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Brasília

CRETEA-DF é inaugurado e GDF lança aplicativo de triagem em saúde mental

Novo centro na 108 Sul oferecerá diagnóstico e acompanhamento multidisciplinar para crianças com TEA; GDF também apresentou o SamIA, aplicativo de saúde mental com triagem via inteligência artificial.

Camila Coimbra

09/12/2025 19h14

celina

Inauguração do primeiro Cretea do Distrito Federal e do SAMia expande o acolhimento às crianças com TEA e reforça o atendimento à população em questões de saúde mental | Fotos: Lúcio Bernardo Jr./Agência Brasília

O Jornal de Brasília acompanhou, nesta terça-feira (9), a inauguração do primeiro Centro de Referência Especializado em Transtorno do Espectro Autista (CRETEA-DF), entregue pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e localizado na Estação 108 Sul do metrô. Projetado para oferecer diagnóstico precoce, atendimento especializado e suporte a crianças de até 10 anos, o espaço reúne uma equipe multidisciplinar e marca o início da implantação de uma rede pública voltada exclusivamente ao TEA.

Resultado de um investimento total de R$ 747.095,61, o centro possui oito salas destinadas ao atendimento clínico, acolhimento familiar e intervenções terapêuticas. Entre os ambientes estão consultórios, ginásio terapêutico, sala multissensorial, sala de grupos, cozinha experimental — voltada a restrições alimentares comuns entre crianças autistas — e um espaço lúdico. A equipe é formada por psiquiatra, neuropediatra, pediatra, psicólogo, fisioterapeuta, assistente social e fonoaudiólogos. Os recursos vieram do Metrô-DF e de emenda parlamentar do deputado distrital Eduardo Pedrosa.

Além da estrutura, o GDF aproveitou a cerimônia para lançar o SamIA, novo serviço público de assistência em saúde mental baseado em inteligência artificial. O aplicativo gratuito utiliza escalas validadas para identificar sinais iniciais de sofrimento psíquico e orientar o usuário sobre o fluxo adequado dentro da rede, contribuindo para triagens mais ágeis e humanizadas.

Após a solenidade, a vice-governadora Celina Leão reforçou que o CRETEA-DF integra uma política mais ampla de atenção ao TEA. “Nós criamos ontem um centro de pesquisa para fazer estudos sobre o TEA, na Fepec (Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde), dentro da universidade pública. Hoje fizemos a inauguração desse primeiro centro de referência. Nós teremos três no Distrito Federal. Esse é o primeiro; faremos outro na região Norte e outro na região Sul”, afirmou.

Celina também destacou o papel do SamIA no fluxo de cuidado. “O aplicativo vai fazer uma triagem humanizada, avaliar sinais e encaminhar as pessoas para a rede de atendimento, ajudando na obtenção de diagnóstico e no fluxo de cuidado. A gente sabe que precisa melhorar esse atendimento”, disse. A vice-governadora explicou ainda que a política para o TEA está sendo construída em conjunto com a Secretaria de Educação, que prepara centros de referência pedagógica para alunos atípicos. “Eu sei da demanda e da necessidade. Se for preciso contratar mais psiquiatras, faremos isso para que o atendimento tenha uma dinâmica que realmente flua até que os outros centros sejam inaugurados”, pontuou.

Durante a inauguração, uma mãe solo abordou a vice-governadora para relatar dificuldades em obter atendimento psiquiátrico para seus dois filhos adultos autistas, afirmando estar há quatro anos na fila do Caps. Celina reconheceu o problema e disse que o governo está ampliando a assistência também para esse público. “Nossa meta é atender toda a população. Desde que instituímos a Subsecretaria de Saúde Mental, em janeiro, já contratamos 29 psiquiatras. Vamos olhar essa fila para garantir o atendimento integral, inclusive para os nossos autistas adultos”, declarou.

Realidade das famílias do DF

O anúncio do novo centro também reacendeu a esperança de mães que enfrentam dificuldades históricas para acessar atendimentos especializados na rede pública. Entre elas está Nicole Chaiane Marques de Lima, 28 anos, moradora de Santa Maria e mãe de um menino de 10 anos diagnosticado com TEA nível 2 de suporte. Ela conta que o lançamento do CRETEA-DF representou um alívio após anos de espera.

“Meu filho precisa de acompanhamento contínuo e, até hoje, não consegui vaga. Já são quatro anos na fila. Quando soube dessa unidade, senti esperança de finalmente conseguir o que ele precisa para se desenvolver melhor”, afirma. Nicole relata que a dificuldade é agravada pela combinação entre falta de vagas e escassez de profissionais especializados. “A demanda é muito alta e muitos institutos não têm profissionais suficientes. Às vezes encontramos pessoas ainda na faculdade tentando ajudar, mas ainda falta muito.”

Na região onde vive, o cenário é ainda mais crítico. “A saúde pública em Santa Maria é péssima, para ser sincera. Não consigo atendimento para o meu filho”, diz. O único suporte, segundo ela, vem de um pequeno instituto instalado dentro de um shopping da cidade, mantido por doações e com risco de fechar no próximo ano. “Graças a Deus, meu filho conseguiu um psicólogo lá, mas não sabemos até quando o instituto vai resistir.”

Nicole descobriu o diagnóstico do filho, Eitor, aos sete anos e, desde então, abandonou o emprego para se dedicar integralmente ao cuidado dele. “Larguei tudo para viver para ele, correr atrás dos tratamentos e tentar dar o que é melhor. Essa é a realidade de muitas mães atípicas.”

Sobre a localização do CRETEA-DF, ela pondera que o acesso não chega a ser o maior desafio, embora a rotina de deslocamentos com crianças autistas exija mais estrutura. “Para quem mora em Santa Maria, ficou mais ou menos no meio do caminho. Não é longe demais, mas também não é perto. Independente da localização, o importante é abrir mais unidades para atender mais famílias”, diz. Ela também afirma ainda não conhecer pontos de apoio para pessoas com TEA, como o serviço na Rodoviária do Plano Piloto voltado ao suporte durante viagens de ônibus.

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