A oportunidade de sediar uma edição do Pan surgiu exatamente pelo fato de o Brasil ser um país carente de políticas públicas de esporte e instalações esportivas. Estranho? Mas foi a possibilidade de mudar esse quadro que convenceu 30 das 51 nações que participaram da eleição do Rio de Janeiro como berço dos Jogos de 2007.
A eleição foi realizada no dia 24 de agosto de 2002, na Cidade do México. Com 21 votos de vantagem, o Rio desbancou San Antonio (EUA). Em seu projeto de candidatura, os norte-americanos apelaram exatamente para o lado oposto dos brasileiros. Mostraram que já estavam prontas todas as instalações necessárias para receber as 332 provas do torneio. “Eles fizeram uma apresentação linda”, reconheceu o prefeito do Rio, César Maia. “Mas foi só aparecer a foto de 180 graus do Rio, com o Corcovado e o Pão de Açúcar, que ouvimos um Ohhhhh!. Aí viramos o jogo e o Rio venceu”, continuou.
Porém, o que realmente sensibilizou a Organização Desportiva Pan-Americana (Odepa) foi o apelo social e ecológico do Pan no Rio. Mas hoje, dia da Cerimônia de Abertura, a certeza é de que os projetos na área de educação, transporte, infra-estrutura e saúde não saíram o papel.
A segurança foi outro fator importante a ajudar na eleição do País como sede. A votação ocorreu quase um ano depois do atentado terrorista de 11 de setembro, nos Estados Unidos. Mesmo com tanta violência urbana no Rio, o Brasil não faz parte do roteiro do terrorismo internacional.
O que também chamou a atenção dos 42 países da Odepa na candidatura carioca foi o engajamento dos três níveis de governo – Federal, Estadual e Municipal. De fato, o Governo Federal ajudou muito. Com estouro bilionário no orçamento, saíram dos cofres da União as últimas injeções de dinheiro para que as instalações fossem entregues. Na época da candidatura, o projeto do Rio estimava um gasto de US$ 178 milhões. Com dólar cotado a R$ 3,70 na época. A prefeitura carioca arcaria com US$ 75,3 milhões, União com US$ 43,5 milhões e o estado com US$ 9,8 milhões. A diferença, o Co-Rio esperava cobrir com a venda de ingressos, direitos de transmissão e licenciamentos. Hoje, o investimento passou de R$ 3,6 bilhões.
A justificativa dos organizadores está nas mudanças das estruturas e instalações. O exemplo mais usado é o Estádio Olímpico João Havelange. No projeto inicial, deveria ter capacidade para 10 mil pessoas. Depois de pronto, pode receber 45 mil. Outra alteração foi no numero de equipamentos esportivos. Inicialmente seriam 26. Hoje são três a mais. “Algumas alterações foram feitas para que o Brasil se credencie da melhor forma possível a sediar a Olimpíada de 2016. De que adiantava construir instalações medianas para depois termos de fazer outras?”, justificou Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB.
Brasília também esteve na briga
Segundo o COB, os cariocas foram os únicos a manifestarem o interesse em organizar os Jogos. Porém, há controvérsias. São Paulo e Brasília também tentaram entrar na disputa e apresentaram propostas. No caso da capital paulista, o projeto foi descartado pelo COB com a justificativa de que as idéias eram primárias e precisavam ser amadurecidas. Na avaliação da entidade, o Rio seria a cidade mais bem preparada e apresentou um projeto que já vinha sendo elaborado com antecedência.
Brasília também quis sediar a competição. Nesse caso, a proposta nem sequer foi analisada. O Comitê argumentou que a cidade não se manifestou no prazo certo. Na versão do Governo do Distrito Federal, o período de inscrições não foi divulgado pelo comitê.
Em 2001, Prefeitura do Rio e o COB cumpriram todas as etapas do processo formal da candidatura. Elaboraram o Caderno de Encargos com os compromissos do Brasil como país-sede do Pan. Juntos, também criaram o Comitê da Candidatura, sob liderança do Comitê Olímpico e a Comissão de Apresentação da Candidatura, com previsão de orçamento partilhado entre os três níveis de governo.
Nessa época, ficou definida que a concentração de eventos dos Jogos seria na Barra da Tijuca, bairro nobre da cidade carioca. Em agosto de 2001, o Rio deu o pontapé oficial ao lançar sua campanha internacional numa Assembléia Geral da Odepa, em Santo Domingo, República Dominicana. Quando o caminho parecia livre, em abril do ano seguinte San Antonio decidiu entrar na briga.
A cidade norte-americana é o berço eleitoral do presidente dos EUA, George W. Bush, com uma forte estrutura para receber os Jogos. Em junho, as duas candidatas receberam visitas de comissões de avaliação da Odepa. Poderia ser o fim do sonho pan-americano do Brasil.
Mas, com ajudinha da sorte, o Brasil voltou a aparecer bem. Por motivos de segurança, Bogotá, capital da Colômbia, não pôde organizar os Jogos Sul-Americanos, previstos para abril de 2002. Quando já se cogitava cancelar o evento, o COB se prontificou a receber os Jogos no Rio, São Paulo, Curitiba e Belém. O episódio levantou a moral da candidatura brasileira.
“Foi a vitória do melhor projeto e das melhores propostas. O Pan vai mudar a história do esporte brasileiro. Os legados serão imensos. Sem falar que derrotamos os Estados Unidos, que não perdem esse tipo de disputa. Essa vitória reafirma nosso compromisso com o Movimento Olímpico e o ideal de fortalecer as Américas”, disse Nuzman, na época, no momento que saiu o resultado. Pela segunda vez, o Brasil conseguiu a chance de sediar os Jogos. A primeira oportunidade foi em 1963, em São Paulo.
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