Menu
Brasil

Queima histórica no Pantanal pode chegar ao Cerrado, diz professor

Considerado o pior cenário dos últimos 22 anos, de acordo com o ICV, as queimadas no Pantanal este ano vêm preocupando uma série de especialistas e moradores

Agência UniCeub

16/09/2020 19h30

Incendios florestais entre Miranda e Corumbá BR 262 e MS 184

Júlia Morena e Marina Torres
Jornal de Brasília/Agência UniCEUB 

As consequências do devastamento do incêndio do Pantanal não têm limites territoriais e podem chegar até o Cerrado, como explica o professor Eraldo Aparecido, pesquisador de Incêndios Florestais, da Universidade de Brasília (UnB). ”Os impactos ambientais causados no Pantanal se estendem para outros biomas como o Cerrado, pois na natureza não existe um divisor linear entre diferentes ecossistemas que separa a fauna e flora. O que ocorre na prática é que existem corredores ecológicos que conectam e garantem a integração e a conservação da biodiversidade dos dois biomas. Neste ano, várias áreas desses corredores ecológicos Pantanal/Cerrado estão sendo fortemente atingidas pelo fogo, comprometendo vários ecosserviços e a proteção da biodiversidade nos dois biomas.”

Considerado o pior cenário dos últimos 22 anos, de acordo com o Instituto Centro Vida (ICV), as queimadas no Pantanal este ano vêm preocupando uma série de especialistas e moradores da região, além movimentar as redes sociais com imagens e mensagens de apoio. Localizado nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, a área do Pantanal corresponde a 15 milhões de hectares. Desse espaço, cerca de 15%  já foi devastada pelo fogo, de acordo com o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) na segunda-feira (14/9), já foram registrados 14.489 focos de incêndio no Pantanal em 2020; um número que cresceu 210% em relação ao ano passado, em que foram registrados 4.660 focos. No mês de julho, foram registrados 1.684 pontos de focos de incêndio no Pantanal, o maior para o mês desde o início da coleta de dados em 1998 pelo Inpe, sendo 3,4 vezes maior do que o ano passado. Os dados de agosto também não foram animadores: 5.935 focos de calor detectados no bioma; o maior número desde 2005.

A onça é um dos animais ameaçados com incêndio. Foto: Wikipedia Commons

Segundo Eraldo Aparecido, professor de Incêndios Florestais, da Universidade de Brasília (UnB), o bioma Pantanal é considerado um dos m

Segundo Eraldo Aparecido, professor de Incêndios Florestais, da Universidade de Brasília (UnB), o bioma Pantanal é considerado um dos mais ricos em biodiversidade animal no mundo. É também um bioma muito sensível, especialmente aos eventos de incêndios florestais. ”A preservação do Pantanal é essencial para a manutenção dessa biodiversidade única do planeta, com valores imensuráveis do ponto de vista ecológico e econômico. É uma riqueza natural dos brasileiros e de toda humanidade”, comenta.

Apesar de ser um patrimônio natural em nível mundial, apenas 4,6% do Pantanal está protegidos por unidades de conservação. Deste percentual, 2,9% correspondem a unidades de proteção integral e 1,7% de uso sustentável, segundo o Ministério do Meio Ambiente. Entre as Unidades de Preservação estão as seguintes: Parque nacional do Pantanal Matogrossense, Parque Estadual Encontro das Águas, Reserva Particular do Patrimônio Natural Sesc Pantanal, Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro e Parque Estadual do Guirá.

Além das regulações, é fundamental que a população tenha consciência de sua responsabilidade social em preservar esse patrimônio, como, por exemplo, na obtenção melhores informações a respeito dos riscos dos incêndios. ”O uso do fogo pode ser adotado, mas deve-se ter critérios bem rigorosos, pois são estas as principais fontes dos incêndios causados em todo o país. É preciso estruturar brigadas de incêndios para atuar em nível local. É preciso focar na prevenção e na educação de todos sobre os incêndios florestais”, afirma o professor da UnB. Eraldo também ressalta a importância da punição àqueles que não cumprirem com sua responsabilidade social: ”é preciso pensar em políticas públicas mais rigorosas para punir culpados e ações criminosas.”

A situação da fauna em meio às queimadas ainda não pode ser avaliada no geral, como explica o professor. ”Mesmo porque os incêndios ainda não foram todos extintos e continuam atingindo várias partes do Pantanal. Mas é possível afirmar que há risco de extinção de espécies endêmicas, que ocorrem em determinadas regiões geográficas, e que podem ter sido atingidas pelo fogo”. Eraldo ainda ressalta o processo de recuperação da fauna e da flora, o qual pode levar anos ou décadas, se outros eventos de fogo não voltarem a ocorrer.

Devido ao baixo percentual de terras devidamente protegidas, diversas ONGs atuam no Pantanal em prol da conservação ambiental e da conscientização social a respeito do bioma. Além das atuações costumeiras, muitas dessas ONGs estão à frente do combate aos incêndios no Pantanal, dentre as quais destacamos:

Onçafari

Para quem tem o querer de conhecer de perto a fauna do pantanal, recomendamos a ONG Onçafari. A Organização é dedicada à conservação da fauna e dos habitats naturais brasileiros por meio do ecoturismo, contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico do país. No Pantanal, a entidade realiza frentes de ecoturismo, ciência, educação, reintrodução de espécies nativas e conservação de florestas.

Um dos projetos da ONG, Onçafari Ecotourism, trabalha para habituar animais, como a onça-pintada e o lobo-guará, à presença de veículos. À medida que os animais se acostumam com a presença dos carros de safári, deixam de encará-los como uma ameaça e ficam mais à vontade, o que facilita o desenvolvimento do ecoturismo na região.

Os encontros com onças e lobos permitem que os visitantes aprendam mais sobre as espécies, conscientizando-se da importância desses predadores na natureza e envolvendo-se em seu processo de conservação. Parte do trabalho de conscientização

engloba palestras sobre essas espécies e outros animais que convivem no mesmo bioma. São aulas ministradas em escolas e universidades brasileiras e estrangeiras, assim como para os hóspedes que visitam o Onçafari.

Por meio da renda e conscientização gerada pela visitação ecoturística, os moradores e proprietários de terras passam a valorizar as espécies nativas passam também a protagonizar na conservação do ecossistema no qual vivem e trabalham.

Doações: https://oncafari.org/doe-agora/

Instituto SOS Pantanal

O Instituto Socioambiental da Bacia do Alto Paraguai SOS Pantanal é uma organização não-governamental, privada, sem vínculos partidários ou religiosos e sem fins lucrativos. Lançada em julho de 2009 tem a missão de informar e promover o diálogo para um Pantanal sustentável. O Instituto promove a gestão do conhecimento e a disseminação de informações de forma clara, alcançando os principais stakeholders (governos, formadores de opinião, grandes empreendimentos, fazendeiros e pequenos proprietários de terra da região) e a população em geral, de forma a sensibilizá-los e desencadear impactos positivos para a conservação e desenvolvimento sustentável do Pantanal.

Doações: http://www.sospantanal.org.br/doacoes

Ecoa no Pantanal

Há mais de 30 anos a instituição trabalha diretamente no território do bioma do Pantanal e na Alta Bacia do Rio Paraguai, onde a equipe realiza pesquisas, desenvolve projetos, monitora problemas sociais e ambientais. Neste momento a ONG Ecoa junto com a WWF está promovendo cursos para a formação de mais quatro brigadas permanentes para o combate aos incêndios no Pantanal.

Qualquer valor pode ser doado no site da instituição.

Doe em: https://ecoa.org.br/apoie/

Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não se posicionou sobre o assunto.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado