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Brasil

Polícia busca suspeitos de linchar estudante que acampou em praia do Guarujá

A esposa de Kauan, Larissa Francielle, conta que ela, o marido e uma amiga comum decidiram passar o fim de semana no Guarujá e acampar na prainha

Redação Jornal de Brasília

17/08/2020 16h34

Foto: Reprodução

A Polícia Civil do Guarujá, no litoral de São Paulo, realizava buscas na tarde desta segunda-feira, 17, na tentativa de localizar suspeitos de agredir até a morte o estudante Kauan da Silva Soares, de 17 anos, após desentendimento pela montagem de uma barraca na Praia Branca, uma das mais belas da região. De acordo com familiares da vítima, o rapaz foi linchado no sábado, 15, por seis homens, entre eles pescadores, por ter demorado a desmontar a barraca na praia. Segundo a família, ele teve costelas quebradas e o pulmão perfurado devido às agressões.

A esposa de Kauan, Larissa Francielle, conta que ela, o marido e uma amiga comum decidiram passar o fim de semana no Guarujá e acampar na prainha. “A gente chegou sexta à noite, por volta das 11 horas. Dormimos na barraca e no dia seguinte levantamos bem cedo. Não tinha muita gente na praia e um senhor chegou até a gente e pediu para desmontar a barraca porque estava chegando a fiscalização. Ele falou que a gente podia montar de novo à noite”, lembra.

Conforme relatou à reportagem, logo depois o homem voltou a interpelar o grupo. “A gente estava tomando café dentro da barraca e falou que já ia desmontar. Aí nós três fomos molhar o pé na água, mas o mesmo cara passou pela terceira vez e tinha mais cinco homens com ele. De novo mandou desmontar a barraca e meu marido, que tinha acabado de beber e estava um pouco alterado, xingou um deles. Ele achou que eles não iam ouvir, mas eles ouviram e voltaram.”

Segundo a jovem, o que se seguiu foi um massacre. “Meu marido tinha 17 anos e os caras eram todos homens. Um já foi batendo no meu marido, outro pegou ele por trás e começaram a linchar ele no meio da praia. Deram chutes na costela, na cabeça, na cara”, lamenta.

Larissa conta que correu até a barraca onde havia um canivete que eles levavam para se defender, caso houvesse alguma tentativa de assalto, pois estavam com dinheiro.

Ela usou o objeto para tentar deter um agressor. “Peguei o canivete, corri até o cara que estava chutando a cabeça dele e enfiei nas costas dele. Aí falaram que a gente estava com faca. Pararam de bater no meu marido e vieram atrás de nós. Um deles deu dois socos na cabeça da minha amiga. Depois um deles pegou um bambu e deu na minha cabeça, pegou o canivete e todos saíram andando.” A jovem ressalta que depois Kauan começou a passar mal, reclamou que estava cansado, com sono e precisava dormir. O rapaz reclamava de dor no corpo, dizia que os agressores tinham ‘zoado’ a costela dele.

Embora não estivesse bem, segundo a esposa, Kauan foi com a amiga procurar uma pousada para alugar. “Não passou dez minutos, minha amiga veio chorando, falando que ele não estava bem, com dificuldade para respirar e precisava de mim. Larguei tudo e corri, mas quando cheguei meu marido já estava no chão, sem vida, sem nenhum batimento, sem respirar, sem nada.” Elas gritaram por ajuda e o Corpo de Bombeiros foi chamado.

Os bombeiros acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e Kauan foi levado ao pronto-socorro mais próximo, no Hospital Municipal de Bertioga, mas já chegou sem vida. Segundo o hospital, a equipe do Samu fez manobras de ressuscitação, sem sucesso. O corpo passou por perícia no Instituto Médico Legal (IML) e foi levado para o velório em Mogi das Cruzes. O sepultamento aconteceu na manhã desta segunda-feira, 17, no Cemitério da Saudade, em Mogi.

De acordo com o sogro da vítima, Rismeris Leite da Cruz, a agressões fraturaram costelas e causaram perfurações no pulmão. “Ele foi linchado pelos seis caras. Agora só esperamos justiça”, afirmou. O atestado de óbito apontou como causa da morte “insuficiência respiratória, edema agudo de pulmão e cardiomiopatia delatada”.

A Praia Branca é um lugar muito procurado por ecoturistas e campistas por ser isolada, acessível apenas por trilhas. A prainha foi descoberta recentemente pelos veranistas, e o fluxo de visitantes não é bem visto por moradores da vila próxima. Em redes sociais, internautas relatam casos de abordagens hostis e até agressões, mas há relatos também de assaltos. Em 2014, um casal teve os corpos pichados por moradores, após escrever “ABC” em uma pedra da orla. A jovem recebeu ameaças, após divulgar o caso em redes sociais.

A Secretaria da Segurança Pública do Estado informou que a morte de Kauan está em investigação pela delegacia do Guarujá. “Diligências estão em andamento para esclarecer os fatos e prender os autores do crime”, informou.

A prefeitura do Guarujá informou que é proibido instalar acampamentos, tendas e barracas nas praias da cidade, exceto com autorização municipal. Em razão da pandemia, está proibida a permanência na faixa de areia de todas as praias da cidade, sendo permitidas apenas caminhadas e atividades esportivas sem aglomeração. Ainda segundo a prefeitura, o Grupamento de Defesa Ambiental faz vistorias periódicas na Prainha Branca, que tem baixo histórico de ocorrências policiais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

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