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Brasília

Confronto de narrativas em Colisão Frontal

Com uma narrativa provocativa, a obra traz um tom debochado e perigoso, do tipo que avança na garganta do leitor e o estrangula com um deleite sádico. A narrativa alterna entre um “bolsominion” radical e uma feminista ultrarradical, vulgo “feminazi”

Redação Jornal de Brasília

03/12/2021 12h43

Amanda Karolyne
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Duas visões extremas do mundo colidem em duas narrativas hostis: Colisão Frontal, novo livro de André Cunha que está em pré-venda com lançamento para o dia 9 de dezembro. A novela é um lançamento do Grupo Editorial Caravana. Com uma narrativa provocativa, a obra traz um tom debochado e perigoso, do tipo que avança na garganta do leitor e o estrangula com um deleite sádico. A narrativa alterna entre um “bolsominion” radical e uma feminista ultrarradical, vulgo “feminazi”. 

O autor da obra, André Cunha, descreve Colisão Frontal como uma novela costurada por duas narrativas complementares, A Garra do Tigre e Dezessete Balas, cujos narradores contam a história um do outro lançando mão de um alto grau de hostilidade. “Dito de forma mais simples, eles se odeiam, e esse ódio permeia todo o discurso, é na verdade a principal característica da trama”, aponta. Em meio a relações tóxicas, cartas anônimas, contas invadidas, agressões covardes, intimidades expostas e cenas repletas de humilhação e depravação, os personagens se locomovem em direção a um desfecho sangrento. Ainda segundo André, não fica muito claro como começou a tensão entre os dois narradores, mas pode ser entendido que os dois tiveram uma relação afetiva no passado, que foi traumática para ambas as partes. A história do livro revela que os dois personagens estiveram envolvidos em um crime sobre o qual cada um tem a sua versão. “Cada um vê o mundo de um jeito, cada um tem a sua versão da história, e são irredutíveis nesse ponto. Não por acaso chamam um ao outro de mentiroso e mentirosa com frequência”, explica.

O título do livro é uma provocação direta com a ideia de duas narrativas colidindo uma contra a outra em alta velocidade, que no final quase ninguém sai vivo. De acordo com André, a inspiração para escrever este livro, veio do clima de intolerância que há no Brasil nos últimos anos. “Outra coisa que me inspirou foi o trecho de uma música chamada “Primavera fascista” que diz assim: “e pra você, meu amigo bolsominion / tem dezessete balas endereçada pro teu peito.” Achei a ameaça de que quem votou dezessete vai ser fuzilado por dezessete balas bem ilustrativa do sentimento que eu queria captar”, destaca. Ele também se inspirou em um vídeo que viu no Youtube sobre o golpe da garra do tigre, que consiste em arrancar a jugular de uma pessoa com uma patada fatal, como um tigre.

Algumas expressões que podem ser encontradas no texto de André, como bicha desgraçada, bicha enrustida, sodomita neocon, gorda feia comunista, gado facho maldito, matadora de bebês, infanticida, coxinha reaça, mocreia, vagaba, mamador de piroca, traveco, baranga, suruba, viadagem, rosetagem, xereca, pederasta, cracuda, revoltodynho, filhote de gonorreia, macho escroto, burguês de merda. “Não faltam situações de mau gosto, embora hilárias”. Como é uma história que aborda a intolerância, André acredita que não dava para usar termos ‘politicamente corretos e bonitinhos’. “A linguagem é chula mesmo”, frisa. Mas segundo ele, tem um tratamento literário, uma mescla de gêneros textuais que dão andamento a trama, como roteiro de cinema, posts em redes sociais e relatos pessoais. Destaque para uma resenha impagável da música Olha a Explosão, do MC Kevinho, escrita por um aluno do curso Masculinismo Patriota. 

Os capítulos são precedidos por frases verdadeiras ditas por influentes personalidades brasileiras. Tais como: “A podridão dos sentimentos homoafetivos levam ao ódio, ao crime, à rejeição” do Marcos Feliciano. “Tem que fuzilar a petralhada”, do Jair Bolsonaro. “Eu sou a favor do assalto” da Márcia Tiburi. Entre outras.

André vê a literatura como uma experiência, uma viagem, uma investigação sobre um tema. O tema em questão abordado em seu livro, é a intolerância. “Se fizer as pessoas pensarem sobre o assunto, ótimo”, diz. Ele conta que se provocar, agredir, insultar, faz parte da leitura. “É um livro intolerante com a intolerância. Intolerável em certas partes”, completa. Mas ele espera que o público se divirta ao ler Colisão Frontal. “Considero basicamente um livro de comédia, com personagens caricatos e situações constrangedoras, uma sátira sobre extremistas”, destaca. Para ele, têm umas cenas bem vergonha-alheia, envolvendo sexo, violência e escatologia. “Quero que o leitor se sinta provocado. Mas estou preparado para o fato de que talvez nem todos se divirtam, há quem possa achar de mau gosto, mas tudo bem”, finaliza.

André Cunha já tem romances publicados como Brasília, GRAVIDADE ZERO, finalista do Prêmio Sesc de literatura de 2015, pela Selo Jovem; a ficção especulativa O FUTURISTA – Reportagens Que Vão Mudar o Mundo, pela Trevo; e os e-books Marcela – Um Thriller Erótico no Primeiro Escalão da República e Macaco Velho na plataforma KDP. Ele também é professor universitário, com mestrado em História Cultural. Mas seu objetivo é alavancar a carreira de escritor. Ele está com planos de escrever um próximo livro com uma narradora feminina ‘meio problemática’. “Mas por enquanto ainda está no plano das ideias mesmo”, afirma. Ele escreve artigos de opinião semanalmente no Jornal de Brasília e colabora com diferentes veículos de comunicação.

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