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Brasil

Negativa de estágio por ser mulher gera revolta nas redes sociais

“A Matsuda segue a política de não contratar mulheres para o departamento técnico. Infelizmente não posso te ajudar”, dizia a mensagem recebida em agosto pela estudante

Redação Jornal de Brasília

24/09/2020 13h02

Fonte: Reprodução

Pablo Rodrigo
Cuiabá, MT

A resposta de uma negativa de estágio para uma estudante de medicina veterinária, por parte de uma empresa de agropecuária de Cuiabá, ganhou repercussão nas redes sociais. O motivo: a aluna ser mulher.

“A Matsuda segue a política de não contratar mulheres para o departamento técnico. Infelizmente não posso te ajudar”, dizia a mensagem recebida em agosto pela estudante, que pediu o anonimato.

O email é assinado pelo médico veterinário Markus Vinicius, do departamento comercial da Matsuda, que é voltada para produção de sementes e nutrição animal.

A empresa o afastou de suas funções para apurar o caso e também para verificar como o email da estudante chegou até ele, já que não faz parte dos recursos humanos, relativo a contratações.

Em nota, o grupo Matsuda diz que prima pela diversidade na formação de seu quadro de funcionários, “não aceitando qualquer forma de discriminação. Entretanto, reconhecemos que houve uma falha de um dos nossos colaboradores, o que causou grande desconforto”.

Na última semana, com a repercussão do email da aluna nas redes sociais, mulheres fizeram críticas e questionaram a empresa na página da Matsuda Agronegócios no Instagram sobre o episódio.

Em uma das respostas, a Matsuda Agronegócios voltou a falar de limitação no campo para mulheres. “Cada região tem a sua política. Temos várias técnicas no nosso departamento, porém há regiões em que o atendimento é muito complicado em virtude de ter que andar com territórios com várias ocorrências perigosas e a empresa se preocupa em proteger as mulheres em áreas consideradas problemáticas. Às vezes tem que andar 200 a 300 km no meio do nada, de dia ou de noite. Existem diversas situações”.

Em outra resposta no Instagram, afirmou que várias mulheres trabalham na empresa, em todos os setores, e que está aberta a visitação para quem quiser conhecer a estrutura dela.

Procurada pela reportagem, em nota, a empresa disse que 41% de seus colaboradores são mulheres, tanto no quadro administrativo quanto no departamento técnico. “Repudiamos qualquer tipo de discriminação e salientamos que nossa diretoria é composta por oito pessoas, sendo que quatro são mulheres”, diz trecho do comunicado.

A estudante, autora do pedido de estádio, está no 7º semestre do curso e se diz decepcionada com a empresa, que sempre tomou como referência no mercado. “Eu me amparei nos amigos e família. O e-mail só viralizou porque uma amiga minha decidiu postar. Eu não tinha a intenção de expor ninguém”.

Logo após a repercussão, segundo a universitária, o mesmo representante da empresa enviou a ela um outro email, de que não havia se expressado de forma clara. “Esclareço que não é política da Matsuda o que você entendeu. A empresa concede oportunidades baseado na qualificação desejada para cada função, independente do sexo, cor ou religião desde que haja vaga para a função”.

A estudante afirma que possui experiência e tem qualificação suficiente para atuar na área em que se inscreveu. “Eu tenho experiência porque faço estágio desde o primeiro semestre, tenho cursos e toda a qualificação para trabalhar na área que eu estava buscando. Eu invisto nos meus estudos”.

A empresa tem como foco principal o agronegócio, que envolve a produção e comercialização de sementes para pastagens, suplementos minerais, rações para peixes, equipamentos agrícolas, inoculantes para silagem e saúde animal.

A desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho ainda é um problema crônico no país. As mulheres trabalham em média três horas por semana a mais do que os homens (somando-se trabalho remunerado, atividades domésticas e cuidados com outras pessoas), mas ganham apenas dois terços (76%) do rendimento deles, segundo o IBGE.

Em outra pesquisa também do instituto, publicada pela Folha, as mulheres em cargos de chefia chegam a ganhar um terço do salário pago para homens.

Procurado, o médico veterinário, Markus Vinícius não atendeu as ligações nem mensagens.

Ainda na nota, a empresa diz não compactuar com qualquer tipo de discriminação, sempre tendo como meta a “valorização do ser humano”.

“Desta forma, queríamos apresentar nosso pedido de desculpas quanto ao fato ocorrido e que estamos tomando as devidas providências para que fatos semelhantes não mais ocorram, e que estamos apurando as responsabilidades, quanto ao ocorrido”, finaliza o comunicado.

As informações são da Folhapress

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