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Brasília

Arte, afeto e liberdade: Inverso transforma o cuidado em saúde mental no DF

Centro de Convivência em Saúde Mental, Arte e Cultura atua há quase 25 anos na Asa Norte com oficinas e acolhimento a pessoas em sofrimento psíquico, inspirado no legado de Nise da Silveira

Daniel Xavier

29/10/2025 20h25

inverso transforma o cuidado em saúde mental no df créditos divulgação (2)

inverso transforma o cuidado em saúde mental no df créditos divulgação (2)

No coração da Asa Norte, um espaço silencioso e cheio de cores vibrantes, pulsa por uma razão simples e poderosa, o cuidado. O Centro de Convivência em Saúde Mental, Arte e Cultura Inverso, localizado na 408 Norte, abre as portas diariamente para acolher pessoas em sofrimento psíquico, sem internações, diagnósticos impositivos ou rótulos. A proposta é o convívio, a escuta e a arte como instrumento de transformação. Fundada em 2001, no embalo da Reforma Psiquiátrica brasileira, a instituição soma quase 25 anos de atuação no Distrito Federal e se mantém como o único centro de convivência em saúde mental, arte e cultura da capital.

Sem fins lucrativos, a Inverso sobrevive graças a doações, parcerias e projetos culturais, entre eles o fomento da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), que apoia iniciativas de arte e cultura por meio de repasses da União aos estados e municípios. No DF, a parceria é firmada com a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Seec). “A Inverso é uma alternativa aos tratamentos convencionais, como os manicômios. Aqui acreditamos que o cuidado se faz pela arte, pela convivência e pela liberdade”, explica a diretora do centro, Terezinha Rocha, de 73 anos.

terezinha rocha, 73, diretora do instituto inverso e deyvid cardoso, 31, produtor cultural e produtor de eventos créditos daniel xavier (2) (1)
terezinha rocha, 73, diretora do instituto inverso e deyvid cardoso, 31, produtor cultural e produtor de eventos créditos daniel xavier (2) (1)

Terezinha fala com a serenidade de quem viu a transformação acontecer diante dos olhos. “Nós funcionamos de portas abertas. Acolhemos a todos que precisam. Acreditamos no potencial de cada pessoa e na cura pela sensibilidade e pela criação, como ensinava Nise da Silveira”, lembra ela, citando a psiquiatra alagoana que inspirou a luta antimanicomial no país. Segundo Terezinha, a Inverso não é um local de reclusão, mas um território de liberdade. “O transtorno mental não significa que alguém deva ser isolado da sociedade. Pelo contrário, é integrando que se cuida melhor”, declara a diretora.

Arte que cura

inverso transforma o cuidado em saúde mental no df créditos divulgação (1)
inverso transforma o cuidado em saúde mental no df créditos divulgação (1)

Entre pincéis, linhas e instrumentos, a rotina da Inverso é um convite à expressão. O Centro oferece oficinas de música, bordado, escrita criativa, produção editorial e artesanato, conduzidas por voluntários e frequentadores que, muitas vezes, se tornam oficineiros. “Temos vários exemplos de pessoas que chegaram aqui em momentos difíceis e se reconstruíram através da arte. É uma transformação constante”, conta Terezinha, que também ministra oficinas de artesanato.

O produtor cultural e de eventos Deyvid Cardoso, 31 anos, explica que o espaço está em permanente movimento. “A cada semestre, trazemos novas oficinas e parcerias. Já tivemos fotografia, teatro e audiovisual. Este ano, as oficinas de música e bordado acontecem com apoio da PNAB”, relata. Segundo ele, o calendário cultural da instituição inclui ainda celebrações abertas ao público, como o Dia da Consciência Negra e a tradicional Festa de Natal. “E em 2026 vamos comemorar 25 anos da Inverso. É uma luta muito grande manter uma instituição como essa viva, mas é uma alegria imensa também”, afirma.

terezinha rocha, 73, diretora do instituto inverso e deyvid cardoso, 31, produtor cultural e produtor de eventos créditos daniel xavier
terezinha rocha, 73, diretora do instituto inverso e deyvid cardoso, 31, produtor cultural e produtor de eventos créditos daniel xavier

O poder do encontro

A psicóloga Sara Carvalho, que conduz a oficina de bordado, diz que a atividade tem efeito terapêutico imediato. “O bordado é quase uma meditação. Quando a linha entra e sai do tecido, a pessoa começa a falar – das faltas, dos amores, das dores. Outras preferem expressar isso no próprio pano, com cores e formas. É uma maneira de elaborar sentimentos com as próprias mãos”, descreve.

inverso transforma o cuidado em saúde mental no df créditos divulgação (4)
inverso transforma o cuidado em saúde mental no df créditos divulgação (4)

Esse olhar sobre o fazer artístico aproxima a Inverso das ideias de Nise da Silveira, para quem o tratamento em saúde mental precisava de afeto, não de contenção. É uma filosofia que orienta cada detalhe do centro. As oficinas são livres, ninguém é obrigado a participar de nada. Quem chega pode observar, conversar, experimentar. “As pessoas são livres para entrar e para sair. Quem quiser participar, é só chegar”, reforça Giovanna Momenté, secretária-geral do espaço.

A horizontalidade é outro princípio. Não há chefes, mas colaboradores e frequentadores que se ajudam mutuamente. A própria Terezinha é um exemplo disso: chegou à Inverso como frequentadora, participou das oficinas de música e artesanato, e hoje faz parte da diretoria. “A gente se transforma quando usa a arte para alguma coisa. O importante é ajudar”, resume.

Fomento essencial

O apoio da Lei Aldir Blanc tem sido decisivo para manter as atividades e garantir a continuidade do trabalho. “Os recursos públicos nos ajudam a manter as oficinas e a estrutura, mas a Inverso também sobrevive da solidariedade. Quem quiser apoiar, pode doar materiais, divulgar nosso trabalho ou vir conhecer de perto”, convida Terezinha.

Serviço:


Inverso – Centro de Convivência em Saúde Mental, Arte e Cultura
SCLN 408, Bloco B, Sala 60 – Subsolo – Asa Norte
Contato: (61) 98176-2192 (Olavo – assessor de imprensa)

Calendário de oficinas:

  • Música: segunda-feira, das 14h às 16h
  • Artesanato: terça-feira, das 14h às 16h
  • Bordado: sexta-feira, das 10h às 12h

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