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Brasília

Coleta seletiva no DF perde força e reaproveita só 41% dos materiais

Baixa adesão à separação correta dificulta trabalho de catadores e reduz volume de recicláveis recuperados

Redação Jornal de Brasília

09/12/2025 20h11

Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Por Carliane Gomes

Neste ano, mais de 47 mil toneladas de materiais foram encaminhadas à coleta seletiva no Distrito Federal até setembro. Desse volume, apenas 41% foi reaproveitado, desempenho inferior ao registrado em 2024, quando o índice chegou a 54% a partir de mais de 58 mil toneladas recolhidas. Atualmente, o Serviço de Limpeza Urbana (SLU-DF) mantém 53 contratos ativos com 31 cooperativas e associações de catadores, 22 são voltados à coleta seletiva inclusiva e 31 à triagem de materiais recicláveis. Algumas dessas organizações também prestam o serviço de coleta seletiva. 

Mesmo com essa estrutura, a autarquia afirma que ainda enfrenta barreiras para ampliar o reaproveitamento no DF. Entre os principais desafios estão a baixa adesão da população à separação correta, o descarte de recicláveis misturados à orgânicos e rejeitos e a contaminação dos materiais, o que inviabiliza a triagem feita pelas cooperativas. A estimativa do órgão é de que cerca de 25% dos resíduos enviados diariamente ao Aterro Sanitário de Brasília sejam compostos por recicláveis que poderiam ter outro destino. “Os principais motivos para essa perda de aproveitamento incluem a falta de separação na origem, o descarte incorreto, a mistura com resíduos orgânicos e rejeitos e a consequente contaminação que impede o reaproveitamento”, explicou o SLU.

Para auxiliar a população, o aplicativo “SLU Coleta DF” informa dias e horários de coleta, pontos de entrega voluntária e orientações sobre separação adequada. “De janeiro a setembro deste ano, o aplicativo dedicado à coleta seletiva inclusiva registrou mais de 73 mil atendimentos junto a moradores e trabalhadores domésticos. No mesmo período, as mobilizações realizadas por empresas contratadas alcançaram mais de 100 mil atendimentos”, destacou a autarquia. O SLU reforça que a participação do cidadão é decisiva para melhorar os resultados. A recomendação é separar os resíduos em duas frações: recicláveis, como papel, papelão, plástico, metal e embalagens, e orgânicos ou rejeitos. Cada tipo deve ser colocado para coleta nos dias e horários previstos para a região. Segundo o órgão, a separação correta fortalece o trabalho das cooperativas, aumenta o volume de materiais recuperados e contribui para melhores condições sociais e econômicas aos catadores.

A autarquia destaca ainda que a coleta seletiva tem papel fundamental para a sustentabilidade do Distrito Federal. Além de prolongar a vida útil do Aterro Sanitário de Brasília, o programa reduz custos com aterramento e limpeza pública e amplia o ciclo de vida das matérias-primas. “Do ponto de vista social, o programa fortalece a geração de emprego e renda para milhares de catadores organizados em cooperativas, promove cidadania e contribui para o desenvolvimento de práticas culturais mais responsáveis com o meio ambiente”, pontuou o SLU.

A rotina dentro das cooperativas evidencia o impacto direto da separação correta dos resíduos. Na Coopere, uma das organizações que atuam no galpão do SLU, o trabalho começa assim que o caminhão descarrega o material no pátio. “A primeira etapa é quando o caminhão descarrega. Os trabalhadores colocam o material na esteira e 26 mulheres fazem toda a separação”, explica a presidente da cooperativa, Leidinha Santos. Segundo ela, esse processo garante que os resíduos sigam para prensagem ou venda já organizados. “Quando ele passa para a parte de baixo, já está tudo separado, pronto para ir para a indústria”, afirmou.

Mesmo com a estrutura, a Coopere não realiza a transformação dos materiais. “Nós não fazemos a transformação. Só fazemos a separação adequada e mandamos para a indústria. A garrafa PET, por exemplo, é 100% reciclável e volta totalmente ao mercado.” A cooperativa reúne 50 cooperados, além de dois motoristas contratados, e funciona desde o fechamento do antigo lixão da Estrutural. “A cooperativa tem 17 anos, mas organizada de verdade só tem oito. No lixão, cada um trabalhava por conta própria. Quando o lixão fechou, o governo nos deu um galpão e começamos a trabalhar como cooperativa de fato.”

Leidinha reforça que o trabalho realizado pelos catadores é essencial para o DF. “Aqui nós triamos entre 47 e 60 toneladas de resíduo por mês. Se todo esse material fosse para o aterro, ele não teria vida útil de um ano.” Para ela, apesar da importância do serviço, o reconhecimento da população ainda é insuficiente. “As cooperativas e os catadores avulsos deveriam ser mais valorizados.”Apesar dos esforços, muito material ainda chega sem condição de reciclagem. “Aqui, por dia, são cerca de 7 toneladas que não servem para triagem. Se a coleta seletiva funcionasse melhor, não era para ir tudo isso, mas as pessoas misturam tudo”, pontuou. A mudança, afirma, depende de conscientização. “Essa coleta só vai funcionar muito melhor, uns 90%, quando a sociedade tiver consciência do que é reciclável e dos efeitos do descarte errado. Um aterro estourar é uma tragédia, contamina a água, a terra, as plantas”, destacou.

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