Quando chegou ao Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), José Borges Filho não sabia se conseguiria se comunicar com a equipe médica. Surdo, ele já havia enfrentado inúmeras barreiras em atendimentos anteriores. Desta vez, porém, a experiência foi diferente. “Me sinto bem e acolhido. São raros os lugares onde vou e sou recebido por alguém com capacidades para me atender”, contou. Para José, o simples fato de ser compreendido trouxe alívio e dignidade ao tratamento.
Do outro lado da relação de cuidado está Gilson Batista Sousa Junior, 28 anos, residente de ortopedia do HBDF. Com deficiência auditiva desde os dois anos, em decorrência de uma meningite, Gilson transformou uma dificuldade em motivação para seguir na medicina. “Cada dificuldade pode se transformar em uma oportunidade de superar barreiras e mostrar que a inclusão é sim possível”, afirma.
Essas histórias se conectam ao trabalho de James de Souza Batista, recepcionista da Hematologia do hospital desde 2018. Fluente em Libras, James foi quem acolheu José e traduziu seus sentimentos em gestos, proporcionando um atendimento mais humano. “Sinto-me privilegiado por saber que, ao chegar, o paciente tem alguém para auxiliá-lo. Coloco-me no lugar deles. Se eu chegasse em um lugar e não pudesse ser atendido, ficaria frustrado”, relatou.
Segundo Luiz Henrique Ramos, chefe do Serviço de Hematologia, Hemoterapia e Transplante de Medula Óssea, a atuação de James vai além do atendimento direto. “Ele é sempre elogiado por todos os pacientes, sejam eles usuários de Libras ou não. James é prova viva de como a inclusão transforma a saúde pública”, destacou.
Tecnologia para autonomia
O Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) tem buscado integrar inovação, humanização e inclusão em seus serviços. Em maio deste ano, Gilson recebeu da Associação Amigos do Hospital de Base um par de óculos de realidade aumentada, que projeta legendas em tempo real. A tecnologia tem permitido ao residente acompanhar conversas, reuniões e até procedimentos médicos com mais independência.
“Essa tecnologia me proporcionou mais autonomia e abre caminho para que outros médicos e estudantes surdos possam enxergar a medicina como um espaço totalmente possível”, afirmou Gilson.
Desafios ainda persistem
Apesar dos avanços, Gilson ressalta que ainda existem desafios importantes. “A maior dificuldade continua sendo a comunicação em situações rápidas, como nas emergências. Um avanço importante seria a implementação de estratégias de equipe com treinamentos prévios para diferentes cenários. O preparo da equipe contribui para um hospital mais inclusivo e eficiente”, avaliou.
No Dia Nacional do Surdo, comemorado nesta sexta-feira (26), o IgesDF reforça que a inclusão na saúde pública depende de múltiplos esforços — desde quem acolhe e traduz até quem atua diretamente no cuidado aos pacientes. Como resume Gilson:
“Nunca permita que o medo dos obstáculos seja maior do que o desejo de realizar seus sonhos.”
Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)