Por Marcos Nailton
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O adolescente de 14 anos, que invadiu, atirou e matou uma cadeirante na escola cívico-militar Eurides Sant’Anna, nesta segunda-feira (26), em Barreiras-BA, teria anunciado o plano de massacre nas redes sociais. Filho de um subtenente aposentado da Polícia Militar, ele tinha se mudado a pouco tempo do Distrito Federal para a cidade no oeste baiano. Em um perfil no Twitter, o jovem anunciou horas antes o ataque que faria no colégio.
Segundo informações do jornal O Globo, o estudante postou na internet um manifesto de 29 páginas três dias antes do crime, onde dizia se sentir superior e clamava por supremacia racial. A rede também era utilizada para propagar ódio contra a comunidade LGBTQIA + e nordestinos. Além de exaltar ideias nacionalistas e de extrema-direita.
As publicações foram feitas em uma conta no Twitter, com um pseudônimo. Atualmente o perfil está suspenso por violar regras da empresa. A Secretaria de Segurança da Bahia confirmou extraoficialmente que o perfil localizado pertence ao atirador.
“Saí da capital do Brasil para o merdeste e nunca pensei que aqui fosse tão repugnante, Lésbicas, gais e marginais aos montes, acham que são dignos de me conhecer e conhecer minha santidade. Os farei clamar pela minha misericórdia, sentirão a ira divina”, afirmou o jovem.
De acordo com a Polícia Civil do Estado da Bahia (PC/BA), ele entrou pelo portão principal como os demais alunos. Embora estivesse sem uniforme, o jovem trajava roupas pretas e capuz. Ele pegou o revólver do pai, calibre 38, que estava carregado com seis balas e, segundo o pai, teria sido encontrado pelo jovem debaixo do colchão, onde costumava guardá-lo.
“Desde pequeno sentia-me superior aos demais, alimentava nojo e ódio de grupos do meu convívio, simplesmente não aceitava estar no mesmo lugar que eles, sentia que merecia mais, ou eles mereciam menos, o que importava era estar por cima”, escreveu o adolescente.
Pouco tempo antes do ataque na escola, em sua última publicação na rede social, o jovem deixou claro a intenção de realizar o crime. “Irá acontecer daqui 4 horas e eu tô bem de boa. Estou tão calmo, nem parece que irei aparecer em todos os jornais”, disse.
Segundo o delegado Rivaldo Almeida Luz, coordenador da Polícia Civil da região, o pai do jovem afirmou que escondia a arma e que o jovem não tinha acesso a ela. O adolescente foi descrito pelos familiares como um garoto tranquilo, porém bastante introspectivo. Sem amigos, ele lamentava o fato de ter se mudado para Bahia.
“O pai disse que guardava a arma debaixo do colchão de uma cama e que o garoto não tinha acesso, mas não acredito nessa versão. Ele é um garoto bastante introspectivo que, nos últimos meses, passou a ficar muito tempo nas redes sociais. Os pais não sabiam os tipos de conteúdos que ele consumia na internet”, conta Rivaldo Luz.
O crime
O adolescente chegou por volta das 7h20 de segunda-feira (26) no colégio, já portando a arma. No momento do ataque, pelo menos 40 dos cerca de 400 alunos que estudam pela manhã na escola estavam na quadra de esportes. A arma do atirador falhou duas vezes, possibilitando que os adolescentes corressem e buscassem abrigo nos fundos da quadra ou na rua.
Os tiros efetuados pelo adolescente acertaram a cadeirante Geane da Silva Brito, de 19 anos, que estava no pátio. Além do disparo, ela foi brutalmente atingida com golpes de faca na região do pescoço. Por o colégio não possuir câmeras internas de segurança, os investigadores buscam imagens em residências vizinhas. As aulas foram suspensas até o dia 3 de outubro.
Um vídeo gravado por pessoas no momento do massacre, mostram estudantes saindo correndo em uma cena de desespero. O atirador chegou a ser baleado quatro vezes e levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para um hospital da região. O jovem está hospitalizado sob custódia com o estado de saúde estável, apesar de grave. Segundo a Polícia Civil, o autor dos disparos não pertence a corporação e ainda não foi identificado.
O velório de Geane foi realizado nesta terça-feira (27) em um cemitério de Barreiras-BA. Além dos familiares que compareceram para prestar homenagem à estudante, estiveram presentes alunos de diversas escolas e representantes da direção administrativa do colégio cívico-militar da cidade. A Polícia Civil segue investigando o caso para saber a motivação do crime.