Amanda Karolyne e Luís Nova
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O ato de fé que se faz presente na solidariedade, foi celebrado no Corpus Christi, na Esplanada dos Ministérios, nesta quinta-feira (30). Estiveram presentes na solenidade, em média, 50 mil fiéis das comunidades das igrejas de Brasília. Esse ano, a Arquidiocese coletou doações para os refugiados climáticos do Rio Grande do Sul. Também foi lançado pela Arquidiocese, o projeto “Não Temas, Maria”, na luta contra o feminicídio.
A celebração do evento incluiu uma tarde de louvores a Deus na Esplanada. Depois, às 17h foi celebrada a santa missa, com a procissão que percorreu a Esplanada dos Ministérios.
A aposentada Maria das Graças, 62 anos, é cristã fervorosa e sempre faz questão de passar o feriado de Corpus Christi, na Esplanada com toda a comunidade católica de Brasília. Maria é paraibana e mora na capital desde 1975, então desde que se lembra, participa da solenidade. “Para mim, significa tudo estar aqui, nesse dia que a gente vem representar o povo de Deus”.




Ela não sabia do projeto de doação para as vítimas do RS, mas para Maria, é muito bonito que essa celebração junte oração e o ato concreto de solidariedade para com os irmãos que estão sofrendo. Concentrada nos ritos religiosos que aconteceram durante a quinta-feira, Maria foi com a turma da igreja, e estava na grade perto do altar em oração, depois de se perder dos demais. “Sempre venho para a celebração de Corpus Christi com uma prece em mente”, conta. Para 2024, o pedido dela é para que os quatro filhos se juntem a ela no caminho religioso.
A estudante de enfermagem Grazielly Beatriz, 19 anos, esteve presente na celebração católica pela segunda vez, junto do grupo de jovens que faz parte, o Movimento Juvenito Orionita. Para Grazielly, é uma sensação incrível, a experiência de estar na Esplanada em comunhão com todos os fiéis. “É o dia que a gente vem sentir a presença de Deus e estar mais à frente das coisas também”.
Na paróquia São Luiz Orioni, que Grazielly participa, também teve um projeto de doação para o RS. A estudante considera muito importante esse ato de orar por quem perdeu tudo nas enchentes, junto com a ajuda na prática, observando as necessidades de quem está em sofrimento, para assim, fazer a doação. “É a união da oração e da caridade”.




A Eucaristia e a caridade
Há 46 anos já é uma tradição da Arquidiocese de Brasília, reunir os fiéis em um encontro de celebração na Esplanada. O Cardeal Dom Paulo César afirma que o Corpus Christi é o momento de manifestação pública da católica na Eucaristia. “E este ano nós estamos olhando para a Eucaristia, olhando para a caridade”. Com isso, na solenidade deste ano, a Arquidiocese estava recebendo doações de alimentos não-perecíveis para as vítimas de enchentes do Rio Grande do Sul. “A Eucaristia é o amor de Cristo, e está intimamente ligada à caridade”. A pedido da Arquidiocese, o público foi convidado a doar 1kg de alimento.
Como o Cardeal explicou, as paróquias se envolveram na iniciativa, e desde o primeiro momento da tragédia, fizeram o recolhimento de doações. “Eu digo sempre, solidariedade é uma forma concreta de fé. E hoje queremos que o Corpus Christi seja um grande momento de solidariedade também concreta. As pessoas vão perceber que não estão sozinhas, e a esperança começa a retornar”. O ato de caridade teve a parceria do Exército Brasileiro, para realizar o transporte dos donativos ao final da Solenidade, para ser entregues para as vítimas das intensas chuvas em Porto Alegre. Foram 300 quilos de alimentos doados, e 200 quilos de roupas, segundo o Exército.
Foi lançado na solenidade, o projeto “Não Temas, Maria”, que segundo Dom Paulo, é uma ação para que a igreja esteja ativa na luta contra o feminicídio. A iniciativa será trabalhada nas paróquias da capital e entorno, com ações de formação do Clero e leigos. Além disso, a igreja pretende apoiar e propor parcerias com outras instituições públicas e privadas no combate à violência contra a mulher. “O objetivo é promover a capacitação de agentes que tenham conhecimento adequado para atuarem, especialmente na identificação de possíveis ameaças ou tentativas de feminicídio, para que possam oferecer acolhimento e orientação de encaminhamento dessas mulheres às instâncias responsáveis”, explica Fernanda Alcântara, coordenadora do projeto e Secretária do Setor Pastoral.
Tradição do tapete de Corpus Christi feito pelos fiéis
Foram 600 voluntários empenhados na confecção do Tapete de Corpus Christi na Esplanada dos Ministérios. A tapeçaria tem 125 metros que ficou posicionada no canteiro em frente a Catedral. São 25 quadros, cada um com 5 metros. Toda essa arte sacra representa a chegada de Jesus Cristo a Jerusalém.
Para a confecção do tapete foram usados serragem, borra de café, sal, areia, palha de arroz. Para colorir a arte, os insumos são pintados com tintas líquidas. Os fiéis chegaram cedo à Esplanada, por volta das 6h, para concluir toda a arte até antes do meio-dia.
A irmã Cássia é Apóstola do Sagrado Coração de Jesus, da Asa Sul, chegou cedo para fazer o tapete. Com um imenso sorriso no rosto, a religiosa correu por toda a manhã de um lado para o outro para confeccionar a arte sacra. De acordo com ela, toda a ação é uma renovação da fé cristã e uma celebração a Deus, Jesus e ao Espírito Santo.
“Estou aqui por Deus. É um enorme sentimento de gratidão que sinto a Deus todos os dias. O tapete reflete a Igreja. Tantas pessoas aqui, de todas as idades, isso mostra como a igreja é diversa e ao mesmo tempo unida”, explica a religiosa.
A advogada Érica Muglia acordou cedo para trazer a filha Carolina que é voluntária em confeccionar o tapete. Essa é a primeira vez que a advogada participa desta celebração, mesmo sendo católica.
“É lindo, muito lindo. Sempre vou à igreja, faço todos os ritos, mas nunca tive a oportunidade de vir cedo ver a confecção do tapete. Minha filha está adorando e eu também. Mais tarde também participarei da missa”, conta a advogada.