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Brasil

Nossos filhos voltam de Wuhan para o Brasil na condição de pestilentos, lamenta pai

Famílias contam entraves vividos por parentes que estão em Wuhan, epicentro do coronavírus

Redação Jornal de Brasília

04/02/2020 9h46

Local medical workers hold a strike near Queen Mary Hospital as they demand the city close its border with China to reduce the coronavirus spreading, in Hong Kong on February 3, 2020. – Hong Kong has 15 confirmed cases of the disease, many of them brought over from the Chinese mainland where the epidemic began and has so far killed more than 360 people. (Photo by Anthony WALLACE / AFP)

O servidor público aposentado José Neves de Siqueira Junior, 58 anos, se emociona ao telefone ao falar sobre a condição do filho, Vitor de Siqueira, de 28 anos, brasileiro que está na cidade de Wuhan, na China, epicentro do surto do coronavírus. “Nossos filhos estão voltando na condição de pestilentos e obrigados a se retirar para um lugar distante, longe dos familiares”, diz ele.

Neves explica que seu filho e os outros deveriam passar por uma quarentena mais humanizada. “Nenhum dos brasileiros lá apresentou sintoma. Mas tudo bem, se essa é a orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) e se é o preço para que meu filho possa voltar a ser abraçado sem que a sociedade tenha medo ou preconceito, aceito”, afirma. “Ainda assim, deveria ser uma quarentena menor. Deveria ser feita voluntariamente, dentro da própria casa – com acompanhamento ou fiscalização de um imunologista da própria cidade.”

Neves conta também que se sentiu decepcionado com a condução da crise pelo governo brasileiro – diz até que ele e outros pais estavam dispostos a pagar o voo de volta se os filhos pudessem embarcar em uma companhia comercial. “Quando o governo fala em despesas, me sinto ofendido”, afirma ele, que também reclama de falta de apoio.

“Minha mulher e eu já estamos de malas prontas. Seja onde for, Amazônia, Acre, ou em qualquer outro lugar, estaremos perto do nosso filho”, diz o pai, de Belo Horizonte. Vitor estuda mandarim e, segundo o pai, pretende voltar à cidade chinesa quando tudo estiver resolvido “para retribuir o carinho de todos por lá”.

O administrador José Rubens Santos, 59 anos, diz estar apreensivo com os “aspectos burocráticos” que a repatriação dos brasileiros que se encontram na cidade de Wuhan, província de Hubei, na China, epicentro do surto do novo coronavírus, está ganhando.

Ele é pai da Indira Santos, 34 anos, estudante de pós-doutorado em Economia. Ela é uma das pessoas que está em Wuhan aguardando uma resolução do governo brasileiro. “Na melhor das hipóteses, o voo para a repatriação sairia do Brasil amanhã (terça-feira). Levando em conta o tempo para chegar na China, possíveis burocracias internas e o tempo da volta, eles só chegariam aqui no domingo. Cada demora, significa muitos dias de espera”, comentou o pai.

Santos garante não se preocupar com o período de quarentena que será imposto ao grupo tão logo ele desembarque no Brasil. “O importante é ela chegar no País dela, com a língua dela. Embora a China esteja agindo de forma muito profissional, por lá minha filha é apenas um grão de areia perdido na multidão. Fico imaginando ela sozinha de noite, sem assistência adequada, sem ninguém para recorrer”, afirmou.

O pai conta que a filha mora sozinha, em um apartamento localizado dentro do câmpus universitário. Segundo ele, Indira só tem permissão para sair quando é necessário comprar alimentos e, no caso dela, no mercadinho localizado dentro do próprio câmpus. “Os brasileiros viram os colegas de outros países sendo resgatados pelos seus governos. Nessa situação, o grupo ficou ansioso para sair também. Acho que deve estar sendo difícil para eles lidar com tanta ansiedade. Por isso, essa situação deve se resolver logo”.

Estadão Conteúdo

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