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Brasília

Dia de turismo para as delegações da Olimpíada Internacional de Linguísticas 

Os participantes foram conhecer a cidade antes de começarem a competir para valer e também participaram de atividades de raciocínio lógico

Amanda Karolyne

25/07/2024 19h26

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Fotos: Amanda Karolyne

As 53 delegações que estão em Brasília para a 21ª Olimpíada Internacional de Linguística (IOL), fizeram um passeio turístico nesta quinta-feira (25), segundo dia do evento. Além disso, também tiveram uma atividade com o Wikidata. Simultâneo a essas atividades, a edição deste ano trouxe de forma inédita um curso de capacitação para os professores.

O estudante Sócrates Souto, de 17 anos, está participando da IOL pela primeira vez e descobriu sobre o evento na internet. “Eu sempre tive bastante interesse em estudar idiomas e participar das Olimpíadas de conhecimento e ano passado descobri a Olimpíadas Brasileira de linguística”, comentou.  Ele é de Curitiba, Paraná e passou por várias etapas e provas até ser classificado como um dos estudantes brasileiros a representar o Brasil na Olimpíada Internacional em Brasília, que para ele é uma cidade bem diferente e muito própria. Sócrates destacou que neste segundo dia do evento, eles estavam desenvolvendo uma atividade que começou em uma das etapas da seleção. 

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Personagem: estudante brasileiro Sócrates Souto Professora Carla Cristina Campos Brasil Guimarães 

Cada estudante recebeu uma língua aleatória do mundo para coletar materiais e escrever um artigo em português para a Wikipédia para as outras delegações de todos os lugares do mundo estão nos ajudando a complementar cada artigo e adicionar diferentes fonemas de cada língua. “Essa atividade permite que a gente tenha um conhecimento muito maior sobre as línguas ao redor do mundo e a gente consegue ver como cada língua tem a sua diferença e podemos valorizar as línguas de povos que tradicionalmente são invisibilizados”.  

Ele planeja continuar estudando e considera que a IOL o fez chegar a conclusão que prestará vestibular para Linguística. “E também Relações Internacionais que são cursos bem relacionados mutualmente”. Sócrates planeja criar um grupo de estudos na cidade dele para fomentar a cultura de participar de Olimpíadas e se conectar com pessoas do Brasil e do mundo todo. 

Jacob Strömgård, 19 anos, é um dos membros da delegação da Suécia e estava em uma atividade em grupo para desvendar fonemas. Para ele é muito gostoso participar de competições como a IOL. “É divertido resolver esses problemas e fazer todas essas atividades, acho que nós vamos fazer uma excursão para conhecer a natureza no Brasil. Descobrir o país em que estamos é algo que fazemos todos os anos”. Ele se lembra que a última edição foi na Bulgária e foi tudo muito memorável e prazeroso. “É bom ter um resultado positivo nas provas, mas o mais importante é conhecer as pessoas que você nunca teria outra oportunidade de outra maneira. Nós todos estamos juntos praticando um hobby do qual gostamos muito”. 

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Jacob Strömgård em uma atividade com a delegação da Suécia na IOL 

Depois que ele participou pela primeira vez no ano passado, ele tinha certeza que precisava aproveitar a última chance para participar novamente da competição. “Eu me diverti tanto na Bulgária que eu queria fazer isso de novo no Brasil”. Para Jacob, vir da Suécia para a capital brasileira é bem diferente já que ele vem de uma região mais fria. “Se eu não soubesse que estava neste país agora, iria pensar que estávamos no verão”. Jacob está muito animado para ver todas as coisas que o evento e que Brasília tem para oferecer. 

Conhecimento livre

Um dos membros do comitê local da IOL, Arthur Corrêa e Souza, explicou que os alunos passaram amanhã editando dados de fonemas de diversas línguas no Wikidata, a maior base de dados livre no mundo do ecossistema Wikimedia. De tarde, os participantes fizeram uma tour pela cidade. “Cada atividade tem um intuito diferente, esta foi pensada para eles conhecerem o que são as licenças livres e o que é o conhecimento livre”. Nesta sexta-feira (26), os 206 participantes farão a primeira prova individual, concorrendo às medalhas de ouro, prata, bronze e menção honrosa. 

Essa etapa, que ocorre na capital federal, é a última fase das diversas Olimpíadas nacionais de cada país. “O Brasil tem a Olimpíada Brasileira de Linguística, eu faço parte da coordenação, e nós mandamos todo ano, oito alunos para a Olimpíada Internacional. Esses oito alunos estão presentes nesta edição, assim como os outros países”. Os estudantes se juntam para compartilhar conhecimentos, aprendem culturas, conversam sobre diversas línguas e disputam as provas. “É uma celebração da excelência do conhecimento linguístico, da definição linguística, raciocínio lógico e resolução de problemas”, completou Arthur. 

São oito dias de evento e a programação tem momentos pedagógicos, momentos de interação social e cultural, como explica Natália Castro, uma das organizadoras do evento. Ela faz parte do Instituto Vertere responsável pela IOL. “Nesta sexta-feira nós vamos ter uma prova e mais tarde teremos a festa julina”. 

Primeira vez sediando e trazendo inovações para a Olimpíada 

A IOL foi oficialmente aberta na última quarta-feira (24), mas esta edição quer trazer várias inovações para a programação, incluindo o primeiro curso de capacitação para professores que começou no dia anterior à abertura. Um dos coordenadores do encontro de professores, Rodrigo Pinto Tiradentes, afirmou que a equipe deste ano está trabalhando para que isso aconteça novamente nas próximas edições. “O objetivo é aproveitar a confluência das pessoas da Olimpíada Internacional e também dos professores que estão vindo para o evento, para que possam compartilhar os conhecimentos, as experiências que elas têm em relação ao ensino”. A próxima edição da IOL acontecerá em Taiwan e Rodrigo está animado para que isso se repita lá. 

O encontro visa também, impactar as práticas de ensino. “Tudo que está sendo falado nas palestras do curso envolve aprendizagem ativa, criatividade, curiosidade e autonomia em sala de aula. Além do respeito à diversidade linguistica”. 

A maioria dos cerca de 50 participantes do curso é do DF. Fernando Fidelix Nunes é professor de português da Secretária de Educação do Distrito Federal e de linguística da Universidade do Distrito Federal, é um dos professores que fizeram o curso. Para ele este é um evento fundamental para o estudo mais científico da linguagem no Brasil por meio da linguística. “E a linguística infelizmente não é vista por boa parte da sociedade como uma área científica”. O educador acredita que o conteúdo visto por eles na IOL vai ajudar a desenvolver um conjunto de atividades de iniciação aos estudos linguísticos nas escolas de Educação Básica.

Ele acredita que o Distrito Federal pode se tornar um grande centro de estudos linguísticos por meio do trabalho com as atividades das Olimpíadas. “Nós podemos trazer algumas destas questões para a sala de aula, até mesmo para desenvolver o raciocínio lógico dos estudantes em diversas práticas”. O professor de português considera que isso vai ajudar os alunos a compreender o funcionamento das línguas de uma forma mais ampla, principalmente no que diz respeito ao léxico e sintaxe. 

A professora de francês da SEDF do Centro Interescolar de Línguas (CIL) do Guará, Carla Cristina Campos Brasileira, gostou muito da diversidade linguística do curso e citou a palestra sobre tradução que pode ajudar bastante em sala de aula e na vida. “O que eu mais gostei foi que todas as palestras estavam bem direcionadas para poder aplicar dentro do nosso contexto. Eu até pensei em fazer uns jogos com os meus alunos mesmo, como se fosse uma pequena olimpíada”. 

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Professora Carla Cristina Campos Brasil Guimarães

Para Carla, atividades como estas vistas na Olimpíada trazem motivação para os alunos e professores. Como as aulas que ela ministra são em francês, Carla achou interessante que foi abordado sobre o uso do tradutor. “Tem que mostrar para o aluno que ele precisa estar atento às diversidades da língua e que o contexto é importante”. Carla frisa que os alunos fazem uso do tradutor e o importante é não proibir, mas mostrar como usar esta ferramenta. “Precisamos dar sentido ao ensino e trazer coisas que eles estão usando hoje em dia”. 

Ianara Costa é analista de educação do Sesi do Rio de Janeiro e acredita que todos os esforços e espaços na educação estão voltados para as outras áreas. “Quando na verdade, a gente não vai formar bons engenheiros se a gente não começar pelas linguagens, então a gente precisa desse movimento da Olimpíada Internacional De linguística”.

Para ela, esse curso deixa mais claro do que nunca que se o problema de leitura no Brasil for resolvido,  os outros problemas de Educação serão resolvidos em seguida. A professora exemplifica que tudo passa pela escrita, pela fala e pela comunicação, quando lembra que já propôs em sala de aula, um problema de matemática para ser resolvido. “Porque tudo se trata de interpretação de texto”, finalizou.

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