Lucas Lavoyer e Isa Stacciarini
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A mítica conferida à interrupção do meticuloso calendário maia e o consequente fim dos tempos têm causado alvoroço no cotidiano das pessoas pelo mundo a fora. Principalmente, agora, com a proximidade da data marcada por uma série de profecias – 21/12/2012. Se há um mês o Jornal de Brasília publicou matéria em que poucos acreditavam em um apocalipse inexorável, o mesmo não se pode dizer do momento. Dos Estados Unidos ao Brasil, eventos e mudanças de comportamento aparecem devido a uma sensação do desconhecido, ou de um marketing bem pensado.
Receoso com o fim do mundo, Gilson Vieira, 21 anos, por exemplo, confessa o medo de o mundo ser infestado por um apocalipse. O estudante conta que leu por diversos dias partes da Biblia que, na visão dele, mencionam a infestação da Terra por vírus incuráveis. “Pode ser que na sexta-feira haja um início de uma epidemia que pode se alastrar nos próximos dias”, aponta.
Preocupado, o estudante fala que ele e um grupo de mais três amigos adquiriram objetos que podem servir como sobrevivência ao fim dos tempos. Ele não revelou o que seria, mas disse que começou a guardar várias coisas depois que o assunto foi ganhando uma seriedade maior. “Poucos poderão se salvar. A Bíblia fala que o escorpião nunca se alastrou até hoje, mas esse dia vai chegar e nunca mais ninguém vai achar a cura para esse mal”, acredita.
Paranoia mundial
Se no Brasil poucos se mostram receosos com a possibilidade de o mundo deixar de existir a partir de catástrofes naturais ou arrebatamento de Jesus Cristo, a mídia internacional publica, desde o início deste ano profético, situações que beiram a uma paranoia inimaginável. De acordo com o britânico Daily Mail, três milhões de norte-americanos planejam com detalhes formas de sobrevivência pós-apocalípticas.
Preocupado com a escassez de alimentos depois do 21 de dezembro, um homem de Phoenix (Arizona, Estados Unidos) mantém mil peixes em uma piscina, para se certificar de que haja o que comer por algum tempo após o mundo retornar à idade da pedra. Um casal construiu um forte e estocou armamentos pesados, 25 mil cartuchos de munição e comida para pelo menos 50 anos. Além disso, mais de 300 mil pessoas visitam a página www.survivalblog.com (blog da sobrevivência, traduzido ao pé da letra) por mês.
No Brasil, poucas foram as notícias sobre o assunto que chamaram atenção. Em Teresina (PI), a Polícia Militar prendeu um homem de 43 anos que fazia profecias, assustava conterrâneos e mantinha 120 pessoas alardeadas em uma residência.
Para alguns, data é só motivo para diversão
No DF, o fim do mundo serviu apenas como brincadeira ou tema de festas e eventos, até mesmo esportivos. O educador físico Marcello Almeida aproveitou a proximidade da data para promover uma campanha social, direcionada a ciclistas de Brasília. Hoje ele reunirá amigos e doações e pedalará até Alto Paraíso (G0), num percurso de cerca de 220 quilômetros. “Anunciei o evento no Facebook, muitos amigos confirmaram, mas sei que nem todos vão. Espero reunir entre 15 e 20 pessoas pelo menos. Eu, particularmente, não acredito no fim do mundo, mas quero passar um tempo em Alto Paraíso”, comentou. Alimentos, roupas e donativos podem ser entregues no Eco Pedal, na 307 Norte, entre 9h e 19h.
Se no 21 de dezembro houver alguma coisa que realmente faça o Planeta Terra voar pelos ares, ocorrerá sob o som de música eletrônica, na festa F.D.M. – Fim do Mundo. O evento será organizado no Clube de Engenharia de Brasília, a partir das 22h, com ingressos entre R$ 40 e R$ 100. Já na propaganda, a proposta é de fácil entendimento: “O mundo vai acabar e você vai ficar aí parado?”.
Sem medo
Nos últimos anos, inúmeros sites foram lançados a partir do tema. Entre as páginas do Brasil, o endereço www.ofimdomundo.com.br está entre os que mais recebem acesso de internautas. Em novembro e até meados de dezembro, foram 53 mil e 93 mil presenças respectivamente. Por dia, a ideia veiculada pela Rede Novo Templo de Comunicação, de Jacareí (SP) reúne mais de cem comentários. Poucas mostram medo ou preocupação com eventos que possam destruir o planeta. O site surgiu após um filme relacionado à profecia maia de 2012, com catástrofes naturais.