciente pode ter alta no mesmo dia ou no dia seguinte. No entanto, a questão principal estaria ligada mais ao emocional do que à própria internação. “A mastectomia é uma amputação de órgão, e toda amputação traz um impacto psicológico e significativo aos pacientes. Por mexer com a silhueta, podemos considerar que ela traz impactos psicológicos, sim”, reitera o médico, que atua na área desde 2003. De acordo com a Secretaria de Saúde, entre janeiro e outubro do último ano, foram realizadas 189 cirurgias de mastectomia, menos que em 2019, onde foram realizados 249 procedimentos entre janeiro e dezembro.

Reconstrução mamária

Devido ao impacto psicológico causado por essa intervenção, algumas mulheres decidem por reconstruir o órgão. O cirurgião plástico Gustavo Guimarães, declara que a retirada da mama interfere na sua autoimagem, e, de modo a se sentirem bem novamente, elas procuram realizar a cirurgia plástica de reconstrução mamária. “Quando a gente deixa a paciente sem a mama, pode-se gerar um transtorno de autoestima grave, além de inúmeras sequelas, como transtornos de ansiedade e depressão. A reconstrução mamária tem o papel de resgatar a autoestima e o contorno corporal”, informa o cirurgião.
De acordo com Guimarães, a decisão é tão comum que, inclusive, já é considerada uma das etapas da mastectomia. “Hoje não é um comportamento padrão não reconstruir a mama após a cirurgia. A gente considera a reconstrução imediata na hora que se está fazendo a retirada da mama.

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