Menu
Brasil

Quatro instituições trabalham com poucos recursos para desenvolver vacina contra a Covid-19

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais e o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) planejam realizar testes pré-clínicos, em animais, nas próximas semanas

Redação Jornal de Brasília

09/06/2020 13h03

Enquanto em alguns países as pesquisas por uma vacina para o novo coronavírus estão avançadas, no Brasil os estudos ainda estão nas fases preliminares. Quatro grandes instituições brasileiras trabalham para desenvolver um composto capaz de imunizar contra a Covid-19. No entanto, essas instituições apresentam poucos recursos e estão muito distantes de realizar testes em humanos, fase crucial para o alcance de um resultado satisfatório. 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Minas Gerais e o Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) planejam realizar testes pré-clínicos, em animais, nas próximas semanas. Essas instituições são as que estão mais próximas de obter algum resultado. Já o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) passa por uma fase conceitual da pesquisa, em que pretende decidir a estratégia a ser seguida. Por fim, o Instituto Butantan, em São Paulo, realizou a encomenda do material genético do vírus para dar início ao estudo.

Ao todo, a OMS lista 133 estudos de vacinas contra a Covid-19. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) investiu R$ 50 milhões, que serão disputados pelas pesquisas que tiverem participação no edital lançado pelo conselho. Do total do recurso disponibilizado, cada pesquisa com testes clínicos poderá contar com apenas R$ 8 milhões. O resultado do edital está previsto para o próximo dia 15.

Alexandre Machado faz parte do Grupo de Imunologia de Doenças Virais da Fiocruz Minas, que conta com 12 pesquisadores, a maioria alunos de pós-graduação, que dedicam-se a desenvolver uma vacina para a Covid-19. “Estamos atrasados e temos pouco dinheiro, infelizmente. Investir numa vacina brasileira é estratégico por dois motivos: soberania nacional e independência tecnológica. Há países que já compraram centenas de milhares de doses antes mesmo de a vacina estar pronta. Haverá vacina para todo mundo? Será que uma única dose dessa vacina vai proteger? E por quanto tempo? Será que um mesmo paciente não terá de ser vacinado duas ou três vezes por ano? “, relata o pesquisador.

O pesquisador Alexandre Gazzinelli lidera o Grupo de Imunopatologia da Fiocruz Minas e também coordena o Instituto Nacional de Ciência e tecnologia em Vacinas (INCTV). Alexandre informa que, fazendo uma previsão bastante otimista, os testes clínicos em animais serão concluídos até o final deste ano. O Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) apresenta um cronograma similar. 

Estratégias distintas

A pesquisadora Natalia Pasternak, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, diz que “a vantagem de haver tantas estratégias distintas sendo testadas é que se pode supor que ao menos uma ou duas poderão funcionar”.

“É preciso lembrar que estamos falando em vacinação para sete bilhões de pessoas. Não vamos conseguir isso com uma única formulação vacinal”

O diretor do ICB-USP Luiz Carlos de Souza Ferreira explica que o grupo aposta em três estratégias distintas. As pesquisas estão divididas em estudos de DNA, RNA e nanopartículas. A previsão dos pesquisadores é de iniciar os testes em animais até o final deste mês.

“Esse é um vírus novo, com características peculiares e, como não se tem uma formulação clara da resposta imune, decidimos usar três possibilidades. A partir da resposta de cada uma, vamos escolher o caminho a seguir. O que me preocupa é o abismo que vamos encontrar quando tivermos uma possibilidade: como produzir isso? E antes: como viabilizar os testes em humanos?” questiona Luiz Carlos, que também concorre aos recursos no edital do CNPq.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado