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Brasil

Primeiro foi a lama, depois o óleo; conheça o drama de comunidades pesqueiras do ES

“O pessoal está mais preocupado com o turismo do que com a pesca”, diz trabalhador

Agência UniCeub

14/11/2019 16h35

Gabriela Gallo e Luiz Eduardo Certain
Jornal de Brasília/Agência UniCeub

Comunidades do litoral norte do Espírito Santo tiveram em quatro anos dois impactos transformadores no dia a dia da pesca. Primeiro, no Rio Doce, quando há quatro anos, o rompimento da barragem de Mariana (MG) intoxicou a água, a fauna e flora. Com o rio destruído, os pescadores passaram a focar o trabalho no mar. O problema é que o óleo que afetou inicialmente a costa nordestina também chegou ao Espírito Santo, o primeiro estado do Sudeste a ser atingido. “O pessoal está mais preocupado com o turismo do que com a pesca. Se o óleo ficasse apenas no mar e não encostasse na praia onde banhista fica, afundasse ou sumisse, ninguém ligaria”, comenta o pescador Leandro Paranaguá, da cidade de Conceição da Barra. Ele esteve na Câmara dos Deputados em uma audiência pública que discutiu providências sobre os desastres ambientais. Conceição da Barra é uma região de pesca de camarão. Agora, os pescadores já sentem os efeitos da contaminação do óleo.

Leandro Paranaguá em sessão no Plenário sobre os impactos de Mariana. Foto: Ana Clara Avendaño

Pescadores reclamam da falta de uma assessoria técnica e a escassa cooperação das empresas responsáveis pela barragem, que implementaram a Fundação Renova. Para eles, os empresários dificultam o acesso das vítimas à cuidados básicos.  “É muito pouco o que a Renova está fazendo. Ela vai na nossa comunidade, paga duas pessoas e o resto fica contra aquelas pessoas que receberam, essa é a estratégia dela. Nós precisamos de apoio político mesmo, não só de deputados capixabas mas de deputados do Brasil”, diz o pescador Leandro Paranaguá.

O promotor de Justiça André Sperling Prado (do MP-MG) afirmou que  um estudo da Universidade Federal do Espírito Santo indicou que os níveis de metais pesados na foz do Rio Doce no litoral do ES estão maiores do que na época do rompimento. “Não cabe ao causador do dano definir qual vai ser a indenização e quem é a sua vítima isso é um absurdo que está ocorrendo”, disse o procurador.  Para o pescador Leandro Paranaguá, há consequências na saúde. “Os verdadeiros ribeirinhos, que moram na beira do rio, nas barreiras de Conceição da Barra, pessoas com problemas de rins, porque água que já não tem e está pior”. 

Aborto

Para Tchenna Fernandes, representante da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), diz que mulheres no Espírito Santo têm sofrido abortos espontâneos por conta da contaminação da água. Além disso, segundo a advogada, as mulheres têm dificuldade de requerer direitos. “Não há equidade no processo de reconhecimento e reparação das mulheres. Elas estão recebendo menos e não estão sendo reconhecidas como atingidas, essa foi a nossa denúncia junto com a defensoria no cinco de novembro do ano passado”.

Tchenna discursando em plenário sobre os 4 anos do rompimento da barragem. Foto: Ana Clara Avendaño

Além disso, a representante compara os 4 anos do rompimento da barragem à construção da barragem de Belo Monte (PA), que é uma das maiores do mundo e foi construído em três anos. “Como é que você não consegue construir um reassentamento de 20 casas em três anos?”, questiona Tchenna sobre a situação que até hoje não foi resolvida pela Renova. “Em quatro anos de crime dessas empresas, a gente não tem um tijolo cimentado em Bento Rodrigues, em Gesteira, em Paracatu de baixo e toda a região atingida. Esse período foi suficiente para essas empresas reconstruírem a barragem da samarco, baterem recordes de lucro trimestrais e não foi tempo suficiente para construir sequer uma casa”. O MAB lançou o projeto “A Vale destrói, o povo constrói” com o objetivo de ajudar na construção de casas para as pessoas afetadas pela barragem. O projeto está disponível no Catarse

 

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